Aluno vira consumidor e consumidor vira aluno no recém-inaugurado campus da Belas Artes no shopping Cidade Jardim, uma âncora que rejuvenesceu e transformou a expansão do centro de compras
Por Angela Klinke
Entrar por um túnel de led de 40 metros com esteiras rolantes e seguir pelos corredores de vitrines de grifes internacionais como Hermés, Louis Vuitton, Gucci, Valentino, antes de se acomodar na aula de design de moda.
Ou fazer uma refeição nos restaurantes de pop-chefs como Paola Carosella ou Henrique Fogaça para avaliar técnicas de preparo no intervalo do curso de gastronomia. Os alunos do centro universitário Belas Artes começaram na última segunda-feira (14) o ano letivo no recém-inaugurado e inusitado campus dentro do shopping Cidade Jardim, em São Paulo.
“É uma experiência imersiva entre varejo e educação. Com várias marcas nacionais e internacionais de economia criativa lado a lado de docentes e discentes, onde os resultados de inovação acadêmica e pedagógica ainda estão para ser descobertos”, diz Patrícia Cardim, diretora geral da instituição.
O investimento na nova unidade foi de R$ 15 milhões numa área de 3,2 mil m² inserida no terceiro piso, que terá capacidade para atender até 2,5 mil alunos presenciais entre graduação, pós-graduação e cursos livres. Nesta primeira fase, com os cursos oferecidos, a Belas Artes começou o semestre com 500 alunos matriculados, sendo 300 na graduação.
A meta até o fim do ano fim do ano é de 800 inscritos. O tíquete médio dos cursos de graduação é de R$ 2,5 mil e custa 20% mais que em outros endereços da instituição como a unidade da Vila Mariana, por exemplo.
Para o grupo JHSF, dono do shopping Cidade Jardim, trazer a Belas Artes foi uma forma de despertar um público jovem que não frequentava o lugar hoje focado em famílias. “Enxergamos que aonde poderíamos ir melhor que a concorrência seria atraindo jovens adultos”, disse Walter Borghi, COO da JHSF Malls.
“A Belas Artes é uma instituição de nicho e alinhada com o perfil do shopping e veio nesse contexto de mudar o comportamento, um movimento que não teria tanto impacto se tivéssemos optado por agregar mais uma marca, por exemplo. Essa chegada nos muda de patamar, de ser destino para um cliente diferente. Além disso, cria um fluxo, uma dinâmica que é diária.”
Com uma frequência em torno de dez mil pessoas por dia, o Cidade Jardim espera contar com um incremento de 15% com os universitários da instituição. Para atender o novo público, o shopping passou abrir desde as 7h da manhã e está “provocando” as operações de alimentação para que também façam o mesmo. A cafeteria Santo Grão já começou a atender neste horário.
A Belas Artes estabeleceu uma conexão de vans entre a estação da CPTM mais próxima (estação Cidade Jardim) e o shopping para facilitar o acesso para quem usa transporte público. Os estudantes entram pelo novo prédio de estacionamento, que foi construído para liberar espaço para a nova expansão do shopping, e cruzam túnel até chegar ao centro de compras.
A vinda da instituição de ensino, por sinal, também teve impacto na reconfiguração dessa expansão, uma área de 10 mil m² – uma conversão de área de estacionamento em lojas – que a princípio foi pensada para oferecer experiências e um mix para o público infantil.
“Como a Belas Artes, além de moda e gastronomia, é reconhecida pela arquitetura e o design de interiores, mudamos o perfil da expansão com operações nesta área de mobiliário e design. Ela é uma âncora e se tornou um polo de atração gerando uma demanda no mercado.”
O espaço que será inaugurado em julho terá lojas já confirmadas de mobiliário e design como Artefacto, Jader Almeida, Natuzzi, Estudio Bola; artigos para casa como Camicado, UD House; tecidos de decoração como Quaker; acessórios de banheiro como Vallvé; revestimentos como Palimanan e até paisagismo, com vasos vietnamitas da Organne.
Um portfólio entre o shopping D&D, que fica próximo, na outra margem do rio Pinheiros, e a alameda Gabriel Monteiro da Silva, o corredor de design e decoração da cidade.
Com esse mix, a expectativa é atender as torres residenciais e comerciais do complexo do shopping. Além disso, quem comprar imóveis ou terrenos da incorporadora como dos residenciais da Fazenda Boa Vista, por exemplo, “poderá fazer seus projetos de decoração tudo num mesmo lugar”. Num futuro próximo, está no radar do shopping abrigar eventos de grande porte nesta área como a Casa Cor, por exemplo.
Expansão da Belas Artes
Na contramão do mercado universitário que perdeu estudantes desde a pandemia, a “Belas Artes registrou um crescimento na captação de alunos de 108% em 2020 em relação a 2019 e de 25% entre 2020 e o ano passado”, afirma Rodrigo Irineu de Souza, diretor de novos negócios da Belas Artes.
“Um dos fatores foi o aumento da oferta de cursos EAD. Nessa área, temos tíquete médio de R$550 que atraiu o público qualificado de outras instituições que praticavam este valor no presencial.” Seu resultado vem 90% da graduação e 10% da pós e cursos livres.
Além disso, a faculdade também teria feito um esforço extra para evitar a evasão, que segundo ele, ficou em torno de 10%. Hoje, a Belas Artes tem seis mil alunos nos campus da Vila Mariana, Cidade Jardim e Votorantim, cidade do interior de São Paulo.
No segundo semestre serão inauguradas mais duas unidades, uma no bairro do Paraíso, na capital, e outra em Sorocaba, no interior de São Paulo. Com o campus do shopping, o investimento em expansão totaliza R$65 milhões.
No shopping Cidade Jardim, a Bela Artes investiu numa unidade conceito, com vários recursos tecnológicos para um novo modelo de sala de aula na “realidade figital”. São 16 salas equipadas com wi-fi 6 e lousas digitais interativas. As câmeras (instaladas no teto) gravam em 360 graus e acompanham os movimentos do professor.
“Assim, podemos montar uma grade que combina aulas presencias e a distância, síncronas e assíncronas”, explica Souza. Há laboratórios de game, costura e sala de gastronomia com 13 bancadas para as aulas práticas.
A instituição montou uma grade que “conversa com o varejo” com bacharelados em moda, design e marketing e cursos para tecnólogos, de dois anos, em gastronomia, design de joias e design moveleiro. “Com essa oferta, queremos atrair os alunos diversas escolas tradicionais na região para nossa graduação, atender quem trabalha no shopping e captar estudantes para os cursos de pós e cursos livres nas torres comerciais e residenciais do complexo do shopping.”
Dentro deste universo, a Belas Artes tem forte concorrência na região com a Anhembi Morumbi e Senac, com tradição em moda e gastronomia. Além disso, é sempre complexo convencer os pais da viabilidade de carreiras em economia criativa. “Há anos fazemos esse trabalho para mostrar o mercado potencial de profissões não tradicionais. Por isso, todas estas graduações têm uma base de empreendedorismo muito forte.”
Com a estrutura física, a faculdade vai organizar workshops para o público em geral nos gaps de aula, como os períodos da tarde, e nos fins de semana, uma forma otimizar a estrutura física, gerar networking e integração com os frequentadores do shopping. “Vamos ter workshops de gastronomia, clubes de vinho e de leitura, sempre capitaneados por docentes da faculdade.”
A presença dentro do shopping já está gerando sinergia com os próprios lojistas. A faculdade, em parceria com Ri Happy e a PB Kids, por exemplo, vai promover as aulas de arte e tecnologia para as crianças. “Este foi um projeto que fizemos por meio de nossa startup, a ArtBee, que já atende escolas com este conteúdo. Estamos também estudando projetos com a Artefacto e a Camicado.”
Fonte: Neofeed