O grupo RD, antiga Raia Drogasil, sentiu uma “dificuldade clara de vendas” no primeiro trimestre deste ano, disse ontem Eugênio De Zagottis, diretor de planejamento corporativo e relações com investidores da varejista de farmácias, após divulgação do balanço. Segundo ele, o movimento que afetou a companhia também se reflete sobre o setor. No grupo RD, a receita proveniente de lojas maduras, abertas há mais de três anos, encolheu 1% – a primeira queda nesse indicador desde a criação da rede, em 2011.
Ontem, o J.P.Morgan rebaixou a recomendação para as ações da companhia de “compra” para “neutro” e reduziu o preço-alvo de R$ 86 para R$ 73 – o papel fechou em queda de 4% para R$ 66. Por trimestres seguidos, o grupo apurou expansão acelerada e tornou-se um dos papéis mais “resilientes” da bolsa, segundo analistas. Mas o receio de piora em certos indicadores, além do risco de canibalização, com abertura de lojas, e concorrência mais acirrada fizeram o mercado adotar uma postura mais cautelosa. No ano, a empresa perdeu 28% de seu valor de mercado.
Segundo os dados publicados ontem, a receita líquida do grupo RD cresceu 12,3% de janeiro a março, para R$ 3,4 bilhões. Foi a menor taxa de expansão desde o primeiro trimestre de 2013, mas ficou acima do desempenho mercado. A Abrafarma, entidade do setor, apurou alta de 6,3% no faturamento até março. As vendas “mesmas lojas” da RD subiram 2,7%, menor crescimento desde a criação do grupo.
“Estamos devolvendo o que tomamos lá atrás […]. Houve uma desaceleração forte no setor que está afetando a todos. E mesmo sentindo a concorrência maior, nós ganhamos ‘share’ [participação de mercado]. Hoje, temos nos medido mais pelo ‘share’ do que pelas vendas”, disse Zagottis.
O desaquecimento nas vendas reflete, na visão do comando do grupo, “uma transferência de demanda” das farmácias para outros segmentos, algo comum em processos de recuperação no consumo, quando clientes voltam a adquirir produtos que tinham tirado de suas listas de compra na crise.
Ele observa que categorias que perderam força na recessão – como moda e calçados – têm apurado melhora nas vendas agora. As drogarias conseguiram manter um ritmo de vendas acima da média do varejo brasileiro no período de crise, entre 2015 e 2017.
Neste ano, as farmácias sentem ainda o reflexo de um reajuste menor no preço dos medicamentos, que é determinado pelo governo. Foi autorizado um aumento de até 2,84%, o mais baixo em 11 anos.
De janeiro a março, o lucro líquido da RD cresceu 16,6%, para R$ 121,2 milhões, superando a alta média prevista por três analistas de mercado ouvidos pelo Valor, de 12%. Apesar da cautela maior, esses especialistas continuam a ressaltar que acertos na execução da estratégia e boa situação financeira e operacional do grupo sustentam expectativa de aumento nos ganhos em 2018.
Zagottis rebate a avaliação de analistas de que a canibalização de lojas afetou a receita, assim como entende que mesmo com o desaquecimento nas vendas, houve manutenção de rentabilidade. “Nosso nível de canibalização não subiu de um ano para cá e estamos mantendo nossas aberturas em 240 pontos no ano e em 2019.”
A margem bruta atingiu 28,5% de janeiro a março, leve queda de 0,2 ponto percentual, e a margem Ebitda, que mede lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação, ficou estável em 7,6%.
Zagottis não fez previsões sobre margens em 2018, mas considera que deve haver pressões nesse índice ao longo do ano, o que torna difícil achar espaço para melhora no indicador. A respeito da possibilidade de a empresa recuperar ritmo de vendas reduzindo margem e sendo mais agressiva em preço, o executivo diz que, no momento, não vê necessidade de “cortar na carne”
Fonte: Valor Econômico