A companhia está apostando na sua “Loja Infinita”, uma mistura das vendas físicas com as digitais, para poder ganhar mais escala mesmo em cidades menores
Por André Jankavski
A Lojas Quero-Quero atua naquelas cidades que as grandes não estão tão interessadas. Em vez de partir para a expansão em capitais ou nos municípios mais populosos, a varejista especializada em vendas de materiais de construções está de olho nas cidades com cerca de 25 mil habitantes na região Sul do Brasil. Porém, ao mesmo tempo em que a companhia atende clientes que outras varejistas ignoram, não é viável a construção de megalojas com um portfólio de produtos tão grande. Por isso, a companhia está apostando na sua “Loja Infinita”, uma mistura das vendas físicas com as digitais, para poder ganhar mais escala mesmo em cidades menores.
Segundo Peter Furukawa, presidente da Lojas Quero-Quero, apesar da Loja Infinita estar disponível dentro do site, a ideia é que o negócio escale mesmo dentro das lojas. “Queremos trazer a experiência ‘figital’ (física e digital). Quando um cliente está na loja infinita com um vendedor e o cliente gosta de um produto, é possível fazer uma ligação para algum funcionário que está no espaço para que ele dê todos os detalhes ao comprador”, diz Furukawa. Até agora, o negócio consumiu R$ 10 milhões de investimento.
Para o presidente, esse negócio será fundamental para que as vendas pela internet da companhia continuem a crescer. No ano passado, a Quero-Quero encerrou o ano com uma participação de 17% do e-commerce nas vendas. “Já temos um volume significativo, ainda mais em um setor em que as pessoas querem ter muito ter contato com um produto. É muito difícil alguém comprar um piso, por exemplo, sem querer vê-lo pessoalmente”, afirma o executivo.
Mercado complicado
Com isso, a ideia da companhia é conseguir ganhar mercado em um momento complicado para o setor. Se as vendas de materiais de construção dispararam no início e no meio da pandemia com as pessoas em casa, agora a situação está sendo diferente. Afinal, com a taxa básica de juros se encaminhando para ultrapassar os 13%, segundo diversos especialistas, as pessoas ficam mais reticentes em criar mais gastos.
Não à toa, a Quero-Quero sentiu esse momento conturbado no preço de suas ações. A companhia, que abriu capital em agosto de 2020, chegou a dobrar o seu valor de mercado em um ano. De lá para cá, os papéis caíram quase 70%. “Antes, eu brincava que estávamos correndo no autódromo de Interlagos, mas com uma chuva atrapalhando. Agora, porém, estamos no meio da terra como se fosse um rally Paris-Dakar”, diz Furukawa.
Apesar do momento complicado, a companhia apresentou um crescimento de 25,4% na sua receita bruta em 2021, a R$ 2,5 bilhões. Ao mesmo tempo, fez investimentos de R$ 85 milhões tanto em novos centros de distribuição quanto na expansão para regiões fora do Sul pela primeira vez: a ideia é crescer em estados como o Mato Grosso do Sul e em cidades do interior de São Paulo. A meta é abrir 70 lojas até dezembro, mesmo número de 2021.
Segundo relatório recente feito por analistas do Bank of America, há bastante espaço para expansão da Quero-Quero tanto em outros mercados quanto nas cidades em que ela está presente. O banco estima que a varejista tem 5,4% de participação nos mercados em que atua, logo há um espaço para triplicar as vendas em um médio prazo. Para completar, os analistas acreditam que a loja infinita, por ter margens mais altas e despesas mais baixas, podem trazer um alto ganho para as ações.
“Se a Quero-Quero aumentar as vendas entre 25 e 30% em um período de quatro anos, sugerimos que o valor incremental poderia exceder o valor de mercado atual da empresa”, escreveram Robert E. Ford. Aguilar, Melissa Byun e Guilherme Vilela.
Porém, no curto prazo, a questão ainda deve complicar para a empresa. Para Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável Blackbird, apesar da companhia ter um plano sólido de expansão e espaço para crescer, a pressão inflacionária no curto prazo deve afetar os números do início de 2022. “Mesmo se a empresa repassar parte do aumento dos custos, as margens dela devem ser afetadas”, diz Harada.
Fonte: MSN