Grandes redes de óticas mantêm planos de expansão no país, apesar da crise que transformou em retração o crescimento de dois dígitos ao ano que o setor apresentava até 2013. Esses grupos enxergam longe: apostam em abertura de franquias — apoiada em preço competitivo e pagamento facilitado — para crescer, ganhar mercado e fortalecer o negócio para a retomada da economia.
— Esperamos crescimento em vendas de quase 10% este ano. Ótica é necessidade básica. Por isso, mesmo na crise, se mantém. Nossa expansão é apoiada em escala, oferecendo preços competitivos, a partir de R$ 99 — explica Murillo Piotrovski, diretor de marketing da GrandVision by Fototica.
A paulistana Fototica foi adquirida pelo grupo holandês dono da GrandVision em 2007, junto com duas empresas do Nordeste. Em março, veio a união das marcas. Ao todo, tem 90 lojas próprias e 17 franquias.
— Lançamos as franquias este ano e já temos 17. As lojas têm as armações expostas, permitindo ao cliente experimentar os modelos. Já são duas filiais no Rio, vamos abrir mais cinco em 2017 — conta Piotrovski.
FATURAMENTO 22% MENOR
Apesar de tudo, o setor de franquias rema contra a maré. Avançou 8,3% em 2015, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF). O segmento de bijuterias, joias e óculos cresceu 11,7%, acima da média do setor.
Bento Alcoforado, presidente da Abióptica, que reúne as empresas do setor, explica que a economia modela o mercado:
— Em 2011, o faturamento das óticas cresceu 25% no Brasil. O país atraiu grandes grupos internacionais, como a Luxottica, dona da Ray-Ban. A francesa Essilor ampliou os investimentos aqui. Mas a instabilidade política dificulta a vinda de outros grupos.
O crescimento no início da década foi puxado pelo ganho de renda das classes C e D, explica Alcoforado. De dois anos para cá, porém, a tendência se inverteu. Em 2013, a expansão no faturamento foi de 25%. No ano seguinte, desacelerou para 5%, e em 2015, encolheu 8%. Nos 12 meses acumulados até outubro, contra um ano antes, a retração bateu 22%.
— O mercado é principalmente de óticas independentes, com menos capacidade de investir em promoção e negociar preços com fornecedores. Por isso a adesão às franquias de grandes redes — conta Alcoforado.
Com as franquias, a GrandVision chegou a Alagoas, Ceará e Rio este ano. Na capital fluminense, abre hoje sua segunda filial, no Via Parque Shopping.
— Adaptamos a seleção de produtos ao perfil do brasileiro e por ponto de venda. Na Europa, a preferência é por armações mais sóbrias; aqui, o consumidor busca modelos mais coloridos — conta Piotrovski.
A recessão cortou, de início, o consumo de óculos de sol, que caiu 21% em dois anos. As compras ficaram mais restritas aos óculos de grau, ou na troca só das lentes, mantendo a armação.
PROMOÇÃO DE LENTES
Para manter o resultado positivo é preciso criatividade. A Chilli Beans, que impulsionou o consumo de óculos de sol no país, tem 700 pontos de venda no Brasil e no exterior. Abriu 88 este ano, alcançando avanço de 3,5% no faturamento — em 2014, foram 20%. O desempenho foi garantido pelo início das vendas em óticas multimarcas, com óculos de grau.
A mudança no consumo também foi percebida pela Óticas Carol, outra grande rede, que prevê encerrar 2016 com crescimento de 17%, diz o presidente Ronaldo Pereira.
— O consumo migrou de moda para saúde, e focamos as promoções em lentes de contato e oftálmicas. Mas abrimos 156 lojas, batendo 980, pouco abaixo da meta de mil — conta. — Estamos mais seletivos na escolha de novos franqueados. Este ano, só 10% da expansão vieram da conversão de óticas independentes.
Como a Fototica, a Carol aposta em diversidade de produtos e, sobretudo, facilidade de pagamento e preço competitivo.
Na outra ponta, a carioca Lunetterie volta suas atenções para o segmento premium.
— Somos a porta de entrada de novas marcas internacionais no Rio. Nossa clientela busca serviço de qualidade, com a compra motivada pelo desejo, não só pela necessidade — conta a sócia Diana Reis, afirmando ter mantido o faturamento de 2015.
O mercado, explica ela, vem se tornando cada vez mais competitivo, e é preciso ter um diferencial para se destacar e garantir bom desempenho.