Com a reabertura prevista nos grandes centros urbanos, expectativa é de recomposição do gasto das famílias
Por Marsilea Gombata
Depois de registrar o pior trimestre da história entre abril e junho de 2020, o comércio varejista paulista espera uma retomada mais equilibrada neste ano. Com a reabertura prevista nos grandes centros urbanos, a expectativa é de recomposição do gasto das famílias, com maior procura em itens de vestuário e veículos e menor demanda por produtos de higiene, alimentação e materiais de construção.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) projeta para este ano crescimento em torno de 10% do varejo, após o avanço modesto de 1,9% registrado em 2020.
Estudo da FecomercioSP sobre o valor do Tíquete Médio Mensal Familiar (TMF) com produtos do varejo no Estado de São Paulo mostra que o avanço das vendas em 2020 foi puxado por artigos de reforma e construção e itens de supermercados, em um contexto de restrição da mobilidade e de renda causado pela pandemia.
“No segundo trimestre do ano passado tivemos queda do varejo de 11% em termos reais. Na segunda metade do ano houve recomposição disso, mas de forma desordenada. Esses gastos foram canalizados para consumo de famílias que estavam mais em casa e começaram a investir em pequenos reparos, assim como móveis. Ou seja, as necessidades de habitação passaram a responder por maior fatia dos gastos das famílias, cujas despesas com serviços, restaurantes e viagens estavam cerceadas”, afirma Altamiro Carvalho, economista da Fecomercio. “Essa retomada no segundo semestre se deveu à demanda reprimida do semestre anterior e ao auxílio emergencial. Sem ele, teríamos fechado 2020 em queda de 4% e não em alta de quase 2%.”
O estudo mostra que a pandemia redirecionou o foco dos hábitos de consumo do consumidor paulista, dando maior ênfase a compras em supermercados, farmácias e materiais de construção. Os gastos em lojas de material de construção representavam 7,4% das despesas com varejo em 2008, passaram a 7,5% em 2019 e subiram para 8,7% em 2020, lembra Carvalho. Gastos com reforma e construção avançaram 16,9% no ano passado. Com alimentação e produtos de higiene e limpeza, subiram 12,1%. Em todo o Estado, os gastos com móveis e artigos do lar cresceram 4,5%. Na capital caíram 13,2%, em Jundiaí cresceram 66,7%, e em Araçatuba aumentaram 335,6%.
Dentre os setores que foram mais impactados estão os de vestuário e veículos, que encontram barreiras para expandir no e-commerce. Em média, cada família no Estado gastou, por mês, com roupas e calçados, R$ 276,87 em 2020, 21,5% a menos do que em 2019. Os gastos com veículos caíram 19%, o que deixa claro como a crise sanitária afetou a confiança do consumidor para a aquisição de bens duráveis, segundo o estudo.
A tendência para 2021 é que as perdas das vendas de vestuário e veículos sejam parcialmente recompostas. “Neste semestre, com a retomada de atividades como restaurantes e viagens, deve haver redução do crescimento do consumo varejista. Até aqui, restrições com viagens acabaram sendo redirecionadas para o comércio, mas com as pessoas viajando mais deve haver redução dessa alta do varejo”, diz Carvalho. Ele afirma que vendas em supermercados representam 38% dos gastos no varejo e devem chegar a 30%, e as com vestuário devem passar de 6% a 8,5%.
O economista prevê crescimento para todas as áreas, por conta da demanda ainda reprimida, mas de forma mais desacelerada e equilibrada. “A previsão é que haja crescimento muito mais equilibrado, salvo qualquer imprevisto nas condições sanitárias”, diz, ao citar crescimento de dois dígitos para os setores de vestuário e veículos e queda de materiais para reforma. A retomada neste ano dependerá das variáveis renda e emprego, crédito e inflação, que “hoje estão conflitantes”, na visão de Carvalho.
“Há aumento da oferta de crédito, mas a juros mais altos. A questão renda e emprego é uma incógnita. A renda formal está se recuperando, mas a informal não. E a inflação é o elemento determinante nisso, pois é o indicador que corrói a renda de baixo para cima”, diz, ao prever que a inflação se estabilize a um patamar elevado de 8% neste ano.
Fonte: Valor Invest