Modelo avança com oferta de planos de assinatura. Em alguns casos, não é preciso pagar nem pela lavagem da peça
Por Raphaela Ribas
Seguindo a tendência de outras marcas e apelos de consumidores, a Riachuelo acaba de lançar um serviço de aluguel on-line de roupas em parceria com a empresa especializada Clorent. Com a lavagem por conta da empresa e frete grátis em São Paulo, os clientes poderão locar peças avulsas ou fazer assinatura, que inclui três peças novas por mês por R$ 189.
Ou, ainda, a “malinha”, modelo no qual clientes poderão ficar com as roupas por 15 dias. Os preços variam conforme a quantidade. Por exemplo, cinco peças saem por R$ 490 e dez, por R$ 950. Por ora, as roupas disponíveis são todas femininas, como vestidos, macacões, blusas, casacos, calças, saias e até mesmo shorts e regata.
— O objetivo do Alugue Riachuelo é incentivar uma cadeia de consumo circular e aumentar a vida útil do produto com um melhor custo-benefício, possibilidades de oferecer uma moda mais consciente — diz a diretora de Comunicação e Marca da Riachuelo, Marcella Kanner, acrescentando que as peças alugadas não voltam para prateleira de venda, mas podem ser compradas caso o cliente as solicite.
Esse novo braço da Riachuelo reforça um movimento já consolidado no exterior e que vem ganhando força no Brasil: a aquisição de pequenas empresas de consumo consciente por gigantes do varejo.
Consumidor mais exigente
Para a professora de pesquisa e comportamento do consumidor da ESPM Karine Karam, a adesão desses novos negócios é mais uma resposta às cobranças dos clientes e aos novos concorrentes do que, de fato, uma transição sustentável:
— Não acho que seja sustentabilidade porque isso requer mudanças estruturais, como distribuir renda com todos da cadeia, manejo dos produtos para não agredir o meio ambiente, tecidos sustentáveis e outros. Falar de consumo consciente no mundo capitalista é inviável, porque teria que mexer no lucro. Essas novas linhas partem para atender o consumidor, que está mais exigente, e à nova concorrência que surgiu a partir dessa lacuna.
O empurrão para o engajamento das empresas, continua ela, é porque clientes mudaram e repensaram o consumo. Especialmente depois da pandemia, as pessoas buscam reciclar suas peças ou até mesmo obter renda extra com as roupas encalhadas no guarda-roupas. Tudo isso faz a moda girar sob outra perspectiva, criando novas oportunidades para o mercado.
No ano passado, o Grupo Arezzo&Co comprou a start-up curitibana Troc, um brechó on-line que funciona desde 2017. A fundadora e CEO, Luanna Toniolo, conta que, depois desse período atuando no digital, agora experimenta o modelo físico. Foram abertas duas lojas temporárias em bairros nobres de São Paulo e Curitiba para teste. A ideia é expandir.
— Essas lojas foram grandes laboratórios. Vamos avaliar se abrimos lojas permanentes ou manter esse modelo — diz Luanna.
A Renner também apostou nessa pegada e agora segue os passos de integração figital (que mescla físico e digital) e sustentável. Em julho, a varejista de moda comprou a plataforma de revenda de roupas Repassa. Em agosto, abriu uma unidade física em Belo Horizonte e, no início de dezembro, outra em São Paulo.
Tadeu Almeida, CEO e fundador da Repassa, diz que, como se trata de uma compra muito recente, a estratégia para 2022 ainda está em planejamento:
— A partir dessas duas primeiras experiências, o plano é expandir gradualmente o modelo para outras cidades do país. Por enquanto, podemos dizer que a ideia é ampliar a presença da marca e seguir com a integração na companhia.
Movimento oposto
O empresário explica que o Repassa faz a curadoria e o controle de qualidade das mercadorias e é responsável por todo o processo, incluindo precificação, produção de fotos e catálogos, logística e entrega das peças.
A marca conta também com pontos em empresas parceiras que distribuem as chamadas “sacolas do bem” para os clientes enviarem peças em bom estado de conservação para revenda.
Além da compra de brechós e negócios de aluguel de roupas, cresce no mercado um movimento contrário, o das pequenas lojas criando redes. É o caso do marketplace de locação de roupas e acessórios ClosetBoBags, que inaugurou no mês passado o primeiro hub de re-fashion em um espaço em Ipanema, no Rio.
A loja, que funcionava on-line desde 2009, agora tem ponto físico com produtos de marcas como Chanel, Gucci, Bottega Veneta, Jacquemus e Animale. Segundo a fundadora e CEO Bel Braga, na loja os clientes podem experimentar, agendar aluguéis, comprar peças, alugar e receber em casa, deixar seus closets para análise, montar seus looks com curadoria, entre outros serviços.
‘Clique djá’ para comprar:Varejistas aderem ao live shopping na internet
Já o brechó Daz Roupas, das irmãs Gabriella e Julia Wolff, abriu sua segunda loja física em Itaim Bibi, em São Paulo, neste mês. A meta delas é chegar a dez lojas em dois anos, além do digital. A dupla ainda lançou em dezembro um clube de moda circular, com mensalidade de R$ 3,99.
Fonte: O Globo