Os dois homens negros presos em uma cafeteria da Starbucks na Filadélfia, Estados Unidos, em abril, em um caso de racismo de grande repercussão internacional, chegaram a um acordo financeiro com a cidade.
Rashon Nelson e Donte Robinson receberão, cada um, uma indenização simbólica de US$ 1 (R$ 3,54) e o apoio do município para a criação de um programa para dar apoio a “estudantes do ensino médio de escolas públicas da cidade com aspirações de se tornarem empreendedores”.
A Starbucks já tinha se desculpado e prometido submeter todos os seus funcionários nos EUA a um treinamento sobre racismo.
No episódio de abril, Nelson e Robinson aguardavam um amigo e pediram para usar o banheiro, pedido recusado por que eles não estavam consumindo no local.
O gerente pediu que eles deixassem o estabelecimento, e, quando estes se recusaram, chamou a polícia. Eles foram algemados e levados para a delegacia, onde ficaram detidos por oito horas.
O caso gerou protestos, pedidos oficiais de desculpas da Starbucks – que demitiu o gerente – e levou a rede a decidir fechar todas as suas lojas nos Estados Unidos, no dia 29 deste mês, para treinar a equipe sobre preconceito.
Rashon Nelson e Donte Robinson fecharam um acordo financeiro, não divulgado, com a rede e outro com o município, que prometeu destinar US$ 200 mil (o equivalente a R$ 708 mil) ao projeto educacional.
Acordo
O acordo foi confirmado à BBC News por um porta-voz do prefeito da Filadélfia, Jim Kenny, e segundo comunicado divulgado à imprensa, os US$ 200 mil previstos como subsídio irão inteiramente para a criação do programa, como idealizado por Robinson e Nelson, que não receberão qualquer parcela do montante.
O prefeito afirmou, em nota, que estava “satisfeito por ter resolvido as eventuais reclamações contra a cidade desta maneira produtiva”.
“Este foi um incidente que provocou muita dor em nossa cidade”, continuou ele.
“Ao invés de gastar tempo, dinheiro e recursos para se envolverem em um processo potencialmente cheio de acusações, Rashon Nelson e Donte Robinson se aproximaram da cidade e nos convidaram a ser parceiros deles em uma tentativa de fazer algo positivo sair dessa situação.
“Este acordo é o resultado dessas conversas, e estou ansioso para ver os frutos deste esforço nos próximos meses e anos”, disse Kenny.
Houve protestos em frente a loja da Starbucks em Filadéfia (Foto: Getty Images) Houve protestos em frente a loja da Starbucks em Filadéfia (Foto: Getty Images)
Houve protestos em frente a loja da Starbucks em Filadéfia (Foto: Getty Images)
Antidiscriminação
A prisão dos dois homens ocorreu em 12 de abril e deu início a uma grande discussão sobre racismo nos Estados Unidos.
O episódio levou clientes a compartilharem reclamações de discriminação contra a Starbucks e também fez a rede tomar providências.
Imagens do momento da prisão foram gravadas em um vídeo de celular e mostram Nelson e Robinson sendo algemados, sem resistência, após o gerente acusá-los de invasão e tumulto.
Amigos de longa data, ambos com 23 anos de idade, eles tinham acabado de sentar na loja para uma reunião em que discutiriam um possível negócio imobiliário. Acabaram, no entanto, presos.
Dias depois do episódio, a Starbucks anunciou que exigiria treinamento antidiscriminação dos funcionários.
A companhia planeja fechar mais de 8 mil lojas nos EUA em 29 de maio para ministrar um curso nesse sentido. Cerca de 175 mil funcionários receberão o treinamento, assim como pessoas a serem contratadas no futuro.
Em uma declaração conjunta com Nelson e Robinson, a empresa anunciou que chegou a um acordo financeiro separado com eles no início desta semana.
Esse acordo, que é confidencial, permitirá, segundo o comunicado, “que todos os lados sigam adiante e continuem a conversar e a explorar meios de prevenir acontecimentos semelhantes em qualquer loja da Starbucks”.
O CEO da rede, Kevin Johnson, foi para a Filadélfia para pedir desculpas pessoalmente aos dois homens. E agradeceu a eles “por se disporem à conciliação”.
Nelson e Robinson, por sua vez, disseram, em conjunto, que apreciam o esforço para promover a comunicação e que serão avaliados por suas ações e não por suas palavras.
Como parte do acordo, eles também receberam da Starbucks a oferta de bolsas de estudo para universidade e a oportunidade de conhecerem o ex-procurador americano Eric Holder, contratado pela Starbucks “como parte dos esforços de longo prazo da empresa em prol da diversidade e da igualdade”.
Holder foi o 82º procurador-geral dos Estados Unidos, e o primeiro afro-americano a ocupar o cargo – ele foi nomeado pelo então presidente Barack Obama. Na Starbucks, ele é um dos “educadores” escalados para o treinamento antidiscriminação na rede.
Em abril, o ex-procurador-geral questionou a prisão de Nelson e Robinson e, em declarações ao jornal americano New York Times, disse que “o bom senso deveria ter sido usado na situação e que o gerente deveria ter pensado duas vezes antes de chamar a polícia”.
Fonte: G1