As varejistas de moda Renner, C&A e Zara vão investir R$ 1,5 milhão, ao longo de um ano e meio, em uma parceria público-privada (PPP) cujo objetivo é melhorar as condições de trabalho e a gestão de oficinas de costura na região metropolitana de São Paulo. O projeto, sob gestão da Organização Internacional do Trabalho (OIT), terá como foco imigrantes ilegais, em especial bolivianos, peruanos e paraguaios.
Essa população, estimada em 350 mil pessoas, é submetida com frequência a condições análogas à escravidão e está espalhada em bairros como Brás e Bom Retiro, no centro de São Paulo, e nas zonas Leste e Norte da cidade. “Vamos trabalhar em parceria com órgãos públicos para que essas pessoas sejam regularizadas, que seus filhos possam frequentar creches”, diz o diretor-executivo da Associação Brasileira de Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima. Esta entidade, que reúne 23 varejistas de moda, e a Associação Brasileira Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) também assinaram o compromisso de criar a PPP.
Se der certo, o projeto, que terá como gestor Paulo Mouçacah, da OIT, poderá ser replicado em outros municípios paulistas e Estados. Segundo Lima, há 22 mil confecções de roupa em funcionamento no país, sendo 97% delas de micro e pequeno portes, e concentradas nas regiões Sul e Sudeste.
A estimativa é que 30% da produção de roupa no Brasil esteja na informalidade. Na ponta do varejo, diz Lima, essa fatia também é de 30%, mas pode ter chegado a 40% por causa da recessão prolongada, de quase três anos.
O projeto também prevê capacitar donos de pequenas confecções, com orientação nas áreas financeira e de recursos humanos. Lima lembrou que não é raro imigrantes ilegais que foram submetidos a condições degradantes em oficinas de costura, repetirem o sistema cruel e criminoso quando se tornam donos de suas confecções.
Em fase de definição de metas e indicadores, a PPP pretende trabalhar com as comissões de erradicação de trabalho escravo do governo paulista e da prefeitura, embora esta última esteja com sua comissão, ligada à Secretaria de Direitos Humanos, “momentaneamente paralisada”, observou Lima.
O executivo, que trabalhou por 18 anos na C&A e está no comando da Abvtex desde dezembro de 2015, lembrou que a associação tem um programa de certificação de fornecedores. Desde 2010, já foram certificadas 4.112 empresas, sendo dois terços delas micro e pequenas oficinas de costura. Elas empregam 280 mil pessoas e uma vez por ano têm suas operações auditadas.
Esse tipo de monitoramento ganhou impulso no Brasil e no mundo nos últimos anos, com a divulgação de casos de trabalhadores sendo explorados por fabricantes de vestuário e de calçados.
Fonte: Valor Econômico