Após abrir portas, ritmo médio de retomada na venda física é de 4% por semana. Enquanto isso, empresa investe em parceria digital com B2W
Com 11 dos 31 shoppings reabertos, a brMalls já tem uma boa ideia de como é o ritmo de reabertura. O presidente da companhia, Ruy Kameyama, contou ao EXAME IN que, na média, os shoppings reabrem com 50% do nível de venda pré-covid-19. Ao longo do tempo, recuperam em uma velocidade da ordem de 4% por semana.
A unidade aberta há mais tempo é o Iguatemi Caxias, na cidade de Caxias do Sul (RS), desde 20 de abril. Lá, as vendas foram retomadas com 60% do total anterior à pandemia. “Agora, cinco semanas depois, evoluíram e estão em 75%. Dá para ver que o consumidor vai ganhando confiança”, explicou.
Contudo, funcionando ainda em horário reduzido, não é possível prever o teto da recuperação. “Também não sabemos qual será o efeito dessa crise sobre a renda das pessoas”, disse Kameyama. Até o fim de maio, sete unidades estavam reabertas e mais quatro recomeçaram em junho. A empresa atua em 23 cidades, de 12 estados do país.
Ao longo das próximas semanas, a previsão da companhia — dona dos shoppings Villa-Lobos, Tamboré, Tijuca, entre outros — é levantar as portas das unidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Kameyama explicou que a relação do cliente com o shopping está diferente. O tempo médio de permanência está bem menor. Além de os cinemas e teatros estarem fechados e os restaurantes restritos, o consumidor está mais objetivo. “Não tem passeio.”
Os destaques de venda na retomada estão em eletroeletrônicos, telefonia celular e produtos de cama, mesa e banho. “Tudo isso está relacionado ao momento, com o consumidor mais em casa e mais conectado.” Vestuário, segundo o presidente da brMalls, tem se recuperado também, mas de forma mais lenta. “Na maioria dos shoppings, os provadores estão fechados ainda.”
A companhia reabriu seguindo o protocolo de higienização e gestão da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), que é validado pelo Hospital Sírio-Libanês, mais algumas medidas sanitárias extras.
Liquidez
Questionado se a empresa pretende aproveitar a retomada do mercado de ofertas de ações para captar novos recursos, ele preferiu não comentar. “Nossa política é não falar sobre isso. Só quando temos algo a comunicar.”
A queima de caixa é o maior desafio do varejo na pandemia. A brMalls terminou abril com 1,3 bilhão de reais de saldo aplicado. Durante a pandemia, a empresa levantou 700 milhões de reais com duas operações de dívida — 300 milhões de reais em março e 400 milhões de reais em abril. Os compromissos financeiros totais, somando a posição de março à captação de abril, estão em 3,4 bilhões de reais.
Resultados
O balanço do primeiro trimestre da brMalls, divulgado ontem após o fechamento da bolsa, já deu uma ideia do efeito Covid-19. A receita líquida de janeiro a março somou 296 milhões de reais, o que equivale a um aumento de 1,9% na comparação com igual período do ano passado (considerado as mesmas unidades consolidadas e sem efeitos das novas normas contábeis IFRS 10 e 11). “Estávamos vindo muito bem em janeiro e fevereiro, com nossa menor taxa de vacância para um primeiro trimestre, desde 2015”, disse Kameyama.
Um olhar detalhado sobre a receita bruta de aluguéis, contudo, mostra o que significa o fechamento de lojas. Com apenas duas semanas afetadas pela pandemia, a arrecadação do aluguel percentual, relacionado ao desempenho de vendas, caiu 19,4%, para 9,8 milhões de reais. É a menor fatia de receita da companhia, mas um termômetro importante da circunstância.
O lucro líquido do primeiro trimestre caiu 23,5%, para 118,5 milhões. O desempenho, além do começo da crise, reflete também a venda de oito shoppings no intervalo de comparação — sete no segundo semestre do ano passado e um nos três primeiros meses deste ano.
Kameyama explicou que a brMalls, que já chegou a ter 51 shoppings na sua carteira, praticamente encerrou o ajuste no portfólio. Resta apenas uma unidade a ser alienada, mas com diminuta participação na receita.
Vendas de um click
Enquanto administra a retomada das lojas físicas, a brMalls segue no avanço da estratégia digital: anunciou ontem uma parceria com a B2W, para integrar as lojas dos shoppings ao marketplace da empresa de comércio eletrônico. O acordo envolve a Delivery Center, startup de entregas que tem como sócios, além da brMalls, a Multiplan e José Galló, presidente do conselho da Lojas Renner.
“Como entregamos no máximo em 24 horas, a parceria ajuda nosso lojista a vender mais e também facilita para o usuário, que na pandemia enfrenta prazos bem mais longos de espera”, disse Kameyama.
A adesão à plataforma B2W será gradual e começa pelos três shoppings do Rio de Janeiro.
O objetivo é reforçar a estratégia de e-commerce — vital durante a crise, mas também essencial para reforçar a relevância do shopping no futuro, em que funcionará como um diferencial logístico para as marcas. A ideia é posicionar a brMalls para todas as tendências multicanal e de entrega rápida a partir da loja e de retirada pelo cliente no local. “Estar pronto para vender no local ou por e-commerce é fundamental.”
A expectativa do executivo é que o comércio eletrônico, que hoje representa 5% de tudo que é vendido no país, aumente para 10%, no médio prazo após a crise. “Esse salto não será imediato. Mas a pandemia ajudou a acelerar e consolidar novos hábitos.”
Atualmente, nove shoppings da brMalls estão ligados à Delivery Center. As vendas com esse sistema registraram um aumento de 190% na média de abril e maio sobre janeiro e fevereiro. “Batemos a marca de 100 mil nas nossas unidades em maio.” A média por shopping da companhia subiu de 5 mil ao mês pré-pandemia, para 6,5 mil em abril e 11 mil em maio.
Antes concentradas na área de alimentação, as entregas foram ampliadas para os demais produtos. Com isso, o tíquete médio das compras nas unidades brMalls plugadas à plataforma subiu de 73 reais, em fevereiro, para 102 reais, em maio.
A companhia estimulou a adesão das lojas à Delivery Center durante a pandemia. Os lojistas que se ligaram ao canal ganharam isenção da taxa fixa de aluguel para o período de shoppings fechados. A expectativa é contribuir para a saúde financeira do lojista e, dessa forma, evitar aumento na taxa de vacância. Em Caxias do Sul, houve aumento de apenas 1%, um mês após a reabertura.
Fonte: Exame