Enquanto o varejo brasileiro sofre os efeitos da recessão econômica, tendo sido obrigado a fechar 167 mil lojas entre janeiro de 2015 e junho deste ano, a Renner ampliou a sua meta de abertura de lojas até 2021 e começa a testar sua operação internacional. A companhia ampliou de 408 para 450 o número de lojas Renner a serem abertas até 2021. A varejista também prevê chegar ao fim do período com 130 lojas da Camicado e 300 Youcom. Atualmente, a Renner possui 284 lojas da Renner, 72 unidades da Camicado e 52 da Youcom.
Fora do Brasil, a Renner começa a testar o mercado no Uruguai em 2017, com duas lojas em Montevidéu – uma no Shopping Carretas e outra no centro da cidade. José Galló, presidente da Renner, afirma que, se o projeto der certo, a empresa pode abrir unidades em outros países da América Latina, como Chile ou Argentina.
Os planos, que podem ser vistos como ousados se considerado o cenário atual para o comércio brasileiro, são consequência de um trabalho realizado pela companhia desde os anos 90, quando foi transformada de uma loja de departamentos para uma varejista exclusiva de moda.
De 2010 a 2015, enquanto o varejo de vestuário acumulou um crescimento de 29,8%, chegando a R$ 102,5 bilhões em 2015, segundo a Euromonitor International, a receita líquida da Renner cresceu 123,4%, fechando 2015 com R$ 6,145 bilhões. O lucro da Renner cresceu 87,9% em cinco anos, chegando a R$ 578,8 milhões em 2015.
Especificamente no ano passado, o varejo de vestuário encolheu 8%, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), enquanto a Renner cresceu 17,4% em receita líquida, para R$ 5,45 bilhões. Com esse desempenho, a companhia ultrapassou a C&A, líder em varejo de vestuário por décadas no Brasil e tornou-se a maior empresa do setor, com 5% de participação, segundo a Euromonitor.
Em 2015, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização da Renner (Ebitda, indicador usado para avaliar a capacidade de gerar caixa com a atividade principal da empresa) chegou a R$ 1,247 bilhão, com alta de 18,4% em relação a 2014. O lucro líquido cresceu 22,8% em 2015, para R$ 578,8 milhões. Já as rivais Riachuelo e Cia. Hering tiveram quedas nos lucros, de 27,1% e 11,8%, respectivamente. Outra concorrente, a Marisa, fechou 2015 com prejuízo de R$ 38,8 milhões.
No primeiro semestre deste ano, a Renner segue com um desempenho acima da média do mercado, com um crescimento na receita de 6,8%, para R$ 2,895 bilhões, enquanto o setor acumulou queda de 11,1% no semestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O lucro líquido aumentou 3,9%, para R$ 240,3 milhões.
Para Galló, o desempenho acima da média é resultado do desenvolvimento de uma proposição de valor, traduzida em produtos e serviços, que agradou aos consumidores. “A crise é um teste às proposições de valor das empresas. A nossa está resistindo a esse momento mais desfavorável”, afirma o executivo. Ele também acrescenta que a companhia tem mantido uma forte disciplina financeira para conter aumentos de custos e garantir boas margens de lucro.
A Renner mantém uma equipe de estilistas que criam as coleções vendidas em suas lojas. A companhia também conta com 12 engenheiros que auxiliam na gestão as confecções contratadas. Para a distribuição de produtos, a Renner conta com dois centros de distribuição totalmente automatizados, que separam produtos peça por peça, para repor estoques nas lojas.
Nos últimos dois anos, a varejista também investiu na implantação de novos softwares de gestão empresarial, da Oracle. O processo foi concluído agora em gosto. “Esse novo sistema vai melhorar nossa eficiência e agilidade tanto na administração quanto nas lojas e nos centros de distribuição”, afirma Galló. O executivo acrescenta que essa agilidade na administração, somada a escolhas acertadas de coleções, garantem um desempenho acima da média do mercado.
Neste ano, a companhia manteve o projeto de investimentos de R$ 550 milhões, 10% a mais em relação a 2015. O recurso será usado para a abertura de 25 lojas da Renner, 25 unidades da Camicado e 20 lojas da Youcom, além de reformas de lojas maduras e investimentos em tecnologia.
O presidente da Renner acrescentou ainda que a companhia se mantém atenta às dificuldades que o cenário macroeconômico e político brasileiros ainda apresentam, mas não vai parar os projetos por conta disso. “Olhamos para os indicadores macroeconômicos, mas não estabelecemos objetivos em função deles. Os indicadores são um alerta de que, se a empresa não fizer nada, terá resultados ruins. Nosso desafio é adotar medidas para superar esse ambiente”, afirma Galló. O executivo disse ainda que vê possibilidade de consolidação do varejo de vestuário no futuro, mas que a companhia pretende ampliar sua participação de mercado essencialmente com crescimento orgânico.
Galló vê melhora nos índices de confiança de consumidores e empresários, mas espera ações rápidas do governo de Michel Temer, agora efetivado. Ele acredita que os primeiros cem dias serão cruciais para mostrar o que o presidente pretende fazer para tirar o país da recessão. “O governo terá que produzir resultados que animem a população, que mostrem mudanças concretas”, afirmou Galló. “Precisa começar a concretizar ações o mais rapidamente possível”, concluiu.