Grandes varejistas vão lançar mão da Medida Provisória 936/2020 que permite redução de jornada de trabalho e de salários, suspensão temporária do contrato e pagamento de benefício pelo governo. Depois de Magazine Luiza informar na terça-feira que estuda como aplicar essas medidas, Lojas Renner e Via Varejo (dona de Casas Bahia e Ponto Frio) seguirão o mesmo caminho. Somadas, elas empregam pouco mais de 100 mil pessoas.
As empresas devem definir nos próximos dias, após análise de seus comitês de crise, quais medidas adotarão. A MP permite redução da jornada de trabalho e de salário de 25%, 50% ou 70% por até três meses, ficando o governo responsável pelo pagamento do restante do salário com o uso de parte do seguro-desemprego.
Se optarem por suspender contratos de trabalho, as redes terão de bancar 30% do salário do empregado durante a suspensão, que pode durar até 60 dias. O governo pagará o equivalente a 70% do seguro desemprego a que o empregado teria direito. “Vamos avaliar todos os recursos legais possíveis com o intuito de manter empregos. Não fizemos nenhuma demissão e nossa direção hoje é de manutenção do quadro”, diz Laurence Gomes, diretor administrativo financeiro da Renner.
Na terça-feira, em debate promovido pelos jornais Valor e “O Globo”, a empresária Luiza Helena Trajano, membro do conselho de administração do Magazine Luiza criticou a interferência do Superior Tribunal Federal nessa questão. O Magazine analisa aplicar a MP à sua operação.
Na segunda-feira, o ministro do STF Ricardo Lewandowski determinou que as reduções de salário e a suspensão temporária do contrato sejam comunicadas aos sindicatos. Segundo Luiza, nem o sindicato deveria aceitar isso: “Num momento em que todo mundo está fazendo as coisas rapidamente, nós temos que voltar [da forma como era antes da MP 936]. Vai atrapalhar profundamente”.
Chama a atenção o fato de empresas com caixa robusto estudarem buscar apoio do governo – caso de Magazine Luiza e Renner. “Mesmo as mais resilientes precisam avaliar todas as alternativas. Há inúmeras medidas de apoio do governo, mas muitas ainda não saíram do papel. Esse fator, além da certeza de que a retomada do varejo será muito lenta, gera uma imprevisibilidade grande”, diz Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.
As varejistas também avançam em negociações junto aos fornecedores para reduzir custos e ampliar prazos de pagamentos. É uma forma de diminuir o ritmo de saídas de capital e melhorar o ciclo de caixa (conta formada por estoques, prazo de pagamento e de recebimento). Com estoques altos e parte dos pagamentos paralisada, esse ciclo se desequilibrou no setor. A Leroy Merlin comunicou alguns pequenos fornecedores em março sobre postergação de pagamentos – com prazo de vencimento de 60 dias, apurou o Valor com três prestadores de serviço.
Em um deles, da área de tecnologia, ainda não há data para pagamento. Procurada, a Leroy Merlin não se manifestou.
A Via Varejo informou em março a alguns fornecedores de pequeno e médio portes que adiaria pagamentos em até 30 dias. Segundo o site “Brazil Journal”, a postergação afeta transportadores e fornecedores de material de escritório. Procurada, a empresa não se pronunciou. O Valor apurou que Via Varejo está debruçada sobre as novas condições jurídicas que pode acionar para reduzir o peso da folha em seus gastos. A ideia é ter isso estruturado até a volta dos empregados, com o provável fim de quarentena neste mês.
Fonte: Valor Econômico