Por Ana Luiza de Carvalho | Redes de farmácias de grande e médio portes planejam abrir mais lojas neste ano, levando a operação para novas praças. O plano inclui ampliar os serviços de saúde, como aplicação de vacinas e exames e procedimentos de baixa complexidade.
A RaiaDrogasil (RD), a maior do varejo nacional de farmácias, prevê inaugurar 270 unidades. A rede gaúcha Panvel deve investir R$ 140 milhões em 60 novas lojas. A estratégia também é de expansão para a d1000, que controla redes regionais no Sudeste e Centro-Oeste, e para a paranaense Nissei.
A Pague Menos, por outro lado, reduziu a projeção de abertura de novas lojas neste ano de 120 para 30, apontando como prioridade a integração da operação com a Extrafarma, adquirida pelo grupo em maio de 2021.
O movimento de expansão, que deve ser a tônica do setor neste ano, ocorre em um cenário de resiliência nas vendas se comparado ao restante do varejo. Segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que representa cerca de metade das empresas que atuam no país, entre janeiro e julho de 2023 o faturamento das associadas cresceu 14,95% em relação ao mesmo período de 2022, para R$ 86,04 bilhões. O número de itens vendidos superou 3 bilhões. O volume de atendimentos farmacêuticos ficou 1,11 bilhão – desde agosto de 2023, após uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as farmácias e consultórios podem realizar 50 tipos de exames rápidos de análise clínica, como testagem para o vírus HIV, dengue, malária e hepatite. Até então, só eram permitidos exames para medir glicemia e para testar infecção pela covid-19.
O resultado também foi positivo para as principais companhias do setor com capital negociado em bolsa. Nos nove primeiros meses do ano passado, a RaiaDrogasil somou receita de R$ 25,05 bilhões, avanço de 18% no comparativo anual. A empresa elevou a projeção de aberturas para 270 unidades em 2024 – a meta anterior era de 260 lojas.
Na estratégia da RD está a expansão para a região Norte do país, com destaque para a inauguração de dois centros de distribuição no Amazonas e no Pará. O Estado de São Paulo, sede e maior praça da varejista, segue no foco. “Ainda há espaço para crescer em São Paulo”, diz Marcilio Pousada, CEO do grupo. O executivo não divulga projeções de investimentos. A rede pretende ter mais 600 novas unidades entre 2024 e 2025. A RD também quer ser referência para os clientes em primeiro atendimento. E, para isso, pretende ampliar os serviços de saúde.
De um total de 2.868 lojas da RaiaDrogasil, 1.900 prestam algum tipo de serviço de saúde, como aplicação de vacinas e medição de pressão. Para Pousada, a telemedicina é um caminho para aliar o atendimento na farmácia à atenção médica primária. Atualmente, 12 unidades da rede contam com esse serviço de forma experimental. O carro-chefe é a aplicação de vacinas. Segundo o executivo, já foram aplicadas mais de 200 mil doses no país, e o número de atendimentos já ultrapassa 3 milhões, média de dez ao dia, em cada unidade. “As farmácias podem desafogar o sistema de saúde.”
Na rede gaúcha Panvel, os investimentos em aberturas de novas lojas estão estimados em R$ 140 milhões, segundo seu presidente Julio Mottin Neto. A companhia abriu 60 novas lojas ao ano, em média, nos últimos três anos, patamar a ser mantido em 2024. De acordo com o executivo, “ainda não está na hora” de escalar o número de aberturas, apesar do desempenho resiliente do segmento farmacêutico em relação ao varejo nacional. “Estamos dentro do nosso contexto, mesmo otimismo de sempre”, afirma.
Os recursos para a expansão orgânica, segundo Neto, são advindos de caixa próprio. A dívida líquida equivale a 0,8 vez o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). O nível de alavancagem está em um patamar satisfatório e reflete conservadorismo na gestão do caixa, diz o executivo. A receita entre janeiro e setembro de 2023 somou R$ 3,23 bilhões, alta de 11,6% ante 2022.
O foco da Panvel é expandir a operação nos três Estados da região Sul, além de lojas na capital paulista. Mottin Neto diz que a fatia de mercado da companhia em Santa Catarina e no Paraná está em 6%, enquanto no Rio Grande do Sul o patamar é de 22%, garantindo liderança no mercado gaúcho.
Parte dos investimentos previstos para 2024 também será direcionada para a entrega rápida, em até 30 minutos, já em operação em Porto Alegre (RS). As próximas cidades a receber o modelo serão Florianópolis (SC) e Curitiba (PR).
Ao contrário das concorrentes listadas na bolsa, o ritmo de abertura de lojas na rede Pague Menos diminuiu. No terceiro trimestre, a rede cearense não abriu nenhuma unidade e encerrou os nove meses primeiros meses de 2023 com 1.648 lojas, incluindo a Extrafarma, que pertencia ao grupo Ultra.
A Pague Menos anunciou em dezembro um corte em sua projeção de aberturas para este ano, reduzindo o número de 120 novas lojas para 30. Isso ocorre, segundo a empresa, em razão da necessidade de integração das unidades da Extrafarma, cuja aquisição foi concluída em agosto de 2022.
A presidente do conselho de administração da Pague Menos, Patriciana Rodrigues, afirma que a operação proporcionou à companhia uma expansão que seria alcançada em três anos de crescimento orgânico. A executiva concedeu entrevista ao Valor em nome da companhia após o anúncio de renúncia do então diretor-presidente, Mário Queirós.
Mário Queirós é filho do fundador da rede, Deusmar Queirós, e ficou à frente da companhia nos últimos oito anos. Neste mês de janeiro, após o período de transição junto ao novo presidente Jonas Marques, o executivo está ssumindo uma cadeira no conselho de administração. Essa será a primeira vez que alguém de fora da família estará na presidência da rede.
A expansão dos serviços de saúde também está no radar da Pague Menos. “Quase 60% dos pacientes que vão para o sistema de saúde não precisariam disso, nós temos uma população muito numerosa e as farmácias podem atuar como uma triagem”, diz Patriciana Rodrigues. A receita da companhia entre janeiro e setembro de 2023 cresceu 14,3% ante o mesmo intervalo de 2022, para R$ 7,06 bilhões.
Já a d1000, com presença no Distrito Federal, Mato Grosso e Rio de Janeiro, se formou a partir da aquisição de redes regionais. O portfólio da companhia é formado atualmente pelas bandeiras DrogasMil, Farmalife, Drogaria Rosário e Drogarias Tamoio.
O vice-presidente da companhia, Marcelo Cardoso, afirma que a d1000 deve abrir 35 lojas neste ano e reformar mais 10, após elevar a projeção de 30 aberturas anuais. “A expectativa é muito boa, pois apesar do mercado estar desacelerando, estamos crescendo duas a três vezes acima do mercado. Não entendemos que caiba nenhum tipo de modificação nessa projeção”, afirmou ao Valor.
Com 227 lojas ao final do terceiro trimestre deste ano, o que representa 15 lojas a mais do que no mesmo período de 2022, a companhia aposta em manter sua participação de mercado nas regiões em que atua e não planeja, a curto prazo, expandir as operações para outras unidades da federação. No que se refere à receita, a d1000 cresceu 13% nos nove primeiros meses deste ano, somando R$ 1,28 bilhão.
A Farmácia e Drogaria Nissei, que possui capital aberto mas não negocia ações na B3, prevê a abertura de 30 lojas ao longo deste ano, de acordo com comunicado divulgado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em dezembro.
O diretor-presidente da Nissei, Alexandre Maeoka, observa que no último ano a companhia somou mais de 60 novas unidades ao portfólio. “Isso é quase 20% de crescimento em pontos de venda, fora o crescimento das vendas nas mesmas lojas”, disse em entrevista ao Valor. A rede paranaense conta com 385 lojas, sendo 60 em cidades do interior e litoral de São Paulo, 20 em Santa Catarina e as demais 360 no Paraná.
Assim como a Panvel, a Nissei identificou uma oportunidade de mercado para expandir as operações para além da região Sul e alcançar São Paulo. Cidades como Bauru e Marília foram as primeiras a receber as novas unidades, que vendem produtos de mercearia e de consumo matinal, além dos artigos tradicionalmente vendidos em farmácias.
Em dezembro, a Nissei inaugurou unidades na capital paulista e na Baixada Santista. “Temos acelerado essa expansão para além da região Centro-Oeste de São Paulo, em que já atuávamos desde 2012. Comprovamos que o público paulistano gosta desse conceito da conveniência e mais diversidade”, afirma Makaoka.
Além da expansão orgânica, a companhia também finalizou no último ano a aquisição da Poupafarma, que estava em recuperação judicial, e adicionou 40 novas unidades à rede. O diretor financeiro André Lissner observa que o mercado brasileiro de farmácias é “extremamente fragmentado” e afirma que a Poupafarma foi uma oportunidade de negócio atípica. O foco, segundo o executivo, deve seguir na inauguração de unidades Nissei. A receita acumulada da companhia nos nove primeiros meses de 2023 foi de R$ 1,86 bilhão, alta de 17% no comparativo anual.
Fonte: Valor Econômico