Para Carlos Wizard Martins, 59, mesmo em um mau momento econômico, o Brasil ainda oferece boas oportunidades para quem enxerga setores com potencial de crescimento.
O empresário investe em ao menos quatro deles: a venda de produtos naturais, escolas de futebol, o mercado de cartões pré-pago e redes de fast-food. Depois de, em 2013, vender o Grupo Multi, do qual a rede de escolas de inglês Wizard fazia parte, Martins comprou a Mundo Verde, de produtos naturais. Também se juntou ao ex-jogador Ronaldo para lançar a Ronaldo Academy, que possui unidades no Brasil, nos Estados Unidos e na China.
Mesmo na crise, ele promete investir R$ 100 milhões para trazer uma rede de lanchonetes para o Brasil (porém não revela qual a marca).
Em entrevista à Folha, Martins falou sobre a crise política e econômica do país. Segundo ele, mesmo que cause instabilidade, a operação Lava Jato deve continuar para garantir maior transparência e governança ao setor público.
Leia abaixo trechos da entrevista que Martins concedeu à Folha, em São Paulo.
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Folha – Qual sua visão sobre o momento que o Brasil está passando?
Carlos Wizard Martins – O país passa por um momento de redefinição de valores. Nunca vimos na história de nosso país governantes de alto escalão sendo julgados, punidos e condenados.
Acho este momento muito significativo, pois o que o Brasil mais precisa é de transparência, gestão pública e compromisso com a população.
Temos um potencial de crescimento gigantesco, uma população com mais de 200 milhões de consumidores, um país com sobra de recursos em vários aspectos: minerais, hídricos, para produção de alimentos e de combustível alternativo. Temos uma capacidade de produção que nos coloca como uma potência mundial.
Nós empresários, e a população em geral, estamos sendo penalizados por uma crise que eu considero antes de tudo política, institucional e de confiança.
Como a política se relaciona ao mau momento da economia?
Quando o investidor observa as opções que ele tem para investir, ele acaba fazendo sua matemática e escolhe os países mais estáveis.
A partir do momento em que o Brasil se estabilizar, o investidor vai voltar a escolher o país.
Esse momento que o Brasil está passando, de ajuste, com esse governo, mesmo que interino, traz uma chama de esperança. Mas sabemos que o problema não vai ser resolvido de uma hora para a outra, será uma questão de médio prazo.
Quais medidas precisam ser tomadas?
Começa com um ajuste fiscal. Todo orçamento, seja de país, de Estado ou de cidade, é muito semelhante a uma família. Você tem o salário e as despesas, consegue vencer quando gasta menos do que recebe. Caso contrário, caminha para o buraco.
Que outros sinais o investidor espera para voltar?
Temos de ter nossa inflação controlada, em primeiro lugar. Em segundo, precisamos de uma perspectiva de crescimento. Se falamos em PIB negativo, ninguém vai querer colocar dinheiro no país.
Um terceiro aspecto é que as investigações que estão sendo feitas devem continuar. Esse é o pensamento de todo o empresariado e do brasileiro em geral. O problema é sistêmico, não é de uma pessoa só.
Mesmo com todo o cenário negativo, o sr. segue investindo no Brasil. Por quê?
Falei ontem para um grupo de empresários da América Latina: O Brasil tem falta de infraestrutura, tem problema de burocracia, tem falta de credibilidade, corrupção, índices elevados de impostos, as leis trabalhistas do país são obsoletas. Mas, independente de todo esse cenário negativo, existe o Brasil da crise e o Brasil da prosperidade.
Se a gente conseguir fazer pequenos ajustes nesse Brasil da crise, vamos ver esse número de milionários crescer muito. Temos 30 novos milionários todos os dias neste país.
Esses milionários vêm de onde?
A maior parte são empreendedores. Eles ganham dinheiro, mesmo na crise, porque não tinham dívidas. Quem estiver endividado vai ser penalizado, pois o Brasil é um dos países com maior índice de juros do mundo e penaliza quem toma crédito. Existem alguns setores da economia que estão resilientes à crise. Cito o caso de produtos naturais, em que está a Mundo Verde. Por mais difícil que esteja o momento do Brasil, estamos crescendo 6% ao ano, descontada a inflação. Também vamos fazer um investimento para trazer ao Brasil uma rede de fast-food que ainda não está no país. Vamos investir R$ 100 milhões para abrir 20 lojas. Você vai dizer, em um momento crítico desses você vai querer abrir lojas? Sim, o fast-food no Brasil cresce 12% ao ano. O brasileiro tem como cultura pegar a esposa e os filhos para comer fora. Em meio a esta crise, ele não vai comer em um restaurante caro, então o fast-food vira uma boa opção de entretenimento, descontração. Tem muitos setores em queda, mas, se procurar, ficará surpreso ao ver que existem muitos setores que estão em crescimento. É preciso de um olho clínico para separar os que estão em alta e aqueles que você deve fugir.
Como é possível crescer vendendo produtos naturais em meio a um cenário de desemprego e inflação elevados?
O que acontece é que o produto natural, orgânico, não é consumido só por uma questão de estética, ele é procurado também por questão de saúde.
Muitas pessoas estão descobrindo que precisam evitar o glúten, a lactose, e vão atrás desses itens nos supermercados. Chegando lá, vão ao setor de produtos naturais e encontra até 50 itens distintos.
Quando vão a uma loja da Mundo Verde, encontra 1.000, 2.000, 3.000 produtos diferentes.
O supermercado não tem interesse em atender essa demanda?
Até tem, mas ele é muito restrito. Não dispõe de tanto espaço para uma gama de produtos tão grande. Então ele vai fazer uma seleção dos itens mais vendidos. Isso deixa um espaço para quem quer oferecer algo a mais.
O ensino de futebol também cresce na crise?
O brasileiro é apaixonado por futebol. Com crise ou sem crise, ele não deixa de jogar.Estamos abrindo franquias de duas formas: nos unindo a pessoas que veem a oportunidade de empreender nessa área e nos aproximando de escolas que já existem, estão instaladas há 5, 10, 15 anos, mas sem bandeira.E o que estamos vendo é que muitas dessas escolas sem bandeira, quando aderem à rede, dobram seu número de alunos.
Tivemos um caso recente de loja que tinha 20 anos, 150 alunos. A partir do momento que aderiu à franquia, passou para 300.O Brasil está em crise, sim. Mas, mesmo assim, ainda há espaço para crescimento.
O sr. irá divulgar o projeto na China nos próximos dias. Qual o potencial desse mercado?
O projeto que lançamos de futebol é internacional. Além do Brasil, muitas culturas valorizam o futebol. A China, no ranking internacional da Fifa, está na 72ª posição [na realidade, está na 81ª e sua posição média é a 72ª]. O presidente Xi Jinping está inconformado com essa posição. O chinês é muito orgulhoso, quando faz algo quer ser o maior, o melhor. São a segunda economia do mundo, mas estão muito mal posicionados no futebol. Ele também é apaixonado por esporte. Então estão acontecendo políticas de desenvolvimento e uma série de incentivos neste sentido. A China deve se tornar um grande mercado. Já vemos isso na contratação de técnicos e jogadores de renome. Nós, eu como empreendedor e o Ronaldo com a técnica, estamos atendendo essa demanda chinesa.
Assinamos um contrato com investidor de Pequim em que ele se compromete a abrir 30 escolas nos próximos três anos. Dessas, 10 já foram abertas.
O sr. se interessa por futebol?
Eu sou investidor, mas o futebol pratico só em casa. Jogo futebol com os meus netos, na defesa ou no gol. E eles é que marcam os gols no vô, eles já têm mais habilidade.