Por Paula Barra | A explosão das apostas online no Brasil tem acendido um alerta na economia e no orçamento das famílias. Mas para a XP, a coisa ainda pode piorar.
Num relatório publicado hoje, o time de análise da corretora diz que a regulamentação do setor, prevista para entrar em vigor em janeiro, pode intensificar ainda mais o impacto negativo das bets no poder de compra dos brasileiros.
“Esse é um problema que veio para ficar e deve ser monitorado de perto,” diz a equipe liderada por Danniela Eiger.
Desde 2018, a participação das apostas online no orçamento familiar brasileiro triplicou, e o impacto foi cinco vezes maior nas classes D/E. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que 63% dos entrevistados tiveram sua renda comprometida por causa das apostas.
De acordo com o Instituto Locomotiva, cerca de 33 milhões de pessoas de classes com menor poder aquisitivo já realizaram apostas online, e 22 milhões apostam pelo menos uma vez por mês.
Aprovada em dezembro de 2023, a regulamentação das apostas online trará novas obrigações, como a exigência de sede e representação legal no Brasil, uma taxa de licenciamento de R$ 30 milhões e a tributação de 12% sobre a receita das plataformas, além de 15% sobre os ganhos dos usuários.
No entanto, experiências internacionais – no Reino Unido, Colômbia e Estados Unidos – mostram que, após a regulamentação, o volume de apostas tende a crescer ainda mais, impulsionado pela entrada de novos usuários e pelo reinvestimento dos ganhos nas plataformas.
Nos EUA, os depósitos iniciais aumentaram em 8 vezes nos 12 trimestres seguintes à legalização. Segundo o Statista, o número de usuários ativos no mercado de apostas online nos EUA deve atingir 96 milhões (cerca de 27% da população) até 2029, em comparação com 55 milhões em 2023 (16% da população).
“Precisamos acompanhar de perto o desenvolvimento do mercado de apostas no Brasil para entender suas implicações para o varejo,” alertam os analistas.
No Brasil, esse mercado é dominado por homens jovens de baixa renda, especialmente na região Sudeste. O gasto mensal médio com apostas gira em torno de R$ 263, o que representa cerca de 18% do salário mínimo. Entre os apostadores, 23% jogam pelo menos uma vez por semana, enquanto 12% fazem apostas diariamente.
A XP projeta que, em 2024, o volume bruto de apostas online deverá ficar entre R$ 90 bilhões e R$ 130 bilhões, com um crescimento anual composto (CAGR) de 89% entre 2020 e 2024.
Fonte: Brazil Journal