Levantamento da Serasa Experian com 300 cadeias de varejo mostra que, em decorrência de uma piora na situação financeira das lojas, 11 dos 12 segmentos analisados têm mais redes com risco maior de insolvência (“default”) neste ano.
O percentual de empresas com alta probabilidade de não honrar suas dívidas mais que dobrou em junho entre as cadeias de vestuário e lojas de departamento. A taxa passou de 11% em junho de 2015 para 27% no mesmo período deste ano – a maior expansão na análise. No setor atacadista, pulou de 7% para 13% e em eletroeletrônicos e móveis, de 9% para 18%. O único segmento em melhor situação é o de artigos de casa e decoração, com queda no índice em um ano, de 10% para 8%.
Nos últimos meses, grandes redes, chamadas de lojas âncoras, atrasaram o pagamento de aluguel para shopping centers e também há cadeias devolvendo parte da área de suas lojas para os proprietários, para reduzir custo fixo. Ainda há mais negociações para estender prazo de vencimento de debêntures. O cenário reflete uma piora das condições operacionais e financeiras e o desequilíbrio na estrutura de capital do setor em 2016.
Os números fazem parte de um ranking anual do setor – que passou a incorporar dados da situação financeira das redes – com coordenação do Centro de Inteligência Padrão (CIP), em parceria com a Serasa Experian e o Insper.
Também houve redução no número de empresas com baixo risco, ou risco “aceitável” de crédito na praça. Entre as 12 áreas analisadas, em 9 caiu a quantidade de empresas avaliadas desta forma, entre junho de 2015 e junho de 2016. Foram afetados o varejo de material de construção, redes de fast food e farmácias – setor que, entre os grandes grupos, tem mostrado certa resiliência em relação à crise.
Para a classificação, a Serasa considera fatores como pedidos de falência, ações ou protestos de títulos ou notas no país. Cada variável possui um peso, que, quando combinado a outro, pode gerar um pontuação maior, caracterizando o “default”.
Receita em queda, atraso nos recebimentos de suas vendas e dificuldades em rolar dívidas levaram a problemas de liquidez nas lojas, especialmente a partir do segundo semestre de 2015. As altas taxas de juros em bancos e a baixa disponibilidade de crédito para as empresas menores também pioraram o cenário, na visão de especialistas.
“Há análises que indicam um fim de ano um pouco melhor, mas a perda rápida de rentabilidade e a piora nas condições de crédito foi tão acelerada que é difícil crer numa recuperação dos indicadores do setor ainda em 2016”, diz Roberto Meir, presidente do Grupo Padrão, um dos responsáveis pela pesquisa. Para ele, o retorno dos investimentos, congelados após o aumento nos custos do capital, vai depender da existência de sinais mais claros de melhora na demanda.
Ainda foram analisados indicadores como rentabilidade sobre o patrimônio, endividamento e margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês), para o intervalo de 2014 e 2015.
Segmentos afetados por uma piora conjunta desses três indicadores em 2015 foram varejo de vestuário, lojas de departamento, supermercados e hipermercados.
Entre os 12 setores analisados, 7 tiveram queda na margem Ebitda (taxa mediana), como moda, calçados e supermercados. No comércio eletrônico, a taxa que já era negativa em 1,5% em 2014 foi para um negativo maior, de 9,2% – reflexo da piora do ambiente competitivo no mercado. Uma melhora foi vista em redes de fast food, passando de 5,9% para 9,9%.
Para o índice de rentabilidade sobre o patrimônio, 60% dos setores verificados tiveram uma melhora neste indicador, como atacado, casa e decoração e comércio eletrônico – neste último, o índice negativo ficou menor, de menos 35% para menos 15%.