A necessidade das administradoras de shopping centers de capital aberto de sacrificar ganhos com descontos aos lojistas fez com que a receita líquida somada das empresas ficasse praticamente estagnada em 2016. Para este ano, a tendência é que os descontos continuem pressionando os resultados, mas já há a perspectiva de uma melhora na ocupação.
No ano passado, a receita líquida de seis companhias do ramo listadas na bolsa de valores (BRMalls, Multiplan, Aliansce, Sonae Sierra Brasil, Iguatemi e General Shopping) atingiu o montante de R$ 4,312 bilhões, valor 0,5% superior aos R$ 4,288 bilhões registrados em 2015. “Foi um ano em que as empresas tiveram que fazer concessão na principal linha de receita: o aluguel”, explica o sócio-diretor da consultoria GS&BW, Luiz Alberto Marinho.
O diretor financeiro da BRMalls, Frederico Villa, comprova a opinião do consultor. “Temos feito alguns sacrifícios que estão penalizando o resultado da empresa, mas o objetivo é manter os números no longo prazo”, disse o executivo em teleconferência. A companhia foi a que apresentou o pior resultado, em termos de receita líquida, com uma retração de 5,3%. De acordo com Marinho, a tendência em 2017 é que os descontos se mantenham em patamar similar até junho, mas que comecem a reduzir gradativamente, culminando em um desempenho relativamente superior no consolidado.
“As administradoras vão tentar escalonar os descontos de forma decrescente. Ou seja, manterão altos no primeiro semestre, mas começarão a diminuir no segundo, para chegar a quase zero ao final do ano”, prevê o executivo, que também é professor do curso de gestão da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).
A visão é compartilhada pelo diretor de relações com investidores do grupo Aliansce (dono de 19 centros comerciais), Eduardo Prado. Em teleconferência com analistas na terça-feira da semana passada o executivo afirmou que a tendência para 2017 é de manutenção do nível atual de descontos nos seis primeiros meses do ano. “A partir do segundo semestre deve haver uma queda gradual dos descontos, mas ao final do ano ainda teremos um nível superior do que víamos em 2015”.
Na empresa, os descontos foram em média de 8,2% em 2016 e cerca de 30% dos lojistas pagaram o aluguel com desconto, contou Prado. O executivo acrescentou ainda que caso a empresa voltasse ao nível de descontos de 2014, quando a média era de 3,6%, o impacto no resultado seria de pouco mais de R$ 26 milhões.
Na administradora de shoppings Iguatemi a situação é similar, e a diretora financeira da empresa, Cristina Betts, disse que neste ano a companhia precisará continuar apoiando os lojistas com redução no preço de aluguel. “Acreditamos em um nível de descontos praticamente igual ao de 2016.”
Apesar da perspectiva de que os descontos se mantenham altos ao longo deste ano, na BRMalls, empresa com participação em 44 centros comerciais, já houve uma redução no quarto trimestre do ano passado. De acordo com Villa, a empresa estava com um patamar de descontos de R$ 16 milhões no terceiro trimestre de 2016 e reduziu para R$ 13,5 milhões no quarto trimestre. A ação, no entanto, gerou um impacto grande na inadimplência líquida da empresa, que aumentou no período para 5,5%, ante 1,9% no quarto trimestre do ano anterior. “Reduzimos um pouco os descontos, o que efetivamente teve um efeito [na inadimplência].”
Taxa de ocupação
Em relação a taxa de ocupação, o ano de 2016 também gerou impactos negativos para as empresas e cinco das seis apresentaram uma redução na ocupação média em 2016, frente ao ano anterior. A única que viu um crescimento foi a Sonae Sierra Brasil. Isso se deu, na visão de Marinho, porque a empresa tinha muitos investimentos em greenfield e estava com uma ocupação muito baixa. “Cresceu, mas em cima de uma base baixa”, afirma.
De acordo com ele, a queda na taxa de ocupação das empresas do setor ocorreu por dois motivos: de um lado houve o enxugamento de operações de lojistas mais estruturados, que começaram a fechar lojas mesmo com desempenho positivo, para ganhar rentabilidade; e de outro lado, tiveram varejistas de pequeno e médio porte que não conseguiram aguentar os anos de recessão. “Para 2017, eu acho que a vacância vai parar de crescer e deve voltar lentamente a recuperar. Mas essa retomada não será uniforme, vai variar de região para região e do perfil de cada empreendimento”. O especialista em shopping center e varejo e diretor geral da consultoria Make It Work, Michel Cutait, também sinaliza para um cenário melhor neste ano.
De acordo com ele, no decorrer de 2017 haverá estabilização da taxa de ocupação dos shopping centers, seguido de um aumento. “As lojas que não aguentaram o pós-Natal já fecharam, e agora, com a economia um pouco mais confiante, empreendedores novos e varejistas que chegaram até aqui com as contas em dia vão apostar no crescimento e expandir o negócio”, afirma.
Ele completa que não deve ser um crescimento vertiginoso, mas que já será uma leve retomada, com lojistas aproveitando pontos comerciais com instalações já prontas e bons negócios do ponto de vista de custos de ocupação.
Nesse cenário, a resposta das empresas têm sido a reformulação do mix de lojas, visando ocupar os espaços vazios e atualizar o portfólio às novas demandas do cliente. “A reformulação do mix continuará em 2017, mas estamos fazendo com cuidado porque não queremos só tapar buraco. Queremos algo que faça sentido ao cliente e que seja a longo prazo”, diz Betts, do Iguatemi.
Fonte: DCI