Empresa teve crescimento de 40% no pico da pandemia, ainda avança na casa dos dois dígitos e estuda elevar investimentos em 2022
Por Adriana Mattos
A varejista de material de construção Quero-Quero viveu um período de fartura em plena pandemia. O crescimento nas vendas chegou a quase 40% no fim do ano passado, com a crescente demanda por produtos para casa e reformas. O ritmo perdeu força, mas ainda alcança dois dígitos, e a empresa considera elevar seus investimentos em lojas em 2022. Só que isso dependerá do cenário econômico e do desempenho dos negócios nos próximos meses.
“Achamos que o ambiente ficará mais difícil no ano que vem, já estamos ‘apertando muito as despesas’, revendo certos gastos, mas mantemos a projeção de 70 aberturas em 2022, podendo chegar a até 80 ou 85. Chegaremos a mais de 80 num cenário de manutenção do nível de crescimento”, disse Peter Furukawa, CEO da rede. Parte dessa abertura será no Estado de São Paulo, onde a rede abriu a primeira loja na terça-feira.
A expectativa de que o mercado da construção continue a crescer sustenta a visão mais otimista, mas há efeitos negativos a se considerar. O mercado estima que mais de um terço do lucro bruto da cadeia venha das operações de crédito, o que tem efeito direto negativo da alta da Selic. O conservadorismo na gestão desse braço durante a crise ajudou a rede – e houve expansão na sua carteira em 2021 -, mas juros altos e renda em queda sempre afugentam o consumo.
Também pesa a venda de eletrônicos e eletrodomésticos em desaceleração, outra área de atuação da empresa, menos relevante que construção. “Eletro não foi bem em novembro, acho que muita gente já comprou no ano passado. Não acho que no Natal isso irá mudar muito. Mas essa venda para nós é pequena”, disse o executivo.
“Nossas projeções mais otimistas de investimento se baseiam no nosso modelo de expansão, de atuação em novas geografias no interior, e ser forte em serviços onde isso tem baixa concorrência. Vamos aguardar para ver como 2022 evolui”.
Neste ano, com as turbulências afetando o consumo e as varejistas, a ação da rede caiu 35% – ela vale hoje quase R$ 2 bilhões. Quando abriu capital, há quase um ano e meio, a empresa – uma “corporation” com capital pulverizado – valia R$ 2,3 bilhões. Os seus principais sócios são a Genesis Investment Management, as gestoras Safra, Bradesco e Itaú Unibanco.
Segundo o CEO, até junho é possível definir esse plano de inaugurações. “No primeiro trimestre já dá para ter sensibilidade maior para ver se vamos mais para as 70 aberturas ou para as 85. E na metade do ano que vem, teremos clareza maior para definirmos o plano de 2023”, disse. Mesmo que o varejo perca mais fôlego em 2022, a varejista deve manter as 70 aberturas – 50 lojas já estão contratadas.
“Com o varejo desacelerando, pelo lado positivo há a chance de ver como nossas lojas já abertas podem entregar resultados. Abrimos 170 [pontos] nos últimos três anos e parte delas estão amadurecendo”. A rede tem 450 unidades (RS, PR, MS e SC).
Furukawa, que mora em Porto Alegre, cidade próxima de Cachoeirinha (RS), sede da companhia, passou a vir mais para São Paulo com o plano de entrada na região. Nas últimas viagens, disse que tem chamado a sua atenção os sinais de piora das condições de vida da população. “Você vê uma quantidade maior de pessoas nas ruas, e são pessoas que estão sem poder pagar aluguel, sem renda, saindo do mercado de consumo”.
A entrada em São Paulo começa por cidades menores, com até 100 mil habitantes – seguindo o foco de atuação da empresa no Sul – e que reúne competidores de menor porte, a maioria regionais. A primeira inauguração, no dia 30 de novembro, foi em Oswaldo Cruz, na região Oeste do Estado – mais três lojas estão sendo negociadas em locais perto do município nos próximos meses. A empresa não informa o valor do investimento.
Dos 50 pontos já contratados, 15 são no Estado de São Paulo.
Pelos últimos números da empresa, de janeiro a setembro, a venda do braço de varejo avançou 32%, e no terceiro trimestre a alta foi de 12% – no quarto trimestre de 2020, a empresa crescia mais, 39%. O lucro líquido no ano, até setembro, avançou 31% sobre 2020. “É natural desacelerar, a base de 2020 no setor é forte. O ponto é que o mercado vem caindo e nós crescendo em 2021, logo, ganhando ‘share’ [participação”, disse o CEO.
Fonte: Valor Econômico