Rede planeja entrar em Mato Grosso e no interior de São Paulo ainda neste ano; números da rede mostram setor com demanda acelerada
Por Adriana Mattos
Números da varejista Quero-Quero informados na noite de ontem sinalizam que o setor de material de construção continua com demanda acelerada, apesar do desemprego continuar alto e a renda do consumidor, achatada pela inflação. A receita líquida avançou 42,1% de abril a junho em relação a 2020, para R$ 496 milhões. O lucro quase quadruplicou. Há crescimento sobre a base forte de 2020 – o segmento continuou com lojas abertas na maior parte do ano passado – e sobre 2019.
A rede se prepara para entrar no mercado do Mato Grosso no terceiro trimestre e considera abrir duas primeiras unidades em São Paulo neste ano, no interior do Estado, possivelmente próximo à divisa com o Paraná, disse o CEO, Peter Furukawa. Com 421 lojas, a Quero-Quero vem sendo beneficiada pelo fato de atuar no sul do país, região favorecida pelo aumento das exportações agrícolas, e pelo movimento de reformas em imóveis iniciadas na pandemia, e parte ainda em andamento.
“A venda veio acima do que esperávamos [no segundo trimestre] e continua indo bem. Há muita construção no meio do caminho, muita reforma precisando ser concluída. E acredito que as pessoas gostaram de melhorar o local onde moram, e não vejo isso perdendo força”, disse Furukawa. O comércio de material de construção apurou alta nas vendas de 6% de janeiro a maio, segundo a Anamaco, associação do setor.
A receita líquida da Quero-Quero cresceu 71,5% sobre abril a junho de 2019, sem descontar a inflação acumulada do período. A receita “mesmas lojas” de abril a junho avançou 45% sobre 2019 (considerando apenas os pontos existentes nesse período).
Ainda no segundo trimestre, a margem bruta da rede, de 39,6%, se manteve estável em relação a 2020, mas caiu 1,2 ponto em relação a 2019. “A retração sobre 2019 reflete uma mudança na legislação de ICMS sobre substituição tributária que tem efeito sobre margem, e que aconteceu exatamente na virada do primeiro para o segundo trimestre de 2019. Quando tiramos esse efeito, e pegamos a margem acumulada do semestre, ela sobe”, disse Flávio Abrantes, gerente financeiro.
De lucro líquido, foram R$ 16 milhões de abril a junho, e um ano antes, R$ 4,4 milhões – frente a 2019, a alta foi de 1.080%. Perguntado se esse efeito sobre 2019 reflete uma base de comparação menor da empresa, Furukawa diz que a expansão é consequência da maior alavancagem operacional – as vendas crescem sem pressão nos custos na mesma intensidade. E nega que 2019 tenha base fraca. “Na verdade, falamos dos ‘roadshows’, antes de abrirmos capital, que nosso lucro viria assim, aumentando ano a ano. Só estamos entregando isso”.
O índice de rupturas no estoque, que indica falta de produtos, caiu em relação a 2020. Mas a empresa não projeta uma normalização no abastecimento de mercadorias neste ano. O problema no varejo se intensificou no ano passado, com a parada na produção de fabricantes e a alta demanda posterior em mercados pelo mundo. “O dólar continua alto, o que afeta preço, e a demanda está forte, mas já vemos melhorias nessa falta de certas mercadorias. Chegamos a ter taxa de ruptura de 20% em 2020, e a média hoje varia entre 4% a 6%”, disse Furukawa.
Sobre reajustes de preços, a inflação na rede está entre 10% e 15%, em média, no ano “sem sinal de queda de curva, mas indo para alguma estabilização de patamar”, disse o CEO. Itens como louças e metais para banheiros sentiram mais essa inflação, segundo a Anamaco. Apesar do aumento nos preços e do cenário de renda e taxa de emprego menores, Furukawa reforça a tese da posição geográfica favorável, do bom momento do setor imobiliário e das iniciativas internas da rede para manter as expectativas positivas.
Foram 17 aberturas de lojas de abril a junho (26 no ano), e devem ser 70 inaugurações em 2021 (foram 50 em 2020). “Pode ser que dê para ir para São Paulo neste ano ainda, estamos analisando”. Para 2022, a rede está em negociação para 20 aberturas no Estado, todas no interior paulista. São investimentos com geração de caixa – a empresa tem baixo patamar de endividamento, e está estável no ano.
Fonte: Valor Econômico