Por Fátima Fernandes | Já faz um tempo que os atacarejos perderam as suas características na tentativa de oferecer cada vez mais serviços para os consumidores, assim como fazem os supermercados.
Ricardo Roldão, presidente do conselho da rede Roldão, reconhece a proximidade entre os dois modelos, mas diz que a sua rede mantém firme o plano de operar no formato de atacarejo.
“Houve um certo exagero na abertura de lojas de atacado. É só ver o desempenho de ações de empresas que operam na Bolsa. Vamos tomar cuidado com a escolha de pontos”, afirma.
Com 42 lojas e um faturamento da ordem de R$ 4,5 bilhões, a sua rede começa a agregar alguns serviços, como quer o consumidor, mas mantendo a operação com baixo custo.
“Vamos procurar soluções que não aumentem a nossa despesa. O açougue não terá atendimento direto, mas vamos oferecer carnes já embaladas, como nos Estados Unidos.”
Com a queda da inflação, diz, o faturamento das lojas caiu e o jeito para não elevar a participação da despesa sobre a receita é aumentar as vendas e o número de lojas.
Em dois anos, de acordo com Roldão, a rede pretende abrir mais oito lojas, das quais duas delas até o início de 2024.
A taxa de juros básica do país, a Selic, diz, ainda está alta, o que faz com que a empresa aguarde um pouco mais para deslanchar planos de expansão.
“O modelo de atacarejo é vencedor, desde que se equilibre receita e despesa.”
Não é porque o modelo de lojas de proximidade, menores, é a bola da vez, de acordo com ele, que os atacarejos vão desaparecer.
Assim como em qualquer modelo, diz, hoje uma loja tem de conhecer o consumidor, e a sua rede está investindo em aplicativo, cartão próprio, tudo para saber mais sobre o cliente.
Na Europa, conta, cartões de redes locais dão direito a cashback, descontos em combustíveis, pagamento de seguro e até em planos de saúde.
MARCA PRÓPRIA
O que também é um sucesso nas redes europeias, de acordo com ele, são os produtos com marca própria, lançados recentemente pela rede Roldão com a marca Preciato.
Os produtos estarão em todos os setores da rede: alimentos, limpeza, perfumaria e bazar. Neste momento, já são cem produtos com preços cerca de 15% menores do que os dos líderes.
“Acabamos de lançar a marca e a participação no faturamento já é de 4,5%. Queremos chegar a 10% rapidamente”, diz Roldão.
As marcas próprias de redes de supermercados na Europa, diz, são um sucesso, chegando a 40%, em média, sobre o faturamento.
Na Espanha, há casos em que este percentual chega a 70%. “Marca própria fideliza o consumidor e é tendência”, diz.
Antônio Sá, sócio-fundador da Amicci, empresa que desenvolve marcas próprias para centenas de varejistas, diz que a participação média sobre a receita das redes é de apenas 2% no Brasil.
Esse dado, levantado pela Nielsen, que inclui também os atacarejos, diz, é menor do que o de países como Peru (3%), Chile (6%) e Colômbia (12%). É menor também que a média mundial (21%).
“Isso mostra que há muita oportunidade para os varejistas brasileiros, que entendem cada vez mais que este é um caminho indispensável para expandir o seu negócio”, afirma Sá.
Em alguns países da Europa, diz, a participação de marcas próprias na receita das redes passa de 50%, como é o caso da Suíça (52%).
Grandes varejistas brasileiros, como Carrefour, Pão de Açúcar e Dia, já possuem uma participação maior de marcas próprias, da ordem de 20%.
Em redes médias, que faturam de R$ 1 bilhão a R$ 5 bilhões por ano, de acordo com ele, a faixa média de participação de marcas próprias é da ordem de 5%.
“Aqui há uma dispersão muito grande das vendas, por isso a participação é menor, não existe uma concentração grande como na Colômbia e em países da Europa”, diz.
Para Roldão, as perspectivas para o final de ano não são muito otimistas. “Vejo um consumidor muito racional e vai depender muito do programa do governo para melhorar o crédito.”
Considerando as mesmas lojas, Roldão espera faturamento semelhante ao do ano passado.
Este é um mercado que depende de escala para crescer, diz, e é possível que haja um novo movimento de fusões e aquisições, sim, entre empresas do setor.
“É um movimento natural para as empresas se defenderem”, diz. E as fusões e aquisições podem ocorrer entre empresas do mesmo formato e de modelos diferentes.
Fonte: Diário do Comércio