O setor calçadista, que reúne 11,4 mil empresas e movimentou no ano passado R$ 28,4 bilhões, decidiu juntar esforços para modernizar as indústrias, de forma a atender novas demandas dos consumidores.
“É fundamental mudar a mentalidade dos empresários. O consumidor está mais consciente e informado, não consome mais por consumir. O desejo de ter deu lugar ao desejo de acesso às coisas, mas sem a posse. O setor precisa considerar essas mudanças para desenvolver modelos de negócios mais adequados”, afirma Roberta Ramos, gestora de projetos da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Roberta diz que os consumidores estão mais interessados em produtos que tenham mais utilidade, com o caso dos calçados femininos que permitem trocar o salto, e tênis que podem trocar de cabedal (parte superior do calçado). E também demonstram interesse em desenvolver seus próprios produtos. “Daqui a alguns anos, a impressão 3D estará acessível para todos, será que o consumidor vai imprimir o sapato em casa? Se fizer isso, de que maneira a indústria vai competir?”
Para discutir questões como essas, a Abicalçados oficializou o Projeto Future Footwear, em parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos para os Setores do Couro, calçados e Afins (Abrameq). A meta é elevar a competitividade e a rentabilidade do setor, com melhoria de processos industriais, inovação e rastreabilidade dos produtos.
O projeto será desenvolvido, em princípio com três ações. Uma delas consistirá na formação de um comitê para discutir metas para a cadeia produtiva de calçados, com encontros regulares. Esse comitê terá o apoio de uma consultoria, que vai elaborar um estudo de diagnóstico do setor. As entidades também farão rodadas de negócios para facilitar a integração entre fabricantes de calçados e fornecedores de matérias-primas. Sob o guarda-chuva do projeto também serão feitos concursos para premiar as melhores propostas de negócios de estudantes de graduação e pós-graduação na área calçadista.
Ilse Guimarães, superintendente da Assintecal, lista como interesses das indústrias de componentes aumentar produtividade e rentabilidade, ampliar a adoção de processos automatizados e desenvolver materiais mais leves, resistentes e funcionais. “Prevejo que o consumidor vai fazer compras cada vez mais personalizadas e vai exigir mais rapidez. O grande desafio é como tornar os componentes disponíveis para os fabricantes com a velocidade que vão precisar”, afirma. Ela diz que há poucas indústrias no setor com alto índice de automação. E que há espaço para oferecer às indústrias de calçados produtos mais elaborados. “Antes um sapato tinha 36 peças, hoje tem duas ou três. O cabedal, por exemplo, pode ser entregue pronto para a indústria de calçados, em vez de entregar a peça de produto sintético ou tecido. Mas isso exige automação”, diz.
José Fernando Bello, presidente executivo do CICB, também considera como desafio para as indústrias de couro vender mais produto manufaturado no Brasil. “Hoje o setor exporta 75% da produção de couro. O correto seria manufaturar aqui e exportar calçados. Estamos nesse projeto para tentar melhorar tecnologias e a produtividade do setor como um todo”, diz Bello.
Marlos Schmidt, presidente da Abrameq, diz que as indústrias que fabricam máquinas para o setor de calçados têm condições de automatizar boa parte dos processos fabris e que é preciso identificar as prioridades das calçadistas para desenvolver novos equipamentos. “Também seria importante que houvesse medidas de estímulo governamental para o desenvolvimento de máquinas”, disse. Sem citar números, Schmidt informou que a maioria das máquinas usadas nas fábricas de calçados brasileiras são de origem nacional.