A expansão dos shoppings centers no formato multiuso confirma a crença popular de que unir o útil ao agradável não só é desejável como é também excelente negócio. Complexos que reúnem comércio diversificado com serviço e lazer – aqui incluídos cinemas, hotéis, escritórios, centro médico, residências e até faculdades – já representam um terço do total dos shoppings brasileiros. Um grupo de empreendedores planeja anexar um hospital ao centro de vendas apostando que visitas e pacientes podem compartilhar o estacionamento do shopping, além da oportunidade de fazer compras.
O shoppping-hospital não passa ainda de uma ideia do grupo Ancar Ivanhoe para um dos seus empreendimentos no Sudeste do país. Mas o complexo multiuso, que se iniciou em 1972 com as 400 salas comerciais no Shopping Conjunto Nacional, de Brasília, hoje é adotado por 178 centros de compras do país. Na esteira do crescimento multiuso, estão as chamadas lojas pop ups, motor para alavancar não só as marcas já existentes, que têm como objetivo testar produtos, tendências e mercados, mas para as digitais que precisam entrar no mundo físico com um risco menor ao evitar longos contratos. Ocupando pequenos espaços, as pop ups geralmente se instalam estrategicamente nos corredores movimentados desses shoppings.
“Essa é uma tendência do varejo. Temos espaço multiuso que vão de estádios de futebol a shoppings. São novas alternativas de lidar com espaços disponíveis e trazer soluções e economia de tempo para o consumidor”, diz Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. E as lojas pop ups, ressalta, incluem desde o varejo digital que deseja testar seu modelo de produto até aquele que se aproveita de períodos de sazonalidade para complementar sua atividade. “Tudo isso está ligado à questão de o varejo oferecer uma experiência diferente para o consumidor”, resume.
Para Luiz Marinho, sócio diretor da GS&BW, empresa de consultoria especializada em shopping center, as pop ups estão ganhando impulso em todo o mundo. “A indústria está em um forte processo de desintermediação buscando contato direto com o consumidor final”, observa. Do seu ponto de vista, a nova estratégia “é excelente para o shopping center, à medida que proporciona um ar de novidade relevante ao centro de compras”. “Nem todos os shoppings têm estrutura orientada para esse tipo de loja, mas como há um aumento na vacância, por conta da crise econômica, os shoppings estão se tornando mais criativos no aproveitamento dos espaços”, emenda.
Já o complexo multiuso não é um formato novo, embora venha ganhando muito espaço na última década. Aqueles que estão fora desse padrão e dispõem de espaço físico suficiente, estão se tranformando em multiuso, segundo Marcelo Carvalho, co-presidente da Ancar Ivanoe. Entre seus empreendimentos, seis deles estão no processo de expansão nessa direção. “O complexo multiuso proporciona fluxo extra ao shopping, valoriza a área de gastronomia e é uma renda extra operacional. É mais uma forma de rentabilizar o prédio”, afirma.
Em 2016, a Ancar Ivanhoe inaugurou a expansão do Iguatemi Porto Alegre – onde é sócia do Grupo Iguatemi – contemplando torres comerciais e lajes corporativas e adequando um dos shoppings mais antigos do país a um complexo multiuso, seguindo a tendência do mercado mundial. “As pessoas querem, cada vez mais, resolver sua vida em um único lugar. Isso gera muita conveniência ao consumidor, que tem cada vez mais menos tempo”, diz.
Segundo Marinho, a combinação ainda mais frequente é a de shopping com escritórios. “As pessoas hoje preferem trabalhar próximo ao local onde estão as lojas e os serviços. E, se possível, que possam morar nas proximidades”, comenta. De acordo com dados da GS&BW, dos 178 shopping centers no formato multiuso, 61% possuem condomínio empresarial, outros 28% já operam com hotéis, 27% possuem centro médico, 20% têm faculdades e 16% deles acomodam prédios residenciais e 41%, outros tipos de serviços. “É bom frisar que um mesmo complexo multiuso pode oferecer vários tipos de serviços ou usos”, destaca.
Para Adriana Colloca, superintendente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), trata-se de uma relação de simbiose. “O shopping gera conveniência para os prédios, que, por sua vez, geram fluxo de visitantes aos shoppings”, afirma.
Uma joint venture entre a TRX e a Hillback, voltada para o financiamento e desenvolvimento de empreendimentos, já direcionou dois de seus projetos ao formato multiuso. “Acreditamos que o multiuso será o futuro para os terrenos maiores, onde combinamos não só o projeto industrial e comercial, mas toda uma sinergia”, diz Fernando Ferreira, sócio da TRX Retail e também CEO e fundador da Hillback. “Como os terrenos estão cada vez mais caros é necessário utilizar ao máximo o potencial construtivo”, completa.
Os dois projetos da TRX serão erguidos em Campinas (SP), próximo ao Aeroporto de Viracopos. “Combinamos uma série de empreendimentos envolvendo um power center, office park, um conjunto de hotéis e um centro de exposição. Trata-se do Multicenter Viracopos”, conta. Os investimentos, segundo Ferreira, estão estimados em R$ 700 milhões.
Fonte: Valor Econômico