Entre os pontos de atenção citados pelos executivos da varejista estão a inflação e o fim do impacto de demanda reprimida
Por Raquel Brandão
Depois de um segundo trimestre acima do esperado, a varejista Lojas Renner estima que as vendas encontrarão um cenário mais desafiador no segundo semestre, disseram nesta sexta-feira (05) o presidente, Fabio Faccio, e o diretor financeiro, Daniel Martins, em teleconferência de resultados.
“O cenário de compras é mais desafiador, por inflação e não ter mais o impacto de demanda reprimida”, disse Martins. A projeção, segundo ele, é de que as vendas cresçam em nível similar ao observado no primeiro trimestre em comparação a 2019. “De 35% a 40% versus 2019. Essa é a referência que temos como base na expectativa de crescimento para o segundo semestre.”
De acordo com o presidente do grupo — que além da varejista de moda Renner, é dono das marcas Ashua, Youcom e da marca de itens para casa Camicado —, a empresa considera essa projeção provável porque, apesar de indicadores positivos para o consumo como os auxílios, nesse semestre que começou há menor efeito do inverno e da demanda reprimida após cerca de dois anos de isolamento social.
“Considerando o movimento de vendas no início de julho, por exemplo, entendemos que poderíamos ter vendido um pouco mais, mas se deve ao melhor desempenho que tivemos em abril e maio. Agora começamos a ver uma situação mais normalizada”, explicou. Ainda segundo o executivo, o tráfego nas lojas também ainda não está inteiramente recuperado.
E, embora tenha tomado uma posição mais conservadora na concessão de crédito pela operação da Realize, sua unidade financeira, Faccio diz que ainda não se sente impacto nas vendas.
O desempenho operacional positivo no varejo ajudou a companhia a melhorar indicadores de rentabilidade. As vendas em bom ritmo, por exemplo, permitiram chegar ao menor patamar de remarcações de preço nos últimos anos.
“Continuando a ter sucesso nas coleções, a tendência é que tenhamos menos ‘mark down’. Essa equação de margem bruta tende a ficar muito próxima do nível de 2019. Usamos essa referência porque entendemos que é uma boa referência após três anos de muita inflação”, explicou Martins.
Já sobre o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), os executivos afirmaram que houve uma velocidade de recuperação que foi pontual do segundo trimestre, por causa do volume de vendas e da coleção de inverno.
“Foi um ponto fora da curva com relação aos outros trimestres. Mas acreditamos que vamos continuar recuperando a margem Ebitda daqui até os próximos dois anos”, disse Martins, citando a margem de 2019 como referência. “Crescimento do Ebitda nominal mais crescimento de ‘topline’ [receita] é a alavanca que estamos buscando.”
Realize
Se os resultados do varejo das operações da Lojas Renner foram bastante positivos, na operação de serviços financeiros, a Realize, o aumento da inadimplência foi ponto negativo.
“Na parte da inadimplência, fizemos algumas ações para mitigar a perda e continuar a navegar bem. Para a Realize, o desempenho é um pouco menor do que se esperava, mas, por outro lado, estamos com desempenho melhor de varejo”, disse Faccio.
A companhia, segundo Faccio e Martins, tem buscado, agora, intensificar a melhora da situação da carteira de crédito. Martins explica que o atraso acima de 90 dias, gera maior nível de provisionamento.
Entre as ações tomadas estão o bloqueio de cartões inativos, intensificação da cobrança e o acionamento de devedores mais cedo do que normalmente faria. Isso já começou a se refletir na linha de atraso até 60 dias, segundo o diretor.
“Quando a gente começa a ter nível de inadimplência maior, principalmente acima de 90 dias, a gente faz maior previsão. A cobertura da carteira anda de mãos dadas com os critérios do IFRS 9. O que estamos projetando, agora, é uma melhora em relação à carteira ao longo do terceiro e quarto trimestres, mas mais no quarto trimestre”, disse Martins.
Fonte: Valor Econômico