Por Mônica Magnavita
As microfranquias, modelos de negócios com investimento inicial até R$ 135 mil, vêm ganhando cada vez mais espaço no universo nacional de franquias. Entre 2021, período pós pandemia, e maio deste ano o setor cresceu 87%, passando de 322 para 604 marcas, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) entre as 1.375 redes associadas. A expansão foi tão acelerada que hoje o modelo representa 44% do total de marcas franqueadas, e a expectativa da ABF é a de que até o fim do ano superem 50% do mercado.
Apenas pequena parte dessa expansão, 52 marcas, pode ser atribuída ao aumento do teto de investimentos exigido para abertura do negócio, que até o mês de junho passado era de R$ 105 mil. O crescimento acelerado tem por trás estratégias de grandes redes, que incluem a ampliação do perfil do investidor, a busca por atingir outros mercados, maturidade das franquias e o cenário econômico, que favorece os investimentos em modelos de negócios mais enxutos.
Primeiro passo para se investir em franquias no Brasil, a microfranquia, que era tendência, virou realidade, como mostram os números da pesquisa da ABF. “Microfranquia não quer dizer microfaturamento. Quer dizer simplesmente o valor inicial de entrada. As taxas de retorno são muito interessantes”, afirma Humberto Madeira, vice-presidente de franquias da Prudential do Brasil, empresa da área de seguros, que demanda capital inicial de cerca R$ 45 mil para suas microfranquias. Nesse setor, há um mercado muito grande para ser trabalhado, diz Madeira, já que apenas 17% da população brasileira tem seguro de vida. “Estamos cada vez mais fortes expandindo no Brasil, especialmente na região Nordeste”, afirma. Segundo ele, o modelo ganhou adesão de novos operadores por facilitar o empreendedorismo de forma estruturada, com menos experiência e capital.
O estudo da ABF, que revela a expansão das redes tradicionais em direção ao mundo das microfranquias, reflete, em parte, o processo de adequação da marca ao tamanho de cidades e municípios, como é o caso da Prudential. O modelo, de acordo com Madeira, permite maior expansão em mercados fora dos grandes centros urbanos. Tanto que, conforme levantamento da ABF, houve aumento expressivo do número de redes mais maduras que adotaram modelos de negócios mais enxutos, que passaram de 18% para 20% e 31% em 2021 e 2023, respectivamente. “Isso está ligado ao interesse das grandes redes em atender seus clientes de diversas formas”, diz.
A Tratabem, microfranquia de serviços voltada para produtos e manutenção de piscinas da rede iGui, uma das maiores marcas globais de piscina, surgiu há dez anos e hoje é um dos principais pilares da companhia, segundo Lilian Marques, diretora executiva da rede, que possui mais de 1.200 lojas. “A Tratabem começou com a necessidade de um pós-venda do produto da Igui, a piscina, e hoje é ela que faz a conexão com nossas outras duas marcas. De todas, a que mais cresce é a Tratabem. A média de crescimento é de 20% ao ano. A meta para este ano é de 30%”, diz Marques. Já com 150 microfranquias, a marca demanda investimento inicial de R$ 75 mil, incluindo produtos químicos e materiais, com retorno de 20% a 30% em produtos e de até 60% em serviços – o resultado depende da habilidade do franqueado.
Bruno Arena, diretor de expansão da Casa do Construtor, grupo detentor de mais de 600 franquias, observa que o Brasil, com seus 5.568 municípios, é formado por cidades pequenas, onde as microfranquias podem encontrar espaço adequado para expansão. “Às vezes, temos miopia de sempre olharmos as grandes praças. As redes que estão atentas aos movimentos de consumo que muitas vezes nem estão mapeados tendem a crescer mais”, afirma.
Atualmente, conforme pesquisa da ABF, 53% das microfranquias estão concentradas na região Sudeste, seguida pelo Sul do país, com 18%, pela região Nordeste, com 15%, Centro-Oeste com 9% e o Norte com 5%, refletindo a participação do PIB em cada uma das regiões. Outro ponto destacado por ele foi o do aumento do ingresso feminino e de jovens no segmento. “Isso nos chama atenção e pode ser uma tendência”, diz Arena.
As áreas com maior participação entre as microfranquias são a de serviços e outros negócios, como contabilidade e consultoria, que lideram com 27%, seguida de alimentação, com 17% – muito puxada pelo crescimento dos serviços de entrega -, e de saúde, beleza e bem-estar, com 16%. A pesquisa da ABF mostra que a média de investimentos mínimo para microfranquias é de R$ 50 mil, e o máximo, de R$ 63 mil. O retorno do capital investido varia de oito meses a 18 meses.
Fonte: Valor Econômico