Por Leandro Luize
A cesta do varejo farmacêutico anda bem cheia, mas ainda mal distribuída. Apesar da resiliência dos PDVs regionais e independentes e mesmo com recorde de novas lojas por todo o país, quatro estados brasileiros concentraram mais da metade do faturamento do setor em 2022, que totalizou R$ 184,2 bilhões.
Juntos, São Paulo (25,1%), Minas Gerais (10,7%), Rio de Janeiro (10,1%) e Rio Grande do Sul (7,2%) responderam por 53,1% da receita das farmácias, segundo indicadores da IQVIA. Se a amostra da análise for ampliada para mais quatro estados – Paraná, Bahia, Santa Catarina e Goiás – a concentração chega a 72%.
Faturamento do varejo farmacêutico por estado (em share %)
Considerando o extrato por região, o Sudeste acumulou faturamento de R$ 88,4 bilhões e representa 48% do mercado. Em comum, os quatro estados locais têm a fatia majoritária da receita no interior. Em Minas Gerais, um dos polos do associativismo, esse percentual chega a 80,3%, enquanto atinge 66,7% em São Paulo.
Para Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, esse cenário acompanha o movimento do varejo nacional, em que cerca de 200 municípios detêm 80% do consumo. “A tendência é que as grandes redes foquem seus esforços nessas cidades, o que ajuda a explicar a concentração de mercado”, avalia. Em paralelo, as farmácias associativistas surgem como contraponto, mas também miram regiões do interior do Sudeste para marcar posição.
Receita do varejo farmacêutico por região (em R$ bilhões)
Regiões que mais impulsionam o varejo farmacêutico
Apesar do domínio do Sudeste, são as regiões Sul e Norte que lideram o crescimento, com médias em torno de 19%. “São localidades muito marcadas pela existência de lojas de bairro, que ganharam relevância no período da pandemia. Além disso, as redes do Sul ganharam mais fôlego ao modernizar rapidamente os canais digitais e encontrar um público consumidor disposto a abraçar as compras online”, avalia Paulo Paiva, vice-presidente da Close-Up International.
Já o Norte do país apresenta incremento acima de 20% e também puxa o crescimento das farmácias no Brasil. O potencial dos sete estados da região vem despertando o olhar de grandes redes. Há dois anos, a RD – RaiaDrogasil fincou bandeira nas capitais Boa Vista (RR), Macapá (AP) e Rio Branco (AC), o que marcou a chegada da companhia a 100% das unidades da Federação. Mas é o DNA local que vem fazendo a diferença.
Embora ainda representem 43% do faturamento do canal farma regional, as redes vêm perdendo share desde 2017, quando ostentavam representatividade de 52%. Um sinal claro da dificuldade que grandes grupos encontram para fixar suas marcas no Norte do país. O Grupo Tapajós, no entanto, vem sendo uma exceção, e superou o primeiro bilhão de faturamento em 2021.