Sem fazer alarde, a brasileira Lojas Renner já é quase do tamanho da Macy’s, uma das maiores redes de departamento dos EUA. É o que se vê quando se coloca frente a frente o valor de mercado das duas companhias. O total de ações da brasileira equivale a R$ 19,549 bilhões ou US$ 5,9 bilhões. Já a rede americana totaliza um valor de mercado de US$ 6,8 bilhões, apenas 10,7% acima da varejista brasileira. Por trás dessa aproximação há dois fatores: de um lado, uma mudança de comportamento do consumidor que enfraqueceu o modelo de negócios da empresa americana, que vem encolhendo; do outro, uma gestão que conseguiu garantir o crescimento dos resultados mesmo em um ambiente de forte recessão econômica no Brasil.
A Macy’s simboliza o consumo americano, mas suas vendas estão em queda e só no ano passado fechou 66 lojas. As vendas recuaram 7,5% no primeiro trimestre de 2017 e o lucro caiu 38,8%.
“Os resultados da Macy’s continuarão pressionados pela redução da frequência nas lojas e a mudança do consumidor para a compra digital. Iniciativas para recompor as perdas podem demorar um tempo para ter efeito. É provável que mais lojas fechem”, explicou Poonam Goyal, analista sênior da Bloomberg Intelligence.
Assim como outras lojas de departamento americanas (JCPenney e Sears, que também estão fechando lojas), A Macy’s enfrenta redução no fluxo de pessoas devido a preferência do público pelo e-commerce e redes de “fast fashion”, como Zara e H&M — mais ágeis na renovação de coleções e com menores custos.
Se a Macy’s tem problema com a concorrência, a Renner vai na trajetória oposta, o que explica a valorização de mais de 30% de suas ações em 2017. A empresa também atua no modelo de “fast fashion”, com mudança constante das peças e tem 451 lojas sob as bandeiras Renner, You Com e Camicado.
O plano de expansão da Renner continua em andamento e contempla a abertura de duas lojas no Uruguai ainda neste ano, já que o país vizinho tem renda média maior do que no Brasil.
Apesar da recessão, o faturamento no primeiro trimestre da Renner chegou a R$ 1,4 bilhão, uma alta de 14,7%. A empresa, nos últimos anos, vem conseguindo apresentar resultados melhores que os concorrentes, graças ao controle de custos, manutenção de margens e baixo endividamento. A venda de produtos financeiros também garante um bom ganho para a empresa.
“A Renner se comporta bem mesmo em períodos de alto estresse. Tem um processo de decisão muito bom, que permite uma dinâmica maior para mudanças. Ela foi a empresa menos penalizada do setor na crise”, avalia Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial.
Loja virtual
Outro ponto destacado por analistas é que a Renner consegue fidelizar o cliente e estimulá-lo a comprar em seu site. A coleção de outono-inverno foi lançada com um desfile transmitido ao vivo nas redes sociais, e os produtos exibidos podiam ser comprados na hora, em um conceito chamado de “see now, buy now” (veja agora, compre agora). No dia seguinte, as peças já estavam disponíveis em todas as lojas físicas. E o espaço para crescer em um retomada gradual da economia é grande, porque a loja se dedica a um varejo em que os valores médios das compras são mais baixos do que os praticados em redes de eletroeletrônicos.
“Em meio a uma crise sem precedentes do varejo brasileiro, a empresa passou a ter crescimento mais tímido, mas ainda muito melhor que os de seus concorrentes, mostrando que a companhia tem grande poder de ‘pricing’, ‘branding’, atendimento e disposição geográfica”, diz Philip Soares, analistas da Ativa.
Chegar próximo ao valor de uma grande empresa similar nos EUA, onde o mercado é maior e mais desenvolvido, é algo raro entre as empresas brasileiras. A Via Varejo, por exemplo, tem um valor de mercado que equivale a menos de 10% da Best Buy. O Itaú Unibanco vale cerca de 25% do JP Morgan, mais ou menos a mesma proporção da Petrobras em relação à Exxon Mobil.
Esta semana, a Macy’s anunciou que deve entregar no segundo trimestre do ano margens de ganhos ainda menores do que no primeiro trimestre, o que reforçou a queda no valor das ações. No ano, o tombo já é de quase 40%. No entanto, prometeu melhorar os resultados até o fim de 2017, com um plano de promoções capaz de atrair o consumidor para a loja e a maior participação de linhas de roupas exclusivas.
Fonte: Época Negócios