O valor em estoque em junho era de R$ 5,5 bilhões, avanço de 19,5% sobre o ano anterior
Por Adriana Mattos e Ana Luiza de Carvalho
Como ocorre nos segundo trimestres, quando as farmácias são beneficiadas pelo reajuste anual nos preços dos medicamentos, a Raia Drogasil (RD) sentiu o impacto positivo nos números do período publicados na sexta-feira (29). Como isso já era previsto pelo mercado — a receita líquida de abril a junho subiu 22,3%, para R$ 7,18 bilhões — os destaques do período ficaram com o aumento no nível de estoques e a aceleração do digital.
O comando da empresa disse ontem que a decisão de elevar estoques teve um fator adicional no segundo trimestre relativo ao desabastecimento do mercado verificado nos últimos meses. O valor em estoque em junho na RD era de R$ 5,5 bilhões, avanço de 19,5% sobre o ano anterior.
“Tivemos impacto de formar o estoque na pré-alta dos preços de medicamentos [as redes elevam estoque antes do reajuste, pagando preço menor pelo estoque] e também da decisão de se proteger do desabastecimento do mercado que vimos após o começo do ano”, disse Eugênio De Zagottis, vice-presidente de planejamento corporativo e relações com investidores. “Estamos usando o balanço para evitar problemas e como temos situação de caixa confortável, dá para fazer isso”, diz ele, ressaltando que a empresa teve “baixíssimo” nível de ruptura no primeiro semestre.
A companhia tinha em saldo de caixa em junho cerca de R$ 818 milhões, mais de três vezes o valor de um ano antes. De abril a junho, a rede registrou um ciclo de caixa de 65,3 dias, uma redução de 3,5 dias em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os estoques aumentaram em 1,3 dia, contas a pagar reduziram em 6,2 dias e recebíveis aumentaram em 1,4 dia.
Onofre menor, mas vendendo mais
Outro dado que chamou a atenção foi a redução no tamanho, em número de lojas, da Onofre, adquirida em 2019 por valor simbólico (R$ 1). A rede tinha 50 pontos quando foi comprada e hoje tem 28. “Sempre pensamos em reduzir para esse número, fechando unidades que não eram tão boas. O importante é que a receita por loja subiu de R$ 500 mil para R$ 800 mil no intervalo, que era a nossa meta”, afirma o executivo.
A Raia Drogasil registrou lucro atribuído aos controladores de R$ 363,5 milhões no segundo trimestre deste ano, alta de 43,2% em relação ao mesmo período de 2021. O lucro líquido ajustado ficou em R$ 343,7 milhões, alta de 48,1%.
A receita líquida avançou 22,3% no comparativo anual, para R$ 7,18 bilhões, para um aumento de custo de mercadoria menor, de 19%, com isso o lucro bruto avançou 29%.
O valor do lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês) foi de R$ 727,5 milhões entre abril e junho, alta de 46,3% em relação ao mesmo período do ano passado. A margem ebitda ajustada ficou em 9,5%, ante 8% no segundo trimestre de 2021. Receita subindo mais que despesa ajudou nesses números.
O destaque negativo nas despesas ficou com os gastos gerais e administrativos, que subiram 44%, em função do aumento dos investimentos em estrutura realizado para suportar o negócio digital da empresa.
Digital de R$ 3 bi
Essa questão dos investimentos e despesas no digital é um tema que vem sendo abordado pelo mercado há alguns trimestres, e a companhia tem ressaltado que trata-se de um período em que esses gastos devem subir de olho num planejamento de longo prazo. “Temos antecipado despesas para fazer essa transformação digital. Você traz um crescimento em vendas e ajuda a impulsionar todo o modelo de ‘omnichannel’, trazendo também recorrência e tráfego para a loja. Muito provavelmente se não fossem esses investimentos no digital, esse aplicativo forte, não estaríamos crescendo o que estamos em lojas maduras. Então continuamos a repetir que esse é um projeto de longo prazo com efeito em despesas”, afirmou Marcílio Pousada, presidente da rede.
A empresa alcançou R$ 764 milhões de receita em canais digitais no trimestre, representando 10,5% das vendas e um crescimento de 46,9% sobre o mesmo período do ano anterior. Isso equivale a uma venda no trimestre no on-line de R$ 660 milhões. Anualizada, a receita digital atinge cerca de R$ 3 bilhões. Num ranking geral do setor, isso colocaria a operação digital da rede, de forma isolada, na sétima posição da lista das maiores cadeias de farmácias do país, diz a empresa. Pelo ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, essa operação alcançaria entre 6ª e 7ª posição em 2021 (sem contar os dados atualizados de vendas dos concorrentes em 2022). A Raia Drogasil encerrou junho com 2.581 lojas em operação.
Zagottis diz que a empresa planeja alcançar 260 lojas neste ano, alcançando esse patamar pela primeira vez, e deve voltar à projeção de 240 inaugurações de 2023 a 2025, ao ano (mesmo número de anos anteriores a 2022). Ele diz que não se trata de uma redução de estimativas, porque a companhia não havia projetado manter o patamar de 260 unidades abertas ao ano.
“Na verdade é um conservadorismo maior nosso, e se vermos que dá para chegar a 260 ao ano novamente, nós revisamos”.
Para 2023 a 2025, a previsão de 240 aberturas em cada ano representa uma ampliação de 38% do tamanho da rede.
De abril a junho, foi registrado um consumo de capital de giro de R$ 391 milhões na companhia, e isso levou a um fluxo de caixa operacional positivo de R$ 196,8 milhões, além do investimento (Capex) de R$ 254,8 milhões. A empresa está mantendo o plano de reforma de pontos da Raia, iniciado neste ano, após ter finalizado a reforma do parque de pontos da Drogasil nos últimos anos, mas diz que isso deve ocorrer ao longo do tempo e dentro do cronograma normal de investimentos.
No mercado, varejistas têm revisto planos de abertura de novas lojas de forma mais acelerada por conta do aumento nos custos do capital e das obras de lojas desde 2021. O foco maior tem sido nas reformas e troca de bandeiras no setor como um todo.
Fonte: Valor Econômico