Muito se especulou que, com o advento da internet e comércio mobile, os shoppings seriam deixados de lado. Aqui, cinco mitos sobre essa especulação são derrubados.
Há algum tempo, quando o ecommerce começou a tomar força, circularam em várias revistas de negócios afirmações de que o varejo físico estava com os dias contados. Que a loja iria morrer, os shoppings iriam morrer – suas estruturas seriam transformadas em depósitos, prédios corporativos, hotéis e até, pasme, prisões.
Mas essas previsões apocalípticas já aconteceram antes. Por exemplo, quando os primeiros malls surgiram especulou-se que as lojas de departamento morreriam, mas não, elas se reinventaram e até passaram a atuar como âncoras em seus pretensos concorrentes. Nos Estados Unidos, quando as vendas por catálogo e telefone caíram no gosto dos americanos também se cogitou que as lojas físicas seriam relegadas. Balela.
Agora, os argumentos se somam: crise econômica, comportamento de compra dos millenials e ecommerce estariam afastando os frequentadores dos shoppings. Scott Wolstein, CEO da Starwood Retail Partners, empresa de shoppings americana, não concorda. Ele, que possui trinta anos de experiência nesse setor, escreveu um artigo para a revista Shopping Center Business em que derruba cinco mitos atrelados à falácia. “Nem todo mundo está em casa sentado esperando seu pacote da Amazon”, brinca ele. Confira:
Mito: Ninguém mais compra em shopping
Fato: Se isso é verdade, seria porque estes shoppings estão muito cheios? Um estudo recente do International Council of Shopping Centers (ICSC) mostrou que aproximadamente ¾ dos americanos, cerca de 184 milhões de pessoas visitaram um shopping no primeiro trimestre de 2016 — e era inverno rigoroso.
Aqui no Brasil, dados oficiais da Abrasce dão conta de um número crescente no tráfego ano a ano. Se em 2010, 329 milhões de pessoas visitavam um shopping ao mês, este número já chega em 444 milhões em 2015 – e em 2016, será ainda maior.
Mito: Mesmo quando o consumidor visita um mall, ele só compra o que precisa e vai embora rápido
Fato: Errado de novo segundo a pesquisa do ICSC. Respondentes disseram que na metade destas visitas, compraram alguma coisa e aproveitaram para fazer uma refeição.
No Brasil, o faturamento do setor aumenta a cada ano: em 2015, segundo dados da Abrasce, atingiu R$ 151,5 bilhões – em 2010, era R$ 91 bilhões.
Mito: Jovens preferem e-commerce do que shopping centers
Fato: Os millennials desejam interação social – especialmente nos shoppings. Dados de uma pesquisa recente da AT Kearney confirmam isso: três em cada quatro entrevistados, entre 18 e 34 anos, haviam visitado um shopping center nos últimos 30 dias, número mais alto que qualquer outro grupo etário.
A maioria dos compradores digitais citam a necessidade de ver, tocar e experimentar uma peça como fatores de decisão para preferirem uma compra em loja física – a possibilidade de sair com o item comprado também é um fator apreciado.
O e-commerce, na verdade, tornou-se um aliado das compras físicas, permitindo a comparação, maior conhecimento do produto etc – afinal 93% de todas as compras feitas nos EUA ainda ocorrem nas lojas físicas. Enquanto isso, alguns varejistas 100% online como Warby Parker, Bonobos e até Amazon, estão abrindo lojas pois perceberam que precisam usar todos os canais de distribuição para melhor servir os consumidores.
Aqui no Brasil, pesquisa da Abrasce “Shopping do Futuro” revelou que os jovens continuam frequentando o mall, mas esperam que este se reinvente com maior ênfase no lazer e espaços de convivência.
É exatamente a visão de Wolstein. “Os shoppings devem ser hubs de convivência, especialmente aqueles localizados em cidades menores que se apoiam na comunidade do entorno”. Pesquisa do ICSC revelou que em malls deste tipo, o fluxo aumentou 27% de 2011 a 2016 – para muitas comunidades, o shopping é o principal ponto de encontro.
Mito: Os EUA está saturado de lojas
Fato: É mais correto dizer que a dispersão das lojas é desproporcional. A metragem quadrada dos shoppings subiu 2,4 % entre 2010 e 2016. Embora este seja um ritmo mais lento de crescimento do que na história recente, ele mostra que o mercado cresceu. É certo que muitos fecharam pois não acompanharam ou reagiram às mudanças de seu entorno, o que acontece em várias indústrias. “É crucial estar em sintonia com as mudanças do público”, diz Wolstein. Enquanto isso, muitos desenvolvedores agora estão demolindo e redefinindo objetivos para seus espaços, encontrando novos usos, incluindo restaurantes, centros de fitness e, sim, usos não-comerciais. Isso beneficia todo o setor.
Mito: Ninguém está construindo shoppings
Fato: Embora seja verdade que apenas um shopping de mais de 1 milhão de pés quadrados foi construído nos últimos seis anos nos Estados Unidos, temos visto mais de 400 novos projetos entre 100.000 pés quadrados e 1 milhão de pés quadrados durante o mesmo período. “Esta é uma indústria madura, em evolução, e há muitas oportunidades”, reforça Wolstein.
Aqui no Brasil, segundo dados oficiais da Abrasce, 14 shoppings foram inaugurados desde janeiro – mais sete estão previstos até dezembro. Em 2015, o Brasil recebeu 18 novos empreendimentos, e para 2017 a previsão é que 29 abram suas portas em várias regiões do País.
“O shopping estará vivo e bem enquanto nós na indústria continuarmos a adaptar formatos e ofertas de acordo com o novo estilo de vida”, finaliza Wolstein.