Por Adriana Mattos | O varejo parece ter adotado a estratégia do “vão-se os anéis, ficam os dedos” quando se trata de gestão de seus ativos.
Ganhou força ainda maior, neste ano, as ações em torno de venda de imóveis, como lojas, centros de distribuição e sede, em troca da entrada de recursos novos em caixa, redução de alavancagem, e de olho num enxugamento de estruturas já prevendo período “macro” mais duro.
Hoje, o GPA, dono da rede Pão de Açúcar, informou que deve vender a sede da companhia, na região dos Jardins, em São Paulo, local histórico a partir de onde foi construída a empresa – que chegou a ser a maior varejista da América do Sul na gestão de Abilio Diniz.
Foi ali que nasceu a loja número um, ainda existente, e onde o pai de Abilio, Valentim dos Santos Diniz, abriu a doceira que deu o nome à empresa. Após a abertura da doceira, a área virou um supermercado e depois, a sede administrativa ao lado.
Pela avaliação da empresa, a sede vale R$ 250 milhões, e a operação se dará no modelo “sale and leaseback”, com a venda da propriedade e locação do imóvel de volta para a companhia.
Ainda devem ser vendidas 3 lojas, que representam pouco mais de R$ 300 milhões. Outra unidade da companhia, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, representa R$ 250 milhões. São movimentos que devem ser concluídos até fim do ano. Construtoras e fundos imobiliários tendem a ser os grandes compradores, apesar de um cenário ainda de liquidez comprometida para esses negócios pela escalada da Selic.
GPA deve reduzir sua alavancagem com essas negociações, algo que já vinha no radar do grupo.
Em poucas semanas, foram outros anúncios nessa linha. O Assaí disse a analistas, em abril, que estuda a venda de imóveis da empresa também no modelo “sale and leaseback”, como disse o comando. A decisão não estava tomada naquele momento, mas o estudo irá avançar com o intuito de reduzir endividamento de forma mais rápida — a depender, porém, do movimento de alto de juros, que encarece o acesso a capital das empresas.
Ainda nesta semana, o Carrefour informou que também estava considerando a venda de centros de distribuição da cadeia, também no formato de venda com locação dos imóveis, e com o objetivo de diminuir a pressão da alavancagem financeira sobre a empresa.
Entre venda de lojas, o volume que vem sendo oferecido ao mercado deve crescer, o que traz maior risco ao valor dos ativos.
Além da Americanas, que está fechando unidades após a crise financeira na rede, Renner informou hoje fechamento de 20 lojas (13 da Camicado) de janeiro a março e a Marisa colocará no mercado 90 unidades já em processo de fechamento. Só nessas empresas são mais de uma centena de pontos sendo oferecidos no setor.
O varejo enfrenta não apenas efeito da alta dos juros sobre dívidas captadas durante a pandemia, mas também vendas mais fracas em 2023, versus o ritmo de 2022 em certos segmentos, como moda e segmento pet, o que vem afetando duramente o resultado final das companhias — e sem um cenário mais claro de retomada consistente da demanda.
Fonte: Valor Econômico