Apesar de estar mais cautelosa com a concessão de crédito no cartão Riachuelo, a empresa diz que não há risco para as vendas
Por Raquel Brandão
A Guararapes, dona da rede de fast fashion Riachuelo, diz que o ambiente macroeconômico tem feito com que a inadimplência cresça em suas operações financeiras, levando a uma maior cautela na concessão de crédito. O resultado da Midway, seu braço financeiro, foi de R$ 37,6 milhões, impactado pela menor receita de juros e por maior recomposição da provisão para devedores.
“Em relação a aumento de inadimplentes, temos visto um aumento na margem. Isso claramente é reflexo da questão macro que estamos vivendo”, disse nessa sexta-feira (13) o diretor financeiro, Tulio de Queiroz. “Realidade de taxa de juros mais alta é um ambiente em que a companhia sabe operar”, acrescentou.
Queiroz explicou que, diante do cenário, a companhia tem intensificado a cobrança, especialmente nos prazos até 60 dias, e sido mais cautelosa na concessão de crédito. Essa postura explica, segundo ele, a redução na margem bruta da operação financeira.
“Nosso objetivo é fazer a carteira crescer novamente com crédito de qualidade. Mas, para isso, temos que mexer um pouco em preço”, disse. Ou seja, em busca de clientes com melhor perfil de crédito, para diluir riscos, a companhia tem que ter oferta a juros mais baixos para o cliente.
O aumento da inadimplência, segundo ele, tem vindo das operações de cartão bandeirado, o cartão da própria loja. Isso se deve, afirmou Queiroz, ao aumento de desbloqueios de cartões com mais de seis meses de emissão.
Segundo ele, esse cliente que mantinha o cartão bloqueado era aquele que tinha emitido apenas para situações de emergência. Com o ambiente de renda disponível mais pressionada, mais clientes desse perfil têm desbloqueado seus cartões para usar, no entanto, a inadimplência deles é cerca de 2,5 vezes maior do que a média.
Apesar de estar mais cautelosa com a concessão de crédito no cartão Riachuelo, a empresa diz que não há risco para as vendas. “Não vemos com preocupação desacelerar a política de crédito para redução de vendas. Já tem bastante tempo que não trabalhamos no limite, que não tem correlação muito forte entre apertar a carteira de crédito e reduzir os gastos na loja”, disse Queiroz.
Após um janeiro mais fraco e da recuperação observada especialmente em março, o grupo afirma que as vendas em abril continuaram com crescimento consistente.
Na confecção, a coleção feminina tem sido a principal alavanca para o avanço, seguida da categoria infantil. A categoria de eletrônicos seguiu muito impactada pela falta de componentes na cadeia de suprimentos. Por isso, a empresa focou em produtos de áudio e beleza para compensar parte do impacto da venda de smartphones e celulares.
De acordo com a direção da companhia na teleconferência, em fevereiro e março, o grupo conseguiu repassar o aumento dos custos para as coleções, o que foi bem aceito pelo público e ajudou a melhorar a margem.
“Em abril, as margens de estoque e venda estão dentro do plano desenhado para 2022, que é de entregar uma margem bruta melhor do que a de 2019”, afirmou Queiroz.
Por isso, o presidente da Guararapes, Oswaldo Nunes, se disse otimista com os números do segundo trimestre, que se encerra no fim de junho. “Estamos bastante animados com o potencial de resultado no segundo trimestre, por melhorias internas que estão começando a aparecer.”
O maior desafio, segundo Queiroz, está no lado de suprimentos, dado que os “bons fornecedores estão disputados”. Isso deve desafiar a formação de estoques do setor, segundo ele.
Olhando para as iniciativas do grupo em formar um ecossistema, que envolve marcas, operações financeiras e marketplace, a empresa destacou que espera aumentar o sortimento da plataforma e que novas marcas são uma alavanca de crescimento. Recentemente, a empresa lançou a marca de moda geek Fan Lab, que deve ganhar mais duas ou três lojas até o fim do ano.
“Nossa unidade de ‘M&A’ [fusões e aquisições] segue olhando possíveis aquisições para complementar ecossistema e oferecer novos produtos”, disse Nunes.
Fonte: Valor Econômico