Em março do ano passado, quando as empresas de e-commerce de moda Shop2gether e OQVestir decidiram se unir sob o guarda-chuva do grupo Icomm, era esperado que apenas uma marca fosse prevalecer no mercado. Em processos como esse, é natural que a mais forte se sobressaia sobre a outra. Mas as empresas fizeram diferente. As plataformas seguiram independentes. O Shop2gether manteve o seu diferencial de curadoria do segmento premium, com uma equipe de consultores como Costanza Pascolato e a modelo Camila Espinosa, enquanto o OQVestir aposta numa seleção para mulheres jovens e descomplicadas, além de coleções exclusivas, como a assinada pela modelo Isabella Fiorentino. O que eles passaram a compartilhar foi a infraestrutura operacional, tanto a logística como o centro de distribuição de 6 mil m2 na cidade mineira de Extrema, de onde saem 60 mil peças por mês. “A gente brigava pelos mesmos fornecedores, pelo mesmo espaço e pelos mesmos clientes”, diz Eduardo Kyrillos, CEO do Icomm e criador da Shop2gether. “Mas o negócio ainda precisa estabilizar e amadurecer.”
Os primeiros sinais dessa estratégia devem começar a aparecer nos resultados deste ano. Com uma base de 400 mil clientes, a união operacional ajudou a reduzir os custos em 30%, o que vai fazer a geração de caixa ficar, pela primeira vez, positiva. No ano passado, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) registrou uma perda de R$ 5 milhões. Esse desempenho será impulsionado pela receita líquida, que deve atingir R$ 185 milhões, um crescimento de 12% sobre os R$ 165 milhões de 2017. “É normal essas oscilações pelas mudanças internas e pelo cenário econômico”, diz o executivo. Em cinco anos, o grupo quer atingir receita de R$ 500 milhões.
Hoje, as plataformas possuem um portfólio de 300 marcas, sendo 100 delas exclusivas, como Animale, Ricardo Almeida, Mixed, Iorane, entre outras. Esse é um dos segredos que garantem a competitividade do grupo que atua no mesmo segmento da plataforma Farfetch, uma companhia de comércio eletrônico criada em Londres pelo português José Neves, em 2007, com forte presença no Brasil. Esse mercado movimentou R$ 4,1 bilhões no ano passado, uma expansão de 2,6%, segundo a Euromonitor International.
As grifes também estão de olho nesse tipo de venda e passaram a colocar seus produtos no e-commerce. Neste ano, a Richemont comprou a italiana Yoox Net-A-Porter e a Louis Vuitton lançou seu próprio site multimarca, o 24 Sevres. “Varejistas como a Yoox Net-A-Porter e a Farfetch, bem como as lojas de departamento de alta qualidade, também estão atualizando sua capacidade de comércio digital”, diz Michelle Grant, chefe de pesquisa de varejo da Euromonitor. As empresas apostam, cada vez mais, que as roupas serão escolhidas em um clique, embaladas e entregues na porta do consumidor.
Fonte: IstoÉ Dinheiro