Por Anna França | Duramente afetados pela pandemia, os shoppings estão driblando a crise que abala o varejo desde o início deste ano – e que resultou no fechamento de até 400 lojas de grandes redes – e vêm se recuperando por meio de mudança do mix de lojas e ampliação dos serviços. No primeiro trimestre, as vendas cresceram 6,8% sobre igual período de 2022, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), com base no Índice Cielo de Varejo em Shopping Centers (ICVS), retornando aos níveis pré-pandemia.
Em conferência com analistas, o diretor-presidente da Aliansce Sonae +brMalls, Rafael Sales, disse que num cenário mais restritivo, com juros acima de 13%, é natural que a saúde financeira de muitos lojistas esteja prejudicada. Porém, segundo ele, a maior parte dos produtos de shopping não depende de crédito. “As lojas que dependem de financiamento estão sofrendo, mas a gente vem direcionando essas áreas para outros tipos de oferta, como restaurantes, que estão indo super bem”, afirmou. O lucro líquido do grupo no primeiro trimestre – o primeiro resultado após a fusão das duas empresas, em janeiro – somou R$ 2,97 bilhões. No mesmo período de 2022, a Aliansce sozinha havia lucrado R$ 52,3 milhões. Em abril, as vendas no grupo subiram 7%.
A Iguatemi S.A. encerrou o primeiro trimestre com taxa de ocupação de 92,7%, “praticamente estável em meio à crise de varejistas”, informou. No balanço do segundo trimestre (ocupação de 92,4% e lucro de R$ 85,5 milhões, 86,6% acima de um ano antes), a empresa disse que a receita líquida do varejo subiu 19,7%. “Acreditamos que a Iguatemi continua bem posicionada às adversidades de mercado apresentadas no primeiro semestre, com um portfólio resiliente e de qualidade”, afirmou.
Para o consultor especializado em varejo Alberto Serrentino, os shoppings perceberam rapidamente a dificuldade dos lojistas e começaram a mexer no mix, abrindo espaços para áreas como serviços, alimentação, entretenimento e lazer. Uma questão que fica para o futuro é se essa mudança não comprometerá a receita, uma vez que o aluguel desses setores é mais barato que o do comércio. Serrentino lembra que crises são comuns no varejo, com a quebra de companhias como Mappin e Mesbla. “Isso, inclusive, abriu espaço para redes como Renner e Riachuelo, que se nacionalizaram em superfícies que não estariam disponíveis em outras circunstâncias”, explica.
Crises com quebra de companhias são comuns no varejo”
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, a situação do varejo deve continuar delicada. A recuperação está mais lenta do que o esperado, diz. “O setor vive há cinco anos numa montanha-russa e este ciclo de altos e baixos colocou todas as estratégias de gestão à prova”, afirma. Mas a crise não foi igual para todos. O varejo essencial, como supermercados e farmácias, passou meio ao largo dos problemas. E quem já tinha se antecipado conseguiu surfar na onda digital durante o lockdown. Redes que administraram melhor o caixa não sofreram tanto com o aumento dos juros. Vivara e Arezzo se deram bem, segundo Terra.
Mesmo assim, as sucessivas notícias de dificuldades das varejistas – como da Polishop, com fechamento de mais de cem lojas e processos judiciais por falta de pagamento de aluguéis – levanta preocupação. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), chegou a 107,5 pontos em julho. Mesmo que ainda na zona do otimismo, houve queda mensal de 1%, a terceira redução consecutiva, e de 12,7% na comparação anual. Os indicadores que medem a visão do varejista sobre o momento atual e as expectativas para os próximos seis meses seguem em queda, o que tem reduzido as intenções de investimento e contratação de funcionários. Entre os nove indicadores do Icec, oito tiveram variações negativas no mês passado e no total do ano.
Fonte: Valor Econômico