Por Gabriela Guido | A indústria têxtil é a segunda mais poluente do mundo, de acordo com um levantamento da Global Fashion Agenda, principalmente por conta da destinação inadequada dos seus resíduos têxteis. E o futuro dessa indústria não é animador: as projeções afirmam que o volume de descartes de tecidos deve aumentar 140% nos próximos anos.
Foi pensando em uma estratégia de logística reversa que a Riachuelo criou o programa ‘Moda que Transforma’, que coletava roupas usadas de seus clientes para doação ou para o descarte correto. Entretanto, a empresa percebeu que este programa não era o suficiente por não lidar com os resíduos do próprio processo de produção das roupas, como conta Valesca Magalhães, diretora de Sustentabilidade, Comunicação e Employer Branding da Riachuelo, a Época NEGÓCIOS.
Foi em 2021 que a rede de moda iniciou uma parceria com o grupo de biomanufatura do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, para desenvolver um processo de reciclagem de resíduos têxteis. A partir dessa união, surgiu o Hub de Inovação em Circularidade, que tem como parceiros a B3, a organização Retalhar, o escritório de advocacia SFCB, a empresa de importação e exportação Focus Têxtil e o Observatório de Pesquisa Internacional de Moda (Opim).
Três anos após o início do desenvolvimento, a marca já reciclou 8 toneladas de restos de tecidos, e lançou sua primeira coleção feita com o tecido reciclado para o Lollapalooza, festival de música que aconteceu em março.
Como funciona o reaproveitamento dos resíduos têxteis
Os resíduos têxteis usados no projeto foram os da fábrica de Natal (RN) da Riachuelo, que são produzidos no próprio processo de confecção das roupas. Eles precisaram ser separados de acordo com o tipo do fio e ser enviados para as tecelagens Dalila e Vicunha – esta última específica para o jeans.
Entretanto, para que um resíduo têxtil possa ser reutilizado, ele precisa passar por um processo de desfibragem – de rompimento das fibras do tecido. Nesta etapa, a equipe da Riachuelo e do IPT testaram três técnicas: um processo físico de desfibragem do tecido por máquinas, uma desfibragem química, com o uso de enzimas que rompem as fibras, e uma estratégia biológica, com bactérias que separam as fibras.
No final dos testes, a equipe escolheu o processo físico de desfibragem e chegou no desenvolvimento de um fio que tem a qualidade para produzir roupas. A desfibragem física, segundo a diretora de Sustentabilidade da Riachuelo, permite uma aplicação do projeto em maior escala e a replicação técnica pelas malharias que produziriam o tecido.
A possibilidade de aplicação do projeto em larga escala
Hoje, o processo de logística reversa da Riachuelo pega os resíduos têxteis da fábrica de Natal para a produção do fio e dos tecidos nas tecelagens externas parceiras. Mas a executiva da marca tem planos de diminuir a distância do processo de produção até a reciclagem dos resíduos com malharias parceiras mais próximas das fábricas ou com a criação de estrutura para que o processo aconteça dentro das próprias unidades fabris da Riachuelo.
“A ideia é que a gente possa transformar essa matéria-prima, feita a partir dos nossos resíduos de produção, em coleções perenes”, diz Valesca Magalhães. “Para isso, a gente produziria essas coleções dentro das nossas fábricas, e não em fornecedores externos.”
* Sob supervisão de Maria Carolina Abe
Fonte: Época Negócios