Por Ana Luiza de Carvalho.
O faturamento dos shoppings somou R$ 191,8 bilhões no país no ano passado, alta de 20,5% no comparativo com 2021 e patamar estável em relação a 2019, antes da pandemia. Os números fazem parte do censo anual da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). A associação projeta avanço de 14,6% este ano, para R$ 219,8 bilhões.
Se a estimativa se confirmar, será um faturamento recorde para o setor, embora o percentual de crescimento esteja abaixo do registrado em 2022. A desaceleração reflete a base de comparação mais forte, segundo a Abrasce. No primeiro semestre do ano passado, o crescimento se acentuou em relação ao início de 2021, que havia sido fortemente afetado pela pandemia.
Segundo a associação, os resultados de 2022 superaram as expectativas. O tíquete médio aumentou e a taxa de conversão das visitas às lojas em vendas também.
O presidente da Abrasce, Glauco Humai, afirma que uma mudança no perfil de visitas aos shoppings explica a maior taxa de conversão. Os clientes tem ido mais aos empreendimentos com objetivos de compras específicos do que por mero passeio.
O fluxo visitantes em 2022 aumentou, mas ainda permanece em níveis inferiores aos números pré-pandemia — tendência que deve persistir neste ano. Em 2022, a média mensal foi de 443 milhões de visitas, avanço de 12% sobre um ano antes. Em 2019, a visitação havia atingido o pico de 502 milhões.
De acordo com Humai, o modelo de trabalho híbrido se refletiu em um menor número de visitas para almoços e happy hours durante a semana.
O censo aponta ainda que a taxa de vacância em 2022 foi de 5,6%, em linha com a média histórica registrada até 2019. A expectativa é de que o patamar fique estável em 2023.
No fim de 2022, a rede associada da Abrasce contava com 628 shoppings, após 8 inaugurações. A área bruta locável (ABL) dos associados alcançou 17,5 milhões de m2, alta de 1,6% ante 2021. Para 2023, a estimativa é que pelo menos 15 novos empreendimentos entrem em operação no país.
A Abrasce afirmou ainda que acompanha os desdobramentos do caso Americanas, que pediu recuperação judicial em 19 de janeiro. De acordo com Humai, até o momento não foi identificado impacto relevante para os associados, e a questão deve ficar mais clara “em três ou quatro meses”.
“Isso serve de alerta não só para shoppings, a gente não pode ficar de uma base pequena de varejistas, o setor costuma desenvolver novos varejistas também por isso”, observa.
Reforma tributária
Humai afirma que a Abrasce monitora 8 mil projetos de lei, dos quais pelo menos 6 mil estão no Congresso Nacional e em legislativos estaduais. Um dos temas sob o radar da entidade, que tem feito visitas periódicas à Brasília para conversar com parlamentares, é a reforma tributária.
“Vai ser uma queda de braço, como sempre é, entre setores. O setor de comércio e serviço é totalmente desestruturado. A Abrasce não necessariamente dialoga e age com a Alshop [Associação Brasileira de Lojistas de Shopping], com a CNC [Confederação Nacional do Comércio] e com as Câmaras de Dirigentes Lojistas. Essa desarticulação do nosso segmento faz com que a gente perca força”, afirma
Humai afirma ainda que a Abrasce deve propor nos próximos dias a criação de uma pasta no Executivo Federal dedicada ao setor de comércio e serviços. Para este ano, a expectativa é de que o consumo siga aquecido, apesar das incertezas fiscais e políticas que sustentam a alta taxa de juros. “O governo Lula é caracterizado pelo consumo das famílias, apesar do maior endividamento delas. Temos um otimismo com cautela”, afirma Humai.
Fonte: Valor Econômico