2020 era para ser um ano tranquilo para o empresário José Carlos Semenzato, com muitas partidas de golfe e gravações de mais uma temporada do reality show Shark Tank, do qual é jurado.
Aos 52 anos, ele estava delegando a condução dos negócios da holding SMZTO para o filho Bruno, de 28 anos, quando o coronavírus se espalhou, varrendo o faturamento das franquias que integram o grupo.
— Mergulhei no negócio, fiquei do lado dos fundadores e próximo dos franqueados e traçamos um plano de crise para preservar caixa. A experiência aqui falou mais alto — diz Semenzato, que fez seu PhD em crise com a desvalorização do Real em 1999.
Na época, ele comandava a Microlins, estava alavancado em dólar e quase quebrou. Foi salvo por uma reestruturação que transformou suas escolas de informática em franquias. Com a venda do negócio em 2010, se reinventou como um investidor serial e acelerador de franquias. Hoje a SMZTO reúne participações em 12 marcas como Espaçolaser, OdontoCompany, Embelleze e Oakberry, somando 2,2 mil lojas.
Um dos primeiros conselhos que ele deu para os donos das franquias foi: “Salvem os empregos para salvar seus negócios”. — Tínhamos caixa e ajudamos financeiramente. Permitimos o parcelamento de royalties por seis meses. Deu para os franqueados respirarem — diz Semenzato.
Excluindo negócios nas áreas de alimentação e eventos, todos os negócios bateram a meta de crescimento, de 30% a 40% no ano, já em outubro.
O plano de emergencia teve muita criatividade, com venda de sessões antecipadas de depilação, agendamento de festas para o ano que vem, delivery e aula online.
— No terceiro mês de pandemia, abandonamos o plano emergencial e voltamos para as metas de 2020 — diz Semenzato.
Juntas, as franquias que integram o grupo devem faturar R$ 3,3 bilhões este ano, R$ 1 bilhão a mais do que no ano anterior.
Com os negócios recuperando o ritmo de crescimento, os projetos do filho Bruno vão retomando o protagonismo. Até o fim do ano, o grupo fecha a compra de participações em duas novas franquias, em segmentos bastante alinhados com os novos tempos: uma de rede de roupas e artigos usados (que atendem aos anseios de sustentabilidade dos millennials) e outra de cuidados para idosos (atenta ao envelhecimento da população). Os negócios se somam ao Instituto Gourmet, de cursos de gastronomia, adquirido em janeiro.
Além da seleção dos negócios, Bruno desenhou um novo formato para os próximos investimentos da família: um Fundo de Participações, com 50% de capital próprio e 50% de terceiros, por meio de family offices. Mas antes, foi preciso convencer o pai.
— Como assim teria que dividir os ganhos? — Semenzato conta ter questionado o filho. — Mas ele me convenceu que a equação vai fechar e vamos dobrar ou quadruplicar a possibilidade de negócios — diz Semenzato.
O primeiro FIP foi para testar o modelo e o apetite dos investidores, com captação de R$ 50 milhões. Além das três investidas mencionadas, o fundo deve fazer mais duas ou três aquisições no ano que vem, com cheques de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões, mantendo a estratégia do grupo de aquirir por volta de 30% dos negócios.
— Deu muito certo e já estamos desenhando um segundo fundo, de R$ 300 milhões, mantendo a nossa participação de 50%, e podendo fazer cheques maiores. O Bruno não tem limite, é um cara de compliance, mais financeiro.
O filho foi preparado para assumir o negócio. Estudou na Duke University e jogou tênis profissional. Ao assumir, Bruno desmontou o time do pai, que manteve apenas o diretor financeiro, de 42 anos. — Ele colocou a turma dele. Tirando eu e o CFO, só tem jovem com menos de 35 anos e mentalidade digital — diz o pai orgulhoso. A filha Beatriz, de 24, também está na empresa, atuando no marketing. — A Bia é mais comercial, mais parecida comigo. É um casamento muito bom.
Franquia de Dark Kitchen
A crise levou ao surgimento de um novo negócio de franquia para a SMZTO: dark kitchens. Para poder seguir expandindo a marca de restaurante L’Entrecôte de Paris, em plena pandemia, surgiu a ideia de franquear apenas a cozinha — um investimento de R$ 180 mil para o franqueado, ante R$ 1 milhão do restaurante. Lançada em junho, a nova franquia já tem oito unidades e plano de chegar a 80 em três anos. Hoje a cozinha só entrega o cardápio único do L’Entrecôte (bife com fritas), mas o plano é agregar pratos que são carros-chefe de mais duas ou três redes de restaurantes, como o General Prime Burger.
Maior clínica de odonto do mundo
Dentre os negócios mais promissores do grupo SMZT está a OdontoCompany, rede de clínicas de odontologia de São José do Rio Preto, cidade onde Semenzato se estabeleceu. O empresário investiu no negócio em 2011, quando era apenas uma única clínica. Hoje são mais de 800 espalhadas pelo país e R$ 100 milhões de Ebitda.
Em dezembro do ano passado, o fundo de private equity americano L Catterton comprou 30% no negócio, numa operação que avaliou a empresa em R$ 1 bilhão. (Foi o segundo aporte do L Catterton em uma investida de Semenzato. Em 2016, o fundo comprou uma fatia da Espaçolaser.)
Semenzato quer levar a OdontoCompany para a Bolsa, mas antes pretende transformá-la da maior rede de clínica odontológicas do país na “maior do mundo”. No ambicioso plano de negócios está uma expansão internacional e aquisições de redes concorrentes. A primeira aquisição veio no ano passado, a Oral Sin, de implantes dentários. Outras estão a caminho.
A meta é alcancar de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões de Ebitda em quatro anos, com 3 mil a 4 mil clínicas.
— A OdontoCompany mostra que é possível, pela franquia, construir uma empresa de alto valor — diz Semenzato.
Fonte: O Globo