O impacto desse movimento é um aumento da eficiência e, consequentemente, uma concorrência ainda mais acirrada num mercado em que nunca foi fácil atuar
No ano de 2020, se viu um boom de empresas de todos os setores, inclusive do varejo alimentar, em busca de capital. Carrefour e GPA , as pioneiras na Bolsa de Valores , ganharam a companhia do Grupo Mateus (MA). E, se a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aprovar os pedidos já anunciados de Big , Cencosud , Assaí e CSD , verão mais empresas com dinheiro no bolso para expandir seus territórios e investir em digitalização.
O projeto dessas empresas de abrir capital se tornou viável com a entrada de mais de 3 milhões de pessoas físicas na Bolsa. Elas passaram a aplicar em ações, totalizando mais de R$ 400 bilhões em novembro último, segundo a própria Bolsa. Algo que equivale a mais ou menos 6% do PIB. A baixa taxa de juros e a perspectiva de controle sobre a inflação, entre outras razões, provocaram o boom e atraíram também fundos de investimento.
“Nem todas as IPOs (Ofertas Públicas Iniciais), que marcam a estreia na Bolsa, tornam as empresas mais competitivas, porém, na média, é exatamente isso que acontece”, explica Gustavo Oliveira, analista do setor de consumo do UBS BB na América Latina.
As varejistas que já arregaçaram as mangas querem levantar recursos para espalhar lojas de atacarejo pelo mercado. “Quem tem ambição tem que ter atacarejo”, diz André Bolonhini, sócio da consultoria Bain & Company . “Até o País se recuperar de maneira robusta, o que deve demorar, o atacarejo continuará sendo a melhor alternativa”, acrescenta André Pimentel, sócio da Performa Partners . Segundo ele, a expansão da classe média está travada, e o sonho de consumo ilimitado e perene se desfez. “As pessoas continuarão buscando preço baixo,” raciocina.
Entre as empresas que pleiteiam a entrada na Bolsa há também as interessadas em investir na digitalização da companhia e no e-commerce. Para Oliveira, do UBS, o sortimento de mercearia seca está fluindo bem pelas plataformas de super e hipermercados e passou a se destacar também na de outros varejos, como Magazine Luiza e Mercado Livre . “A rede alimentar que patinar na venda online certamente perderá receita”, aposta. Em outras palavras, a concorrência continuará implacável.
Regionais com a faca e o queijo
O Grupo Mateus poderá servir de exemplo a outras regionais, hoje avessas a abrir capital em função da característica familiar e desejo de manter o controle total sobre a operação. “Mesmo com esse perfil, o Grupo foi para a Bolsa a fim de expandir seus domínios e buscar escala com fornecedores”, declara Bolonhini.
Apesar do excesso de ofertas de IPO no segundo semestre de 2020, o que gerou certa competição pelo dinheiro do investidor, Arthur Machado, sócio da Ondina Investimentos , ressalta que existem várias redes regionais em condições de abrir capital. Segundo ele, companhias com boa governança, boa operação e receita semelhante à do Mateus (R$ 9,9 bilhões/ano) estão aptas a estrear na Bolsa. Ele explica que empresas menores também podem fazer IPO, porém as mais robustas costumam ser mais aderentes. O mercado de capitais ainda é muito restrito. “Vejo enorme potencial para redes como BH, Zona Sul, Atakarejo e Nordestão”, aponta Machado. “A concorrência das organizações regionais não é nada trivial. E elas podem avançar e incomodar ainda mais seus pares”, aposta.
Fonte: S.A. Varejo