Eletroeletrônicos, roupas e móveis tendem a ter compras adiadas, enquanto itens essenciais podem encontrar dificuldade de reposição. Especialista recomenda fortalecer a presença digital das lojas. Lojas de roupas podem sofrer com a queda das vendas (Foto: Pexels) Incerteza é a palavra que rodeia tudo nas próximas semanas – e talvez meses, em todo o mundo. Esse é um termo que causa mais incomodo ao mercado do que qualquer outro, na visão do presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra. As maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, são as praças brasileiras mais afetadas pela contaminação do Covid-19, doença transmitida pelo novo coronavírus. Com isso, os respectivos governos tomaram ações para inibir o contágio e que devem impactar diretamente no comércio. Em São Paulo, o governador João Doria recomendou o fechamento de shopping centers – principais polos de muitos varejistas. A decisão foi acatadas pelos empreendimentos. “Esse é um dos fatores de incerteza. Não dá para falar quanto vai cair o varejo esse ano, sem saber quanto tempo as lojas ficarão fechadas”, diz o especialista. Na noite de ontem (18), o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, determinou o fechamento do comércio de sexta-feira, dia 20, a 5 de abril. Poderão funcionar apenas padarias, farmácias, restaurantes, supermercados, postos de gasolina, lojas de conveniência, lojas de produtos para pets e feiras livres. Terra diz trabalhar com três hipóteses distintas para a crise: um, três ou até seis meses de quarentena. “Para cada cenário o efeito é diferente. De um mês teremos um efeito ruim, mas recuperável, algo que todo mundo até consegue segurar. Se passar disso, tem que dar férias, renegociar aluguel, entre outras medidas”, diz. “Se chegar aos seis meses, torna-se algo estrutural, mais complexo e é dificil falar porque não tem nada na história recente sobre isso. Nenhuma crise se compara com isso.” Digital é oportunidade O especialista explica que o varejista precisará entender e compreender toda o ecossistema que envolve o seu negócio. Isso inclui consumidor, shopping ou dono do imóvel, em caso de loja de rua, funcionários e fornecedores. Como cada elo será impactado durante o período e alterará onde será possível buscar negociações, reduções ou até eventuais cancelamentos. Terra diz que as vendas digitais podem aumentar durante o período e, para isso, recomenda que as empresas se preparem para atender a migração do físico para o digital. “A gente já está vendo uma disparada do digital. Hoje quem não tem e-commerce vai sofrer ainda mais. Quem não tem está fora do jogo.” Na última terça-feira (17), a Amazon emitiu um comunicado avisando que deixará de priorizar a venda de livros para focar em itens de primeira necessidade até dia 5 de abril, pelo menos. No texto, a gigante das vendas online diz que a iniciativa visa atender ao aumento da demanda por produtos para bebês, saúde e uso doméstico, beleza e cuidados pessoais, mercearia e suprimentos para animais de estimação. Moda e eletrodomésticos sentirão mais De acordo com estimativa da assessoria econômica da FecomercioSP, o consumo no curto prazo deve ser prioritariamente de produtos básicos, como alimentos, remédios e produtos de higiene. Bens duráveis e semiduráveis, como eletroeletrônicos, roupas, móveis, tendem a ter suas compras adiadas. Um levantamento do Sebrae também identificou essa tendência. A entidade recomenda que os varejistas que atuam nesses nichos evitem ampliar estoques, investir, criar dívidas ou assumir compromissos de longo prazo. Terra recomenda que os empreendedores considerem linhas de crédito com juros reduzidos para esse momento, somente em caso de necessidade extrema. “Em situações de muita incerteza, de volatilidade, não se pode tomar decisões emocionais ou abruptas demais, mas também não se pode demorar para tomar decisões. Sair demitindo funcionários ou ficar completamente paralisado são duas opções ruins. Tem que achar esse equilíbrio”, afirma. Supermercados e farmácias estão sentindo o efeito contrário: aumento repentino da demanda e dificuldade de reposição. De acordo com a Associação Paulista de Supermercados (Apas), no último fim de semana, entre sexta e domingo, houve um aumento de 8,5% na frequência de alguns supermercados, em comparação com o terceiro fim de semana de fevereiro. Mesmo assim, a entidade afirma que não há registro de desabastecimento. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) endossa a afirmação.