Por Katia Simões | Até 2030, prevê-se que 35% da receita do varejo não estará vinculada à compra e venda de produtos, e 50% do lucro virá das novas linhas de receita que ainda serão criadas. Os dados são da Euromonitor. Essa também foi uma das mensagens passadas por Bernardo Carneiro, mentor da Endeavor e sócio da Stone, em palestra apresentada no Web Summit 2024. Um sinal de que é preciso sair da zona de conforto e diversificar o jogo, algo que muitas redes de franquia vêm colocando em prática.
Com 369 lojas e um faturamento de R$ 1 bilhão no ano passado, a Track&Field foi uma das primeiras a ampliar a receita tanto da rede quanto da marca por meio de eventos e novos modelos de negócio. Desde 2004, promove um circuito de corridas por meio da TFSports. Recentemente, atrelou a marca a um circuito de beach tênis com 50 etapas, distribuídas nas cidades onde a franquia está presente.
“A cada fase o impacto nas lojas equivale às vendas do período de Natal”, afirma o CEO Fernando Tracanella. “O fluxo de clientes aumenta, a experimentação dos produtos é maior e novos consumidores são atraídos pelo contato com a marca”. Fiel ao propósito de se transformar num ecossistema de vida saudável, a Track&Field criou o TFC Food & Market, café e empório de alimentação, que funciona dentro da própria loja. Já são 11 pontos em unidades franqueadas. “Trazer experiência para o ambiente de loja é uma tendência que temos explorado com consistência”, afirma Tracanella.
Quanto mais pontos de contato com a marca, maior a chance de aumento de receita. Essa é a cartilha adotada por Adriana Auriemo, fundadora da Nutty Bavarian, especializada em castanhas glaceadas. São três frentes: indústria, food service e brindes corporativos. “Temos collabs com marcas importantes, cujos produtos podem ser comercializados pelas franquias; a linha de food-service, presente em mais de mil pontos de venda, é de exclusividade da franqueadora. Para os franqueados, trabalhamos brindes corporativos e eventos”, diz Auriemo.
O avanço das estratégias e o impacto na receita, porém, estão ligados ao comportamento do franqueado. “Nem todos são proativos, têm perfil comercial”, afirma a empresária. “Na seleção de novos parceiros, passamos a buscar perfis comportamentais mais alinhados com a nova proposta”. Com 170 unidades e 40 carrinhos para eventos, a Nutty Bavarian deve movimentar este ano R$ 91,5 milhões, quase 30% a mais do que em 2023.
Investir em eventos e na oferta de produtos para serem consumidos na casa do cliente também foi a proposta da Detroit Steakhouse, rede com 22 unidades e um faturamento anual de R$ 80 milhões. “Não dá para depender mais só de um canal de venda, o mundo mudou”, afirma Fábio Marques Junior, sócio-fundador. “Criamos o Detroit at Home, que leva o buffet e o bar à casa dos consumidores, e os kits churrasco e hambúrguer”. Os resultados não demoraram a aparecer. “Hoje, 18% da renda da franquia deriva de algo que não se vendia antes. O Detroit at Home já representa 8% da receita das unidades e até 2025 esperamos que varie entre 15% e 20%”, diz Junior.
Caito Maia, fundador da Chilli Beans, por sua vez, sinaliza que o caminho passa pela soma de forças. “Sou adepto da terceirização, guardando as energias da marca para serem aplicadas no que ela sabe fazer”, diz. Com essa conduta, a rede, com mais de 1, mil unidades e faturamento de R$ 1,2 bilhão em 2023, lançou o Chilli Seguros, em parceria com a Gazin Seguros e a plataforma Suthube. “O seguro é complementar, não tira o foco dos produtos principais, que são os óculos e relógios”, declara. “Já foram comercializadas 71 mil apólices, com receita incremental de R$ 5 milhões para a rede”. Segundo ele, a média de rentabilidade da franquia é de 15% e tem franqueado alcançando 18% por conta do seguro.
Para André Chusyd, CEO da My Place Office – rede de coworking com 35 franquias e previsão de faturar R$ 20 milhões este ano – mais do que uma tendência, diversificar os canais de receita é uma necessidade. “Se considerarmos todos os serviços virtuais que o franqueado pode oferecer a seus clientes, podemos afirmar que apenas 30% da receita resulta do core do negócio”, afirma. “Os 70% restantes são de novos canais.”
Fonte: Valor Ecônomico