De um lado, uma das mais antigas empresas em um tradicional setor da economia. De outro, uma companhia de serviços 100% digitais em sua primeira década de atividades. E, no encontro de ambas, a tentativa de facilitar uma situação que costuma gerar dor de cabeça na maioria das pessoas.
A Saint-Gobain, fabricante de materiais de construção e dona de marcas como Quartzolit, Brasilit e da varejista Telhanorte, e o GetNinjas, plataforma digital de contratação de profissionais para diferentes serviços, anunciaram parceria para disponibilizar um novo canal para a contratação de pintores, instaladores, pedreiros, jardineiros e outras categorias envolvidas em reformas, construção e reparos domésticos.
Os profissionais já estavam no banco de dados do app – são mais de 200 mil no Brasil, cerca de 40% do total de prestadores cadastrados na plataforma –, mas agora poderão ser contratados também nos sites de todas as marcas da Saint-Gobain, além do próprio portal institucional do grupo.
Depois de um rápido pedido informando o serviço necessitado, tipo de imóvel, prazo para a realização e dados de contato, a solicitação é enviada a três profissionais considerados indicados para o trabalho, que procuram o solicitante e enviam os orçamentos – para isso, eles gastam créditos que são comprados no GetNinjas.
O diferencial para o público, acreditam os parceiros, é ter a chance de encontrar profissionais referendados pelo sistema, que privilegia aqueles que têm boas avaliações nos serviços feitos anteriormente.
“Todo mundo já passou ou conhece alguém que teve dificuldades para tocar obras, seja pela falta de qualidade no serviço, demora ou outro problema. E, por outro lado, o profissional precisa de cliente toda semana para se sustentar, mas dificilmente encontra serviço”, lembra Eduardo L’Hotellier, CEO do GetNinjas.
Para os prestadores, o benefício estará, além dos novos canais para contratação de seus serviços, em descontos obtidos na compra de materiais das marcas da Saint-Gobain e vendidos na Telhanorte.
Eles também serão capacitados pela fabricante, por meio de campanhas virtuais ou no centro de treinamento da empresa em Jandira, interior de São Paulo. Os “maridos de aluguel”, homens que fazem toda sorte de pequenos reparos em casas alheias, serão os primeiros envolvidos no projeto.
Para a Saint-Gobain, a parceria marca um momento em que a companhia busca se aproximar do consumidor não apenas pelos produtos e lojas, mas também pelo serviço prestado. O vetor ideal para isso, considera a empresa, é o próprio profissional de construção e reformas. “Temos os materiais e o varejo, e também o interesse em guiar o processo da obra”, diz Lucile Charpentier, diretora de marketing e estratégia digital da Saint-Gobain no Brasil.
Nesse processo típico do século 21, as estratégias digitais são consideradas primordiais pela companhia que, fundada em 1665, foi responsável por produzir espelhos que adornam o Palácio de Versalhes, na França.
Hoje, para Lucile, construção e internet são elementos muito mais próximos do que se imagina. “A jornada da construção começa no virtual. Temos dados que mostram 1,3 bilhão de buscas com as palavras ‘material de construção’ e subcategorias na internet no ano passado. Mesmo que a compra de materiais ocorra mais na loja, a inspiração aparece online”, aponta.
As estratégias para alcançar o cliente no meio virtual vão desde marketing via personalidades à parceria com startups. No primeiro campo, uma websérie que vai ao ar em outubro vai mostrar todo o processo da reforma da casa de uma influenciadora digital – cuja identidade não foi revelada.
Já no segundo, a Saint-Gobain inicia em novembro seu primeiro processo de aceleração de startups. Serão selecionadas quatro jovens empresas, que atuam em áreas como comércio eletrônico, sistemas de pagamentos, impressão 3D, processo logístico e outras, para uma mentoria de quatro meses em parceria com a Liga Ventures. No final do processo, poderá haver investimentos da companhia em novos negócios.“Entendemos que nosso ecossistema deve ir muito além da venda de materiais de construção”, afirma Lucile.
No ano passado, a construção civil teve um dos piores desempenhos da economia brasileira, com seu PIB (Produto Interno Bruto) caindo 5% em 2017, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mas o cenário difícil não impede o setor de movimentar – junto com reformas e serviços correlatos – 60% do valor total das transações realizadas via GetNinjas, que, segundo o CEO Eduardo L’Hotellier, gira em torno de R$ 300 milhões.
Para ele, independentemente do momento econômico, há uma grande margem de crescimento a se ganhar conforme a tecnologia se torna mais presente no dia a dia de quem quer construir ou reformar.
“Assim como vimos acontecer no transporte, com Uber e similares, esse tipo de contratação vai seguir crescendo muito mais pela facilidade no uso da tecnologia do que pela variação de mercado em si. Mesmo com o país em crise, a gente foi dobrando [o volume de contratações] a cada ano”, destaca.
Fonte: Época Negócios