Por Ana Paula Ragazzi
Quatro anos depois de entrar em recuperação judicial, a rede de livrarias Saraiva conseguiu fechar um acordo com seus credores e agora quer voltar às origens.
Nada mais de megastores: o foco da empresa voltará a ser em lojas de tamanho médio que vão vender apenas livros e artigos de papelaria, o CEO Marcos Guedes disse ao Brazil Journal.
“Esse é um mercado que diminuiu de tamanho nos últimos anos por conta das vendas online, mas que ainda é rentável,” disse Marcos. “Basta ver a quantidade de livrarias inauguradas nos últimos anos.”
A Saraiva chegou a ter 114 lojas por todo o País. Quando entrou em RJ, em 2018, tinha 80. Hoje são 32 livrarias em 16 estados.
Marcos estima que as maiores livrarias – Travessa, Leitura, Curitiba e Livraria da Vila, que estão em expansão, além da própria Saraiva e da Cultura – somem hoje por volta de ‘200 e poucas lojas’.
“Mas todas estão ainda muito concentradas nos grandes centros, o nosso plano é crescer mais em cidades menores, regionalmente,” disse Marcos.
A Saraiva pretende abrir de 3 a 5 lojas por ano – e com um impulso extra de uma estreia também no formato de franquias.
Com 108 anos de vida, 50 deles como companhia aberta, a Saraiva vai escrever este novo capítulo da sua história sem a família homônima no controle.
No plano de recuperação judicial aprovado no início de agosto, credores donos de R$ 170 milhões em créditos (30% da dívida) optaram por um haircut de 80% com a conversão dos 20% restantes em ações preferenciais da empresa.
Os acionistas devem aprovar a emissão de novas ações preferenciais no valor de até R$ 61 milhões numa assembleia marcada para 28 de setembro.
Metade desse total será entregue aos credores dentro da RJ, e a outra metade para credores de dívidas contraídas depois que a Saraiva entrou nesse processo, as chamadas dívidas ‘pós concursais’.
A emissão das novas ações vai mais que dobrar a quantidade de PNs no capital da Saraiva. Para resolver o desenquadramento da proporção de um terço de ONs com dois terços de PNs, a empresa pretende converter todas as suas ações em ordinárias assim que mudar seu estatuto.
Quando isso acontecer, a participação da família Saraiva, que tem hoje 52% das ONs e 20% do capital total, será diluída, e a rede de livrarias vai se tornar uma corporation.
Antes disso, já nas próximas semanas, Jorge Saraiva Neto deverá deixar os cargos de diretor presidente e de relações com investidores e passará a ocupar apenas uma cadeira no conselho.
Marcos Guedes, que no ano passado foi um CEO interino da empresa, passará a CEO estatutário. Marcos é sócio da KR Capital, que desde 2020 cuida da reestruturação operacional e das dívidas da Saraiva. Ele havia deixado a empresa em janeiro, após atritos com uma parte do conselho.
Em abril, passou a fazer parte de um conselho renovado, que o convidou de volta como CEO. Com experiência em reestruturação de empresas, Marcos foi CFO e CEO da Aceco TI (2016-2018) e CFO do Peixe Urbano (2020).
A KR está na lista de credores ‘pós concursais’ que vão converter créditos contra empresa em ações. Um conselheiro de administração e uma conselheira fiscal indicados pela acionista minoritária Alyssa Costa, que tem 8% das ONs da Saraiva, estão pedindo uma auditoria dos pagamentos devidos à KR que já foram aprovados no conselho.
Outro grupo de credores da Saraiva, que responde por R$ 300 milhões (70%) da dívida, optou por receber o valor integral, em pagamentos que só vão começar daqui a 5 anos, em suaves prestações iniciais, e que vão se estender por 22 anos.
Resolvida a reestruturação da dívida, a Saraiva ainda precisa fazer o turnaround da operação. No segundo trimestre, a empresa teve um EBITDA negativo de R$ 9,7 milhões, ante R$ 19 milhões também negativos no mesmo período do ano passado; o prejuízo ficou em R$ 19 milhões, uma queda de 20%.
A Saraiva retomou sua agenda de eventos e atividades culturais nas lojas para formar novos leitores, e disse que o resultado já está aparecendo: a receita em julho subiu 36% em relação ao mês anterior. A empresa também está reformulando seu ecommerce para servir de apoio às lojas físicas.
Fonte: Brazil Journal