Após a Sea, holding que controla a operação, registrar prejuízo, a Shopee ampliou em dois pontos percentuais a comissão cobrada dos sellers em sua plataforma no Brasil
Por Moacir Drska
No último dia 16 de agosto, quando divulgou seu balanço do segundo trimestre, a Sea, grupo de Cingapura, decidiu suspender a projeção anual de receita para a Shopee, seu braço de comércio eletrônico. Até então, a empresa previa que a unidade faturasse entre US$ 8,5 bilhões e US$ 9,1 bilhões em 2022.
A medida foi tomada em função do cenário macroeconômico cada vez mais incerto e, na esteira da decisão, o grupo ressaltou que estava modificando proativamente suas estratégias para focar ainda mais em eficiência e na rentabilidade da divisão.
Nesta terça-feira, 6 de setembro, exatamente três semanas depois desse anúncio, um relatório do Goldman Sachs traz à tona uma das medidas tomadas nessa direção pela Shopee naquele que é considerado um dos principais mercados para a operação: o Brasil.
Segundo o banco americano, desde o dia 1º de setembro, a Shopee ampliou o take rate – taxa de intermediação nas transações – cobrado dos vendedores de sua plataforma no mercado brasileiro. No plano padrão, a comissão passou de 12% para 14%, enquanto no plano premium, a mudança foi de 18% para 20%.
“Essa alteração de preço ocorre em meio a mudanças semelhantes de rivais no mercado brasileiro e ao foco da Sea na preservação do capital”, destacaram os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, do Goldman Sachs.
O trio destacou outras mudanças promovidas pela Shopee no País com o objetivo de melhorar o nível de serviço na plataforma. Uma das novidades compreende o seu programa voltado aos principais vendedores, que determina quais sellers aparecerão em destaque na pesquisa por determinado produto ou categoria.
A empresa lançou um recurso que determina a manutenção de uma taxa de produtos não enviados inferior a 2%, para que o vendedor siga em posição de destaque. Ao mesmo tempo, quem registrar taxas acima de 5% não terá mais seus produtos exibidos nas pesquisas. Os itens ficarão disponíveis apenas na loja do vendedor.
Essas medidas têm como pano de fundo o resultado apurado pela Sea no segundo trimestre. No período, o grupo reportou um prejuízo líquido de R$ 569,8 milhões, o que representou um crescimento de 77,4% sobre a perda de US$ 321,1 milhões divulgada no mesmo intervalo, um ano antes.
Entre abril e junho, o grupo registrou uma receita de US$ 2,94 bilhões, alta anual de 29%. Na divisão de comércio eletrônico, a receita cresceu 75,6%, para US$ 1,75 bilhão, com um volume bruto de mercadorias (GMV) de US$ 19 bilhões, um salto de 27,2%.
O prejuízo operacional da Shopee, no entanto, cresceu de US$ 579,8 milhões, há um ano, para US$ 648,1 milhões no segundo trimestre. Já no Brasil, a empresa, que não divulga o resultado consolidado da operação, reportou alta anual de receita de 270%.
A Shopee desembarcou no Brasil em 2019 e, desde então, vem ganhando terreno no mercado local. Em março deste ano, o Goldman Sachs estimou, em outro relatório, que a companhia havia alcançado uma participação de 5% no e-commerce brasileiro em 2021, e previu que a empresa provavelmente encerraria 2022 com uma fatia de “dígito alto” no País.
O status alcançado pela Shopee foi acompanhado, porém, de acusações de que a plataforma vende produtos falsificados ou sem nota fiscal. Na trilha dessas denúncias, em julho, os centros de distribuição da empresa em São Paulo foram alvos de uma fiscalização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Como resultado, a Anatel informou que apreendeu cerca de 2 mil produtos para telecomunicações não homologados, com valor estimado de R$ 53 mil. A lista incluiu itens como celulares, carregadores de celular, smartwatches, caixas de som bluetooth e fones de ouvido.
Antes da visita às instalações da Shopee na região metropolitana de São Paulo, a agência já havia fiscalizado centros da Amazon e do Mercado Livre apreendendo, respectivamente, 5,7 mil e cerca de 10 mil produtos nessas mesmas condições.
Os centros de distribuição sinalizam, no entanto, que a Shopee e a Sea seguem apostando no Brasil. Também em julho, a empresa anunciou a abertura de cinco novas unidades no País, ampliando sua malha local para seis estruturas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Na época, a empresa informou que tinha mais de 150 vagas abertas em sua área de logística.
As contratações, no entanto, parecem ser, no momento, outro ponto de atenção na plataforma. Segundo uma reportagem publicada nesta terça-feira, 6 de setembro, pela agência Reuters, a Shopee cancelou dezenas de ofertas de postos de trabalho em sua operação global.
Segundo fontes ouvidas pela Reuters, a decisão teria sido tomada apenas alguns dias antes dos profissionais contratados começarem em suas funções. Procurada, a Sea confirmou que havia suspendido algumas das contratações recentes, mas não confirmou quantas vagas haviam sido excluídas nesse processo.
O fato é que a medida foi precedida por outros movimentos recentes do grupo, que reduziu seus quadros em países como Indonésia, Tailândia e Vietnã no decorrer do ano.
No caso específico da Shopee, a Sea encerrou as operações da plataforma na Índia, em março, e na Espanha, em junho, além de promover cortes no braço de pagamentos ShopeePay e no de delivery de alimentos, o ShopeeFood.
As ações da Sea fecharam o pregão de hoje cotadas a US$ 58,42, um recuo de 2,52%. No ano, os papéis da companhia acumulam uma desvalorização próxima de 74%. A companhia, que chegou a valer mais de US$ 200 bilhões em outubro de 2021, agora está avaliada em US$ 32,8 bilhões.
Fonte: Neofeed