A Guararapes, controladora da rede Riachuelo, informou nesta terça-feira (11) que prepara o lançamento de seu marketplace no quarto trimestre para o braço de varejo. A expectativa é que, até outubro, o grupo terá integrado 100% a operação de logística do braço digital e físico, com um único estoque para as duas operações. Esse é um dos principais planos da empresa no ano.
“No marketplace, começamos com um pequeno número de vendedores e, a partir de 2020, abre para mais parceiros. Temos ainda previsão de investimento nisso em 2021”, disse Oswaldo Nunes, presidente da companhia, em teleconferência de resultados.
“Antes da crise o plano era investir em 2020 cerca de R$ 600 milhões e 65% disso vai para o digital”.
Segundo a companhia, as unidades da empresa estão atingindo entre julho e agosto de 87% a 90% das vendas de um ano atrás, índice superior ao verificado no segundo trimestre, quando o índice ficou em cerca de 75%. Das 323 lojas, 106 ainda estavam fechadas ao fim de junho.
Questionado por analista sobre esse aumento, em ritmo superior à média do varejo — shoppings tem relatado taxa em 50% a 70% das vendas de um ano atrás — o comando disse que marcas mais fortes têm tido taxas melhores.
Após a reabertura de lojas no comércio, o canal on-line manteve ritmo forte, disse a companhia.
“Houve um alto volume em maio e junho [venda on-line], mas em julho não foi percebida grande alteração. O volume recuou só 8%, vendemos 91%, 92% daquilo vendido em junho no on-line. A participação relativa tende a cair, mas ainda é bem relevante”, disse Nunes.
Segundo ele, “há todo esse processo de melhoria na proposta de valor da empresa que vem desde o segundo semestre de 2019, e que foi ganhando tração no primeiro trimestre, quando a crise se instalou. Então, ‘players’ com marcas fortes e boas propostas de valor, num cenário que muita gente não voltou e talvez nem volte, esses performarão melhor. Os mais resilientes na crise ainda são casa, decoração, alguns itens para criança e as coleções para ficar em casa”, disse.
“Passada a fase mais aguda da crise, é esperado que a melhora dos processos focados no ‘core’ apareça”, disse ele.
Desempenho
A Guararapes disse que praticamente não consumiu caixa no segundo trimestre.
O grupo fechou o segundo trimestre com prejuízo líquido de R$ 296,2 milhões, revertendo o lucro de R$ 54,9 milhões registrado no mesmo período de 2019. A companhia atribuiu o resultado aos efeitos da pandemia de covid-19, que resultou no fechamento de lojas e fábricas.
A receita líquida caiu 52,4%, para R$ 885,8 milhões. A receita com mercadorias retraiu 70,4%, para R$ 371,6 milhões, com as vendas “mesmas lojas”, que consideram o desempenho de unidades em funcionamento há mais de 12 meses, baixando 69,7%. A Guararapes destacou que os canais digitais representaram 46,1% das vendas totais de mercadorias no segundo trimestre, com o isolamento social promovendo compras por meio da internet.
Verão melhor
O comando da Guararapes vê um ambiente muito promocional hoje no setor, e acredita que isso deve se manter pelo menos até outubro, com possibilidade de a cadeia entrar no quarto trimestre com nível menor de descontos. A chegada da coleção de verão de fim de ano pode diminuir esse ritmo de ofertas no setor, mesmo num cenário de muitos lojistas com estoques ainda elevados, disse o comando da empresa.
“Vemos um ambiente muito promocional, e não é diferente no nosso caso, mas na coleção verão, em novembro e dezembro, precisamos estar com coleção redonda. Já fizemos alguns ajustes nessa coleção, uma releitura do que tínhamos, pensando nisso, mas sabemos que parte do setor ainda vai estar promocional no verão. E aí é estar bem estruturado, bem posicionado para não precisar entrar numa onda nova de descontos agressivos no fim de ano”, afirmou Nunes.
Segundo o presidente da companhia, “há mais confiança para o fim do ano, mas ainda há incertezas”. “No quarto trimestre, com o consumo represado e com expectativa de maior confiança, pode ter uma conversão maior especialmente nessa moda mais simples. Nossa cadeia de suprimentos está funcionando normalmente, voltamos com as fábricas de forma mais forte, após a segunda quinzena de junho, para complementar a coleção que está nas lojas e preparar a próxima. Mas, para fim de ano, ainda vemos incertezas dentro ‘desse novo normal’”, disse.
Tráfego nas plataformas de e-commerce
Sobre os efeitos da crise na concessão de crédito e níveis de provisão, a empresa disse que o nível de perdas nos empréstimos pessoais atingiu 25,2% em junho, leve queda sobre março (25,8%), mas acima de um ano atrás (23,9%). A empresa disse ainda que projeta essa taxa em 28% no fim do ano, por conta do ambiente de piora em indicadores econômicos.
Para o nível de perda no cartão Riachuelo, a taxa foi de 7,1% em junho, era 7,4% em março e 6,6% em junho de 2019. A empresa estima esse índice em 8% no fim do ano.
A Guararapes elevou sua provisão para devedores duvidosos e manterá política de crédito conservadora, apesar de ter liberado, aos poucos, uma concessão um pouco maior para “clientes de melhor qualidade”, disse o diretor Tulio Queiroz.
A companhia está em fase de renegociação de dívida de 2021 e pode pré-pagar ou pedir prazo a debenturistas, afirmou, ao ser questionada por analistas sobre negociações envolvendo “covenants”, indicadores financeiros de endividamento que precisam ser respeitados pelas empresas, sob pena de ter vencimento de dívida antecipado por credores.
“Há um ambiente tranquilo de discussão com detentores de debênture e vamos avaliar o que podemos debater, se algum nível de preço para isso ou pré-pagar. Vamos ver o que financeiramente faz sentido. Estamos em plena fase de rolagem [dessa dívida] de 2021”, disse o presidente.