Dos 10 grandes shoppings de Manaus, pelo menos dois dizem estar em sua quase totalidade de funcionamento
Vitrines trocadas por tapumes têm sido a realidade de grande parte dos shopping centers brasileiros. Na capital do Amazonas, para evitar que os centros comerciais se tornem empreendimentos fantasmas, a saída é ofertar serviços e outras atrações. O cenário é mais preocupante para os empreendimentos novos que ainda buscam consolidar os nomes.
Dos 10 grandes shopping de Manaus, pelo menos dois dizem estar em sua quase totalidade de funcionamento, contrariando um estudo realizado entre Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) e Associação dos Lojistas de Shoppings (Alshop) que aponta que em centros de compras consolidados e abertos até 2012, a vacância é de 9,1%, o dobro da média histórica. Já nos shoppings novos, o número de lojas fechadas é de até 45%. Indo na contramão da pesquisa, o mais antigo centro comercial de Manaus tem sua maioria de lojas funcionando.
De acordo com a presidente da Associação de Lojistas do Amazonas Shopping Center (Alasc), Mercedes Braz, são apenas três empreendimentos fechados em um universo de 250 lojas. “Até o momento não temos a preocupação de nos tornarmos um shopping fantasma. A situação sempre foi preocupante, mas conseguimos manter uma boa média sempre. As lojas fechadas são aquelas que se encontram em negociação, o que significa que ainda há quem invista aqui”, disse.
De acordo com Mercedes, o maior índice de lojas fica nos empreendimentos mais novos que esperam pela consolidação da marca. “Além de novos, abriram em épocas de crise. Dois deles iniciaram atividades nos fins de 2014, quando a atual crise econômica e política se instalava. Estes tiveram alguns meses de sucesso, mas hoje são pontos de encontro, com poucos negócios”, conta a presidente da Alasc, atestando a pesquisa.
Para Mercedes aproveitar o fluxo dos corredores lotados é uma das saídas. “É preciso oferecer um mix de serviços que aliados às compras, podem fazer os shoppings se manterem abertos. Temos que pegar aquele que vem pagar uma conta, fazê-lo entrar na loja e comprar. Incentivar a frequência com atrações para toda a família. Mas muitos empreendimentos não têm conseguido nem assim. É preocupante”, fecha.
Apostando em serviços
Para o corretor do Shopping Cidade Leste, Fred Oliveira, a frequência e os negócios do centro de compras são mantidos por usar do mix como atrativo. “Trouxemos para dentro do shopping serviços como laboratórios, agência bancária, casa lotérica, agência de turismo, posto de atendimento do Detran-AM e um PAC (Pronto de Atendimento ao Cidadão). Apostar em serviços dobrou o fluxo, garantindo bons negócios. Como novidade, teremos um cartório instalado aqui, o que será um atrativo a mais”, garante Oliveira.
Inaugurado em 2013, o Shopping Cidade Leste comemora o crescimento e a criação de uma cultura de centro de compras, em uma área de grande crescimento populacional e econômico. Localizado na zona Leste de Manaus, região que, em conjunto com a zona Norte, forma a macro-zona conhecida simplesmente como “zona de crescimento”, o Cidade Leste tende a expandir, assim como a região onde se instalou.
Por estar encravado em uma área de grande movimentação a concorrência com este comércio mais tradicional foi a saída. “Havia a carência de serviços e estamos nos especializando em oferecer estes. Não ‘brigamos’ com o comércio do bairro e até em nossas dependências evitamos a concorrência direta, inclusive nos quiosques, sempre procurados por interessados em investir”, afirma o corretor.
Possíveis causas da vacância
O fim da década de ouro do varejo e a construção desenfreada de novos empreendimentos são apontados pela atual situação, conta um dos responsáveis pelo estudo, Fábio Caldas, do Ibope. “Mesmo se a economia não tivesse entrado em parafuso, nós teríamos shoppings com problema de vacância”, disse.
Segundo Caldas, entre 2000 e 2015, 259 novos shoppings foram abertos. Muitos foram desenvolvidos por empreendedores que não eram do setor, atraídos pelo desempenho espetacular do varejo alcançado entre 2004 e 2013, um crescimento de 7,5% ao ano, segundo o IBGE. Em 2014 e 2015, o avanço foi bem menor: 2,2% e 3%, respectivamente.
Movimentação apenas a passeio nos shopping
Segundo a superintendente da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), Adriana Colloca, a alta movimentação de pessoas nos shoppings de Manaus, apenas ‘a passeio’ também é registrada nacionalmente. A ideia é fazer da visita ao shopping uma experiência agradável que transforme o visitante em comprador. “É uma tendência nacional facilmente percebida, que em Manaus se justifica pelo calor intenso. Cabe ao empreendedor promover campanhas de marketing que atraiam este visitante. Por isso as exposições, promoções e outras ações nos corredores e saguões,” disse a superintendente da entidade.
O atual cenário macroeconômico não permite que novos empreendimentos sejam construídos, disse Adriana Colloca. “Tivemos novos shoppings inaugurados em Manaus nos últimos anos, mas estes foram pensados e iniciados em um outro cenário, de maior estabilidade econômica e com a chegada da ‘classe C’ ao mercado. Nacionalmente, o momento atual não é favorável, muitos dos que foram pensados para funcionamento em breve, foram interrompidos ou estão sendo reestudados,” ressalta.
A reportagem do Jornal do Commercio tentou contato com representantes dos demais shoppings de Manaus, mas não obteve resposta