Com a chegada do novo coronavírus no Brasil, os estabelecimentos comerciais tiveram que fechar as portas e buscar meios de se adequar a uma nova realidade. No caso dos shoppings centers as mudanças podem ser permanentes, como aponta um estudo da EY-Parthenon conduzido ao longo do mês de maio e divulgado com exclusividade pela EXAME.
Na pesquisa foram ouvidos mais de mil consumidores de diferentes regiões e classes sociais do Brasil, além de uma dezena de administradores de shoppings e varejistas. A iniciativa visa entender melhor as preocupações e os desafios nesse momento de transformação. “A relação do brasileiro com o shopping center é muito particular, ele sente falta dos centros comerciais, mas ao mesmo tempo quer mudança para voltar a frequentá-lo com segurança”, diz Roberta Tedesco, sócia de imóveis da EY.
Entre os entrevistados no estudo, 99% dos afirmaram ter visitado algum shopping no ano passado, sendo que 32% dos deles iam semanalmente e 23% quinzenalmente. O principal fator para a visita era a proximidade com a residência ou trabalho em 62% dos casos.
Entre os principais motivos que levaram os brasileiros aos shoppings estão as compras, alimentação e lazer.
Além da grande parte dos entrevistados ter visitado um shopping em 2019 é também a maioria que agora afirma sentir falta dos shoppings abertos, chegando a 57% — percentual que sobe para 72% quando os respondentes são das classes sociais C e D. Os motivos apontados para o sentimento são os mesmos que os levavam aos empreendimentos antes: compras, alimentação e lazer.
Durante a pandemia, 61% dos brasileiros afirmam ter buscado as lojas e restaurantes do shopping para comprar e consumir seus produtos via e-commerce. Mas, 73% não acreditam que os serviços online vão substituir os espaços físicos de lojas e restaurantes.
“Os varejistas e administradores também entendem que o mundo físico não será substituído, mas é preciso acelerar a transformação digital e oferecer serviços como compra antecipada online e retirada na loja. O Dia das Mães e a Páscoa indicaram novos caminhos”, afirma Tedesco.
A volta, porém, implica em mudanças e investimentos que devem impactar o futuro dos shoppings a longo prazo. As pessoas não pretendem, em geral, se submeter às aglomerações nas praças de alimentação, por exemplo. Sendo que 78% dos entrevistados vão escolher frequentar lugares mais arejados, mesmo não sendo o shopping de sua preferência. Entre as administradoras, 50% acreditam que shoppings mais abertos são tendência no longo prazo.
“No Brasil o shopping traz uma sensação de segurança em um ambiente mais controlado do que a rua, mas a população quer espaços mais arejados e com maior distanciamento social. A demanda vai impactar diretamente nas estruturas físicas nos próximos anos, especialmente nas praças de alimentação”, afirma Tedesco.
“Diversas iniciativas com plataformas digitais já haviam iniciado antes da Covid-19, mas com a pandemia, o marketplace dos shoppings tornou-se uma prioridade absoluta”, disse um chefe de finanças de uma administradora durante a pesquisa.
Na Multiplan, por exemplo, foi desenvolvida uma plataforma online para melhorar a experiência de clientes e lojistas com as vendas por delivery e drive thru, modalidade de compra que foi mantida nos 11 shoppings já reabertos. A plataforma de venda direta criada pela companhia está disponível nos sites e aplicativo dos shoppings. Mais de mil operações aderiram à ferramenta. “Vemos a operação multicanal como uma forma de usar os diferentes pontos de contato com nossos clientes para conhecê-los melhor”, diz Daniel Peres Chor, co-chefe de marketing, inovação e negócios digitais da Multiplan.
Já na concorrente brMalls, foi antecipado o lançamento do Delivery Center em alguns shoppings, que transforma o empreendimento em um centro de distribuição do produto. Atualmente 13 dos 30 da companhia trabalham dessa forma, e todos devem receber a novidade ainda este ano. Em maio, os shoppings da brMalls atingiram aproximadamente 100 mil pedidos via Delivery Center, com pedidos via whatsapp e outros canais.
Retomada
Atualmente, 76% shoppings já estão reabertos, segundo dados da Abrasce, com medidas de segurança que levam em consideração, por exemplo, a medição de temperatura do cliente, limite de pessoas dentro do empreendimento e uso obrigatório de máscaras. O impacto da covid-19 deixado nos últimos meses, porém, agrava a retomada.
Agora, mais do que cumprir protocolos, a pandemia demanda investimento em novas ideias, ampliação dos espaços físicos e também da forma de vender. O delivery center é um dos exemplos de como a digitalização e a praticidade tem guiado as decisões dos clientes.
A recessão economia, que tem estimativas como 15 milhões desempregados no Brasil até setembro, segundo a consultoria IDados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, também fará com que mais brasileiros vejam os shoppings como ponto de encontro, sem necessariamente comprar algo. Deste modo, os lojistas terão que ser mais criativos ao promover atrações únicas e opções de produtos para todos os bolsos.
Um levantamento da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping revelou que, em São Paulo, 32% dos lojistas relataram que o faturamento caiu 90% em relação ao período pré-pandemia. Para 41% dos lojistas o faturamento ficou reduzido em até 80% e 24% dos empresários registraram queda até 70%.
Apesar disso, segundo o estudo da EY, mesmo com a retração econômica batendo às portas, grandes varejistas e administradoras acreditam que o setor é resiliente e enxergam uma melhora a longo prazo. “As tendências de consumo foram aceleradas pela pandemia, quem conseguir se preparar e atender as exigências do cliente pode manter o negócio e sair na frente”, afirma Tedesco.
Fonte: Exame