Por Sergio Ripardo
O Grupo SBF (SBFG3), dono da Centauro e distribuidor da Nike do Brasil, fechou 10 lojas em janeiro para reduzir custos e melhorar suas margens de lucro em um momento de juros altos e desaceleração dos negócios.
A maior varejista de produtos esportivos da América Latina, com atuação nos segmentos de varejo físico (49% das receitas), atacado (19%) e online (32%), divulga o balanço do quarto trimestre na noite da quinta-feira (2) e comenta o resultado com analistas em teleconferência no dia seguinte. As ações da companhia acumulam desvalorização de 60% em 12 meses e de 30% neste ano.
Em janeiro, foram encerradas operações de duas lojas da Centauro instaladas em shoppings (no Bourbon Country e no Bourbon Wallig) em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, segundo informou o jornal Zero Hora na última sexta-feira (24).
“A Centauro confirma que fechou, em janeiro, as suas lojas no Bourbon Country e Bourbon Wallig em Porto Alegre, assim como outras 8 lojas no Brasil no período. Essas lojas tinham um modelo antigo e apresentavam um desempenho pós-pandemia sub-ótimo. Não há previsão de novos fechamentos. Revisar a estratégia de posicionamento nas regiões onde está presente e a rentabilidade individual de cada loja é um movimento natural no varejo”, informou o grupo em nota à Bloomberg Línea.
A desaceleração das vendas e os juros elevados têm levado diferentes varejistas a dificuldades, com atraso no pagamento do aluguel de lojas e centro de distribuição – casos de Marisa (AMAR3) e Tok&Stok, respectivamente. Há ainda o colapso da Americanas (AMER3), em recuperação judicial e acusada de fraude após revelar um rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões no começo de janeiro.
Especificamente sobre sua operação no Rio Grande do Sul, o Grupo SBF disse que o estado segue como uma praça estratégica para a Centauro e que a marca mantém presença nos principais shoppings da capital (Iguatemi, Praia de Belas e Barra Sul). No total são 11 lojas no estado, das quais sete localizadas em Porto Alegre e na região metropolitana, além do e-commerce.
Dívida dobrou em 12 meses
No terceiro trimestre de 2022, o lucro líquido do Grupo SBF caiu 69%, para R$ 34 milhões, na comparação anual, enquanto a margem líquida recuou de 7% para 2% no mesmo período.
O SBF tinha fechado o mês de setembro com uma dívida líquida ajustada de R$ 1,042 bilhão, mais que o dobro do registrado em igual período de 2021 (R$ 486 milhões).
O SBF deve apresentar um lucro líquido ajustado do quarto trimestre de R$ 65 milhões, uma queda de 78,5% em 12 meses, segundo projeção do analista Thiago Macruz, do Itaú BBA. Em relatório, ele cita o impacto de um maior nível de descontos nas lojas da marca Centauro reduzindo a margem bruta, além do aumento dos investimentos em tecnologia e marketing.
Segundo o analista, a geração de caixa trimestral medida pelo Ebitda ajustado deve cair 18,7% na comparação anual, para R$ 220 milhões, enquanto o crescimento das vendas, no critério “mesmas lojas”, deve desacelerar de 8,8% para 6,3% no quarto trimestre na base anual.
O fechamento de unidades não chega a ser exatamente uma supresa, já que o mercado já trabalhava com a expectativa de redução do portfólio em pelo menos 8 unidades neste ano.
No dia 27 de janeiro, a agência de classificação de risco Fitch Ratings disse, em relatório ao manter o rating do grupo, que uma das premissas era que o número de lojas da Centauro passasse de 233 ao fim de 2022 para 225 ao final de 2023. Em setembro, o SBF operava 233 unidades da marca Centauro no país e 24 unidades da marca Nike.
“A fraca conjuntura econômica impõe grandes desafios ao Grupo SBF, em função de seu relevante programa de expansão para os próximos anos. A Fitch projeta desaceleração acentuada do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) para 0,7% em 2023, dos 3,0% esperados para 2022, com o consumo de bens discricionários ainda arrefecido pelo elevado endividamento das famílias, pela perda do poder de compra e pela manutenção de altas taxas de juros e inflação”, justificou a Fitch.
A agência de rating lembrou que o grupo tem seu fluxo de caixa pressionado pelas necessidades de capital de giro e maiores despesas com juros.
“A companhia vem reduzindo gradualmente sua exposição ao canal de atacado, de margens mais baixas, e aumentando as vendas para o consumidor final, por meio de lojas Nike e canais digitais, que devem atingir, juntos, em torno de 87% de participação nas vendas do grupo até 2025, dos 81% atuais”, avaliou a Fitch.
As margens do Grupo SBF devem evoluir gradualmente com a menor exposição ao atacado, bem como pela migração para marketplaces de terceiros, em que a companhia terá maior poder de precificação, segundo a Fitch.
O SBF disse que não comentaria as previsões feitas pela agência de rating.
Além da Centauro e da Fisia (distribuidora da Nike no Brasil), o grupo é proprietário da NWB (plataforma de mídia digital esportiva), da FitDance (plataforma de dança), da X3M (live marketing esportivo) e da OneFan (sportstech).
Fonte: Bloomberg Línea