A Saraiva comunicou que pediu aos auditores independentes para que analisem e confirmem se os resultados de 2014, 2015 e 2016 estão de fato de acordo com o divulgado, com o patrimônio da empresa e com “os princípios e práticas de contabilidade”.
O pedido foi deliberado ontem (8) pelos Conselho de Administração e Conselho Fiscal da companhia após pedido da Superintendência de Relações com Empresas (SEP) da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para analisar o “sentido” de e-mail enviado no dia 10 de abril de 2016 por Jorge Saraiva Neto, diretor presidente e de Relações com Investidores da empresa, a Ana Maria Loureiro Recart, representante do fundo coreano GWI Asset Management.
Segundo a companhia, o e-mail “fez menção a uma informação gerencial da Companhia”. Contudo, de acordo com matéria publicada pelo Valor Econômico, o e-mail diz que Saraiva Neto afirmou na mensagem “que escondia lucro numa provisão com o intuito de incentivar empregados a elevar as vendas”.
“A razão disso é que escondemos esse valor em uma provisão, fazemos isso pois é uma antiga prática do varejo, com isso, a equipe de pricing [que define o preço dos produtos] e comercial acredita que está aquém da meta e com menos folga para descontos, no final de cada tri [trimestre] analisamos se é o caso de guardar mais ou aumentar resultado”, escreveu o executivo no e-mail, segundo o jornal, que teve acesso ao documento.
Fraude?
O pedido da Superintendência da CVM para analisar a mensagem é parte de um processo instaurado no órgão pela própria Saraiva em reação a condutas de determinados fundos geridos pela GWI Asset Management e alguns de seus representantes. Diante desse pedido, a GWI também solicitou análise de condutas da Saraiva, de seus controladores e da Administração.
De acordo com a Saraiva, o tal e-mail foi analisado pela empresa e o Conselho de Administração da Saraiva ouviu os esclarecimentos prestados por Saraiva Neto e “se deu por satisfeito com as explicações apresentadas”. A empresa não informa quais seriam essas explicações.
De acordo com números da companhia, o lucro líquido da empresa no primeiro trimestre foi de R$ 266 mil, sendo que as perdas em estoque ficaram em R$ 2,8 milhões – R$ 800 mil acima do verificado no mesmo período do ano anterior.
Porém, de acordo com o Valor Econômico, para Jorge Saraiva Neto, a forma como a empresa contabiliza provisão “é de livre abastecimento da administração” dependendo só de seu entendimento sobre riscos e estratégia, “estando assim alçadas pela regra de proteção à decisão” da empresa.
O jornal diz que para a CVM, a declaração de Neto é “indicativa de potenciais irregularidades muito graves e as explicações oferecidas na tentativa de justificá-las são, no mínimo, tecnicamente equivocadas”.
Briga eterna
A briga entre os controladores da Saraiva e os representantes do fundo coreano não é nova. Em julho do ano passado, a companhia entrou com representação na CVM contra a GWI por conta de “excessos” na avaliação da empresa.
Tudo começou com uma visita de Ana Recart e do coreano Mu Hak You ao escritório da companhia em pleno feriado de Corpus Christi, no dia 27 de maio. Segundo a Saraiva, eles mexeram em papeis, como mostraram as câmeras internas. Os controladores da empresa consideraram a visita uma invasão.
Além disso, os representantes da GWI começaram a questionar a solidez da companhia e convocou o conselho para discutir, segundo o investidor, medidas para “mitigar a possibilidade iminente de insolvência”. O problema é que a empresa provou, por A mais B, que estava bem longe da insolvência.
Em nota à NOVAREJO, enviada no dia 19 de julho do ano passado, a GWI disse que a Saraiva estava com “claro objetivo de eliminar os acionistas que os incomodam”.
“Na verdade, algo bem mais amplo está em jogo, pois envolve o futuro dos investidores e acionistas minoritários no Brasil: se os minoritários poderão continuar a fiscalizar a gestão das empresas em que investem ou se terão de se submeter às imposições dos controladores, sejam elas quais forem”, disse a GWI.
A GWI chegou a ter 40% das ações preferencias da empresa e, desde o ano passado, diante de tantos problemas, veio reduzindo sua participação. Hoje, o fundo está com 4,53% das ações preferencias da Companhia.
Fonte: NOVAREJO