Por Tamires Vitorio e Isabela Fleischmann | O plano da Shein de produzir no Brasil a maior parte de suas peças de vestuário vendidas aos consumidores do país começou a avançar nos últimos meses. A gigante chinesa do varejo online fechou acordos com 200 fábricas para produzir roupas em 12 estados desde que anunciou em abril os planos de produção nacional, segundo Marcelo Claure, o presidente do conselho da Shein para a América Latina.
Em entrevista à Bloomberg Línea durante o evento Digitalks nesta quarta-feira (23) em São Paulo, Claure reforçou que a empresa tem o compromisso de chegar a 2.000 parcerias com fábricas como fornecedoras no Brasil nos próximos três anos. Para Claure, é um “absurdo” que o Brasil tenha que enviar matéria-prima para que o produto seja feito na China quando poderia ser fabricado localmente.
“No Brasil há o product-market-fit com a Shein, os brasileiros gostam da moda e dos produtos. Tivemos um crescimento espetacular, a Shein Brasil tem 45 milhões de clientes”, disse Claure, sem especificar como o cálculo foi feito. “O brasileiro gosta da moda a um bom preço”, afirmou.
Expansão no Brasil
A Shein pretende investir, inicialmente, R$ 750 milhões para fornecer tecnologia e treinamento aos fabricantes para que possam “atualizar seus modelos de produção tradicionais para o que funciona sob demanda da Shein”, dentro do segmento conhecido como fast fashion.
Os planos foram anunciados no momento em que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu a cobrança de impostos mais elevados sobre produtos importados do exterior, como os vendidos pela Shein.
A Shein atua no Brasil desde 2020 e, agora, quer expandir a cadeia de suprimentos local e, até o final de 2026, pretende que cerca de 85% das vendas no Brasil sejam provenientes de empresas locais, incluindo fabricantes e vendedores.
O presidente do conselho da Shein na América Latina, Marcelo Claure, disse que a “a Shein é uma empresa tão brasileira quanto as varejistas locais”. Fundada em 2012 pelo empresário chinês Chris Xu, a empresa opera em mais de 165 países.
A respeito da ideia inicial do governo de taxar produtos importados, Claure disse que “não tem lógica um brasileiro viajar, fazer compras e trazer para o Brasil e não cobrar imposto e, em vez disso, taxar a Shein”.
O governo Lula recentemente zerou a alíquota de imposto de importação sobre produtos importados por pessoas físicas no valor de até US$ 50. A medida, que beneficia varejistas estrangeiras como a Shein, a Shopee e o Alibaba, foi criticada por empresas varejistas que vendem produtos fabricados no país, que pagam uma série de tributos e encargos trabalhistas.
Shein compra parte da Forever 21
Em paralelo aos esforços de produzir peças no Brasil, a varejista chinesa anunciou nesta quinta que fará uma “parceria estratégica” com o Grupo SPARC Holdings II LLC, dono da empresa de moda norte-americana Forever 21, com o objetivo de “atender à demanda nos Estados Unidos e em outros países ao redor do mundo por moda acessível e de qualidade”.
Segundo o acordo, a Shein adquire uma participação de aproximadamente um terço do Grupo SPARC, em uma joint-venture que inclui os grupos Authentic Brands e Simon Property. O grupo americano, por sua vez, passa a ser um acionista minoritário da varejista.
A Shein ainda afirmou que a “parceria também espera expandir o alcance da Forever 21, levando ainda mais variedade de produtos aos clientes da Shein — marca com, atualmente, 150 milhões de usuários no site e no aplicativo”.
Também uma marca de fast fashion, a Forever 21 abriu lojas em shoppings no Brasil em 2014, mas fechou todas as unidades em território brasileiro até o ano passado, citando problemas como custos altos e concorrência considerada desleal com varejistas asiáticas, como a própria Shein.
— Com colaboração de Ana Carolina Siedschlag
Fonte: Bloomberg Linea