Em paralelo à disputa entre a gestora de investimentos GWI, acionista da Saraiva, e os controladores da companhia, corre na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) reclamação de outro investidor. Vicente Conte Neto, sócio da H11 Capital e terceiro maior acionista depois da família e da gestora coreana, reivindica na autarquia o pagamento de dividendos referentes a 2015. No entanto, seu pleito em relação à companhia vai além. Mesmo sem atualmente ocupar um assento no conselho, seu objetivo é influenciar os controladores em assuntos como profissionalização da gestão e migração para o Novo Mercado, nível máximo de governança corporativa entre as companhias listadas na bolsa.
Há algumas semanas, a H11 Gestão de Recursos atingiu 10,01% no total de ações preferenciais da varejista de livros, ante uma fatia anterior de 6,48%. Somada à presença de Neto como pessoa física, a participação sobe para 13%. O objetivo da H11 é atingir, no mínimo, 50% dos papéis preferenciais, segundo o acionista. Isso porque, afirmou ele, a empresa tem potencial de valorização e ainda está muito barata na bolsa.
“Eu vou crescer minha participação o máximo que eu puder, em algum momento eu vou ter ações suficientes e vou para o conselho. Não tenho tanta pressa. Estou sempre em contato com eles”, disse Conte, referindo-se aos controladores e à direção da empresa. Na assembleia geral extraordinária ocorrida no fim de julho – que elegeu o filho do coreano Mu Hak You, fundador da GWI, para substituir o pai no conselho -, Conte foi o segundo mais votado entre os preferencialistas.
Para o acionista, há evolução em questões operacionais na empresa, mas falta uma cultura de “agregar valor para o acionista minoritário”, como no caso do não pagamento de dividendos. “Como uma empresa que faz toda sua lição de casa, vende uma divisão [Saraiva Educação em 2015], paga dívida, começa a focar no varejo, como é que chega a hora de pagar os dividendos, ela não paga?”, diz Conte.
Na CVM, ele reclama da não distribuição dos dividendos mínimos obrigatórios de R$ 22,2 milhões referentes a 2015 e a retenção, sem o correspondente orçamento de capital, do saldo de lucro líquido do período, algo, que segundo ele, foi decidido apenas pelos controladores – e que foi lesivo aos demais acionistas. Conte alega abuso de poder dos donos da empresa.
A Saraiva diz que a destinação do dividendo mínimo obrigatório para reserva especial está vinculada à possibilidade de precisar dos recursos que seriam distribuídos para fazer frente às obrigações ou adversidades que espera enfrentar, baseada na atual situação do país. “A administração da companhia está melhor posicionada do que os acionistas individualmente para acessar as necessidades da companhia, as evoluções do mercado em que atua, a estratégia de negócios”, afirmou a empresa em resposta à CVM assinada pelo diretor-presidente e de relações com investidores da Saraiva, Jorge Saraiva Neto. O processo foi encaminhado para a Superintendência de Relações com Empresas (SEP) em 5 de agosto.
Para Conte, a família é contrária à migração para o Novo Mercado, um de seus pleitos. Por outro lado, ele percebe boa vontade em relação à necessidade de profissionalizar a gestão. O que ele reivindica é a contratação de um presidente-executivo especializado em varejo, com a migração do atual diretor-presidente para o conselho. O acionista também destaca o foco na Saraiva.com e a contratação da consultoria McKinsey para melhorar os resultados operacionais.
“Agora o foco deles é totalmente no varejo e já estão trazendo resultados com isso. Na minha projeção, eles devem fechar o ano que vem com Ebitda de R$ 50 milhões”, disse. No primeiro semestre de 2016, o Ebitda da companhia foi de R$ 20,8 milhões, quase 5 vezes mais do que no mesmo período em 2015.