O grupo carioca de moda Reserva vai investir R$ 30 milhões em 2020, a maior cifra desde o começo de suas operações em 2006. Os recursos serão destinados à abertura de lojas, infraestrutura e inovação, segundo o fundador e presidente-executivo da varejista, Rony Meisler. Apesar das incertezas que ainda cercam a economia brasileira, a Reserva projeta receita de vendas de R$ 480 milhões este ano, crescimento de 20% frente aos R$ 400 milhões obtidos em 2019.
A empresa conta hoje com 80 lojas próprias e 50 franquias. Até 2023 o plano é dobrar o número de unidades próprias, para 160, e atingir 200 franquias. A grife está presente ainda em 1,4 mil multimarcas. Além da rede de roupas masculinas, a Reserva possui as marcas Reserva Mini, Eva, Ahlma e Oficina. Também é dona da plataforma RSV+, que desenvolve parcerias com outras varejistas. O valor médio das peças é de R$ 200.
Na semana passada, o grupo recebeu a certificação de sustentabilidade do Sistema B, criada pela organização americana B Lab. Meisler diz que a Reserva se tornou a maior empresa de moda da América Latina a entrar para o movimento global de certificação sustentável, ao lado de marcas internacionais como a varejista Patagonia, a fabricante de sorvetes Ben & Jerry´s e a calçadista Vert. No Brasil, a maior companhia que detém o selo é a Natura. Para receber a certificação, a Reserva teve que comprovar práticas sociais e ambientais. A certificação se baseia em metas cumpridas, e não em compromissos assumidos para o futuro.
Meisler disse que práticas como essa geram valor para o negócio e precisam ser sustentáveis financeiramente. “Cada vez mais o consumidor acaba escolhendo empresas mais preocupadas com essas práticas. Isso gera um valor de negócios, fundamentalmente com a juventude”, afirmou o empresário.
Para além do consumidor, tais medidas começam a ser consideradas como geração de valor pelo mercado financeiro, afirma o diretor operacional da companhia, Jayme Nigri Moszkowicz. E por causa desse posicionamento, a Reserva foi convidada por um dos maiores bancos do país, cujo nome não foi revelado, a participar de projeto-piloto para análise de tomada de crédito com base em critérios que vão além do resultado financeiro. As ações da Reserva nas áreas de governança e sustentabilidade podem vir a facilitar o acesso a financiamentos mais baratos e mais longos.
“Hoje o rating de crédito é baseado basicamente nas demonstrações financeiras. Esse piloto também considera que práticas sócio-ambientais, de governança e transparência passem a ser medidas de forma mais objetiva e contribuir positivamente para o rating”, diz Moszkowicz. Foi o próprio banco que procurou a empresa para participar deste piloto.
Para Meisler, o país vive um momento de prosperidade econômica. “A queda da taxa de juros gera aquecimento econômico super-relevante” afirma. As “vendas mesmas lojas” (pontos de venda abertos há mais de 12 meses) da Reserva cresceram 10% em 2019. A empresa mudou o centro de distribuição para um espaço três vezes maior e investirá em estrutura e tecnologia para a área de logística.
Além de seus fundadores, a Reserva tem como sócios as gestoras Dynamo e Joá Investimentos, do apresentador Luciano Huck. Com as mudanças na economia e no mercado de capitais, Meisler passou a considerar a possibilidade de fazer uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
Recentemente, o também carioca grupo Soma, dono de marcas como Animale e Farm, protocolou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o prospecto preliminar para a realização de uma oferta pública inicial de ações, assim como a empresa de roupas esportivas Track & Field. “Há alguns anos, seria impensável cogitar o que está acontecendo no mercado de capitais hoje. Há uma demanda de mercado por abertura de capital em algum momento e olhamos com bons olhos para isso. Seria bonito ver o consumidor como acionista. Temos que entender o momento certo”, afirmou Meisler.
Fonte: Valor Econômico