Mesmo que as vendas nos shoppings atinjam R$ 181 bilhões em 2022, o resultado ainda será 6% menor do que os R$ 192 bilhões de 2019, ano anterior à crise sanitária
Por Adriana Mattos
Os números que vêm sendo apresentados pelas associações de shoppings mostram que o setor só deve voltar ao mesmo patamar de vendas de 2019 (antes da pandemia) em 2023. Isso muda as previsões anteriores da Abrasce, entidade que representa essas empresas, de que seria possível igualar esse patamar no primeiro trimestre do ano — informação dada em dezembro passado, em entrevistas ao Valor.
Entre os motivos, está o fato de que o desempenho das lojas de shoppings não tem sido uniforme. Aquelas de maior porte, chamadas âncoras, estão conseguindo alcançar o mesmo patamar de antes da pandemia. É o caso de redes como Renner e C&A que já reportaram desempenho acima desse nível, segundo dados de balanço publicados no quarto trimestre. Já lojas de pequeno e médio porte não registram recuperação na mesma velocidade de crescimento.
Na ponta do lápis, mesmo que as vendas nos shoppings atinjam R$ 181 bilhões em 2022, como a Abrasce prevê — alta nominal (sem descontar inflação) de 13,8% sobre 2021 —, o resultado ainda será 6% menor do que os R$ 192 bilhões de 2019, ano anterior à crise sanitária.
E, mesmo que consiga suprimir esse hiato de 6%, ainda há diferença entre os períodos analisados se considerar o efeito inflacionário no intervalo de dois anos.
O mercado de shoppings está entre aqueles com recuperação mais lenta no setor ligado ao consumo. Isso ocorre por conta da divisão de desempenho dentro do segmento. Esse é um mercado altamente dependente de venda de itens de moda e calçados, que mostram recuperação, mas ainda sente efeitos da queda na demanda por produtos considerados não essenciais.
Além disso, operações de pequeno porte estão com menor capacidade financeira para “bancar” melhores condições comerciais ao consumidor, e com isso, para recuperar vendas.
“As lojas âncoras estão acelerando mais, porém negócios menores, com menor eficiência e fôlego para ofertas e promoções, sentem mais”, diz um administrador de shoppings em São Paulo.
Ele ressalta, porém, que mesmo os grandes negócios — com uma recuperação nominal nas vendas sobre 2019 — registram uma aceleração menor em termos reais. “Você pega a Renner, que é a líder em vendas e é uma ‘puxadora’ de tráfego para o shopping: eles informaram que cresceram 24% no quarto trimestre em 2021 versus 2019. Mas isso não é em termos reais, portanto, em volume de mercadorias vendidas cresceram muito menos, porque já disseram que vêm repassando aumento de preços”, diz esse administrador.
Além dessa questão relativa ao tamanho dos empreendimentos, há o aspecto do peso dos operadores dentro do mercado.
Grupos de capital aberto, com negócios mais resilientes, com atividade em áreas que retomaram mais rapidamente o consumo ou com perfil de lojistas mais “premium” — que sentem menos a queda no poder de renda e o desemprego — têm desempenhos melhores.
Isso sinaliza que a pressão maior sobre resultados dos operadores médios continuará até 2023, depois de terem crescido aceleradamente na última fase de expansão deste mercado, entre os anos de 2010 e 2013.
Fonte: Valor Econômico