Os shopping centers que vêm sendo abertos no Brasil encaram uma dificuldade cada vez maior de atrair lojistas. Segundo um estudo feito pelo Ibope Inteligência, os vinte centros de compra abertos no ano passado operam com uma vacância média de 55% – ou seja, mais da metade das lojas estão vagas.
A situação difícil já tinha sido registrada em pesquisas anteriores do Ibope. Os shoppings abertos entre 2013 e 2015, por exemplo, vinham operando com 45% das lojas vazias. “A situação se agravou para os shoppings novos”, afirmou Márcia Sola, diretora de Varejo e Shopping do Ibope Inteligência, que participou do 2.º Simpósio Nacional de Varejo e Shopping, realizado pela Associação de Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), em Punta Del Este, no Uruguai.
Em números absolutos, a ociosidade que há nos shoppings novos, abertos após 2013, é de 900 mil metros quadrados, o que corresponde a 7,6 mil lojas vagas. Somada à desocupação que há nos shoppings consolidados, que abriram as portas até 2012, o número de lojas vazias no setor atinge 13,4 mil ou 1,46 milhão de metros quadrado. Nas contas da especialista, essa área desocupada equivale a 49 shoppings “fantasmas” de 30 mil metros quadrados cada.
Apesar do grande volume de lojas vazias, a pesquisa mostra que houve uma pequena queda, no último ano, na vacância entre os shoppings consolidados. Mas, segundo Márcia, ainda “não dá para dizer que o pior já passou”. No ano passado, a vacância, em número de lojas dos shoppings consolidados ficou em 8,5%, ante 9,1% em 2015, nas contas do Ibope. Mas, em área, o recuo foi maior: a ociosidade estava em 7,6% em 2015 e recuou para 5% em 2016.
Saídas. A especialista explica que os shoppings mais antigos estão conseguindo trazer lojas âncoras ou redirecionar os espaços vazios para outra finalidade, como áreas de lazer, alimentação e serviços. Mas ainda estão com dificuldade de alugar para lojas menores, que foram as mais afetadas pela crise.
Márcia observou que ocupar grandes áreas vazias com prestação de serviço, como Poupa Tempo, restaurantes, lazer e até eventos temporários tem sido uma alternativa. Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), concorda. “Rever o mix de lojas é o segredo”, afirmou.
Um sinal nítido de que essa estratégia começa a dar resultados já aparece na receita. O faturamento dos shoppings em fevereiro caiu 0,9% na comparação com o mesmo mês de 2016. No entanto, enquanto a venda de produtos deu marcha à ré, a receita com lazer cresceu 8% e com serviços, 2,5%. “Com a crise, houve uma aceleração na fatia dos serviços nos shoppings”, destacou Humai. Até pouco tempo atrás, a prestação de serviços e alimentação representava 8% do mix de lojas de shoppings. Hoje, é de 11%.
Flexibilidade. Para reduzir a vacância, Humai disse que os lojistas estão mais flexíveis nos aluguéis e nas luvas, que é a comissão pelo ponto de venda. Apesar do esforço dos empreendedores de dar a volta por cima, Márcia, do Ibope, acha que o futuro do setor é “um pouco preocupante”, mesmo quando a economia retomar o crescimento.
“Não tem mais ‘mosca azul’”, disse ela, fazendo referência a cidades que seriam mercados inexplorados pelo setor. Dos mais de 5 mil municípios existentes no País, todos os com mais de 300 mil habitantes têm shoppings. A alternativa, segundo ela, seria mudar os formatos, desenvolver shoppings de vizinhança, que têm muitas lojas de prestação de serviço. Na avaliação dela, o modelo de outlet é limitado, os shoppings de lazer não fecham a conta e os regionais não têm mais o mesmo poder atração do passado.
Fonte: Estadão Economia